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domingo, 30 de dezembro de 2018

O tratamento não é só sobre você



Oi gente, tudo bem?
Bom, hoje quero comentar um pouco sobre o novo tratamento do Jota e como eu me sinto com isso. Para quem não sabe, o Jota tem EM primária progressiva. Isso quer dizer que até basicamente ontem não tinha tratamento pra ele. Ele chegou a testar os remédios indicados para outros tipos de EM, sem sucesso.
Em fevereiro desse ano o Ocrevus foi aprovado no Brasil, em maio ganhou preço e foi aí que entramos com uma ação judicial para ter o remédio. Esperamos que logo ele seja disponibilizado pelo SUS, mas como a EM do Jota já está num estágio avançado demais até  mesmo para esse medicamento, resolvemos começar o mais rápido que desse.
Estamos gravando vídeos para contar sobre com tem sido as reações e vocês podem conferir no Youtube. Porque aqui eu quero escrever sobre outros aspectos, que não falamos lá.
Em poucos dias vimos algumas diferenças, como uma mobilidade melhor do braço. Se é real ou efeito placebo, não sei, só sei que chorei de alegria quando consegui abrir o braço esquerdo dele na hora do banho. Só eu sei a força que era necessária para lavar em baixo do braço. Fora isso, o medicamento parece ter dado um novo fôlego pra gente.
Como a maioria de vocês sabem, o Jota está dependente fisicamente pra tudo, usa cadeira de rodas motorizada para se locomover, ou seja, a deficiência física está num estágio bem avançado. E, ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, deficiência na vida real não é que nem as de novela, que a pessoa adquire, “aprende alguma lição com ela” e aí se cura.
A gente até já falou pro universo que aprendemos bastante com a deficiência dele e que ok, ele pode voltar a ter uma mobilidade melhor já que já aprendeu a reclamar menos, a entender que na vida nada é garantido, a aproveitar um dia de cada vez, que tudo bem pedir ajuda, que a vida pode ser feliz sendo diferente daquilo que se tinha imaginado, que tudo é adaptável e outros inúmeros aprendizados. Mas, pasmem, não é assim que funciona. A deficiência continua ali.
Então, ter um tratamento possível, mesmo que seja para que não haja mais perdas funcionais, é algo bem importante. A saúde mental e emocional melhoram quando o nível de esperança aumenta. Nesse sentido, esse tratamento tem sido um gás pra gente.
E eu digo pra gente porque eu sei que o diagnóstico, a vivência da doença não é algo que se passa sozinho. Por mais que a dor, os sintomas, os medos sejam muito mais nossos, de quem tem a doença na pele, nossas famílias sentem tanto quanto, senão mais, o que é ter a doença. E aí eu e o Jota tivemos um pequeno desentendimento antes da segunda dose do remédio, semana passada.
Era pra ele fazer a medicação 15 dias depois da primeira. Passou 14 dias, o hospital não tinha leito. 15, e não tinha leito. Quando chegou no 16, estávamos às vésperas do aniversário do Francisco, o pai do Jota ia chegar pra visitar e ele disse: vou ver com a médica se tudo bem atrasar mais e eu fazer semana que vem, porque se o hospital me chamar só amanhã EU NÃO VOU!
Eu perguntei: como assim não vai? E ele, enfático: NÃO VOU!
Aquilo bateu em mim com a força de um soco no estômago e um rasgo no coração. Na hora eu não quis discutir. Tinha pessoas demais em volta. Mas depois eu falei pra ele, que esse tratamento não era só pra ele. Que as coisas, afinal de contas, não eram somente sobre o que ele desejava. Eu sei quantas festas de família, férias, viagens etc. deixei de fazer por conta de tratamento. Tudo porque o tratamento, cuidar de mim, não é só sobre mim. É sobre todos que me amam, me acompanham e estão comigo nessa jornada. E apesar de ser tentador essa atitude egoísta de dizer “é a minha vida, eu que decido”, bem, pode até ser, se você quiser realmente passar por tudo isso sozinho.
Foi tenso, foi difícil, foi doloroso falar sobre isso. Acabamos concordando que sim, ele faria no dia que fosse. E acabou que foi na manhã do dia seguinte e deu tudo certo.
Tudo isso pra dizer que talvez, eu, como esposa, cuidadora, amiga, seja um pouco egoísta querendo que ele pense em mim, no Francisco, em todos nós quando pensa no tratamento. Talvez ele tenha sido egoísta ao não querer fazer algo de um jeito diferente do que tinha sido planejado e decidido isso sozinho. Talvez eu tenha sido exigente demais. Talvez ele não tenha medido as consequências e responsabilidades direito. Fato é que, assim como ele fez parte da decisão da amamentação e da volta do meu tratamento, porque a minha vida e meu cuidado não dizem respeito só a mim; é importante pra mim que ele entenda que o tratamento dele não é só sobre ele. Claro que no fim das contas a gente pode fazer apenas o que quer e ponto final, mas isso pode acabar minando relações e acabando com nossas redes de cuidados.
E isso de falar que “nem tudo é só sobre você” é uma forma de dizer que não, você não é o centro do universo, mas também de dizer que sim, você é muito importante para mim nesse universo.
Até mais
 Bjs


Em tempo: depois de escrever esse texto me caiu nas mãos um exemplar do Pequeno Príncipe... e por mais irritante que possa parecer essa afirmação, ela está correta: tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas!

Em tempo 2: olha nosso vídeo sobre a segunda dose do Ocrevus e não perca nenhum vídeo nosso no Youtube se inscrevendo no canal:

sexta-feira, 12 de setembro de 2014

E quando falta um remédio???


Oi gentes, tudo bem com vocês?
Tem um assunto que vem me incomodando há alguns dias: a falta do medicamento Lioresal (Baclofeno) no mercado. Nos dois últimos meses estava difícil de achar, mas agora não está mais difícil, virou missão impossível. Aqui em Porto Alegre já vimos em todas as redes de farmácia e nada. O problema é que o estoque tá acabando e aí o que se faz com a espasticidade que não passa? Atualmente eu não estou tomando (já tomei), mas o Jota toma e estamos na busca de caixas porque tá faltando.
Primeiro achei que era uma incompetência nossa em encontrar. Depois comecei a receber emails do Brasil inteiro perguntando se eu sabia onde conseguir porque estava faltando. Aí eu pensei, tem alguma coisa errada nisso.
Eu já estava #chatiada porque o Lioresal era um dos poucos medicamentos de uso contínuo do laboratório Novartis que não tem desconto no Vale Mais Saúde (programa de descontos do laboratório). Digo isso porque aqui em casa boa parte da renda vai em remédios. Qualquer desconto é bem vindo. Porque, infelizmente, não são todos os remédios que são distribuídos pelo SUS. E aqui em casa a gente tem essa irritante mania de precisar de remédios caros não distribuídos nos postos  :P
Bom, mas como eu precisava de uma resposta e muitos leitores aqui do blog, também em desespero pela falta da medicação (que faz uma diferença tremenda em quem tem espasticidade... e tá faltando até o genérico nas farmácias), eu escrevi à Novartis pedindo um posicionamento, afinal, é a nossa saúde que está em jogo.
Bem, vamos à resposta e depois aos comentários:

Prezada Bruna,
A Novartis esclarece que, em decorrência de um atraso em processos logísticos de produção, o produto Lioresal® está enfrentando um período temporário de desabastecimento em todas as regiões do Brasil, incluindo a região Sul.
A empresa está tomando todas as providências que estão ao seu alcance para regularizar a comercialização deste medicamento o mais rápido possível, pois sabemos da importância deles para a continuidade no tratamento dos pacientes. A expectativa é retomar a liberação de novos lotes no início de outubro de 2014 para todo o mercado nacional. 
É importante ressaltar que, a partir da liberação dos lotes, a logística de chegada ao ponto de venda final depende da administração de cada distribuidor e loja. Dessa forma, a Novartis não tem como fornecer uma data precisa da disponibilidade para compra.
 Como uma ferramenta de apoio no acompanhamento do abastecimento das redes de farmácias de todo país, os pacientes em uso de Lioresal® podem acessar o Portal Novartis Em Casa (pelo endereço de link: www.emcasa.novartis.com.br), que direcionará a busca para as grandes redes onde é possível verificar a disponibilidade desse e outros produtos da empresa para compra online.
 Vale destacar que, durante o período de desabastecimento, os pacientes e cuidadores devem sempre ser orientados a procurarem seus médicos para avaliação da continuidade do tratamento com as demais opções disponíveis no mercado. 
Quanto ao Vale Mais Saúde, trata-se de um programa de adesão ao tratamento da Novartis que visa auxiliar pacientes de diversas doenças crônicas a seguirem as recomendações médicas relacionadas ao tratamento medicamentoso e comportamental, com base em conteúdos educacionais aos pacientes com informações sobre suas doenças e também desconto na compra dos medicamentos.
 Sua estrutura é constantemente revisada de forma a aumentar o acesso aos medicamentos da empresa, levando em consideração a cronicidade da doença e a viabilidade comercial de sua inclusão. O Lioresal®, entre outros tratamentos, está neste momento passando por um estudo de avaliação de inclusão no programa.
 Ficamos a disposição para esclarecer qualquer um desses pontos e em caso de outras dúvidas sobre o tratamento, orientamos os pacientes e cuidadores a procurarem seus médicos. Para demais informações, a empresa disponibiliza o Serviço de Informações ao Cliente (SIC) no telefone 0800 888 3003 ou e-mail sic.novartis@novartis.com.

Bom, eu não sei qual foi o processo logístico de produção que fez com que o remédio faltasse por tanto tempo. Só sei que é surpreendente uma coisa dessas acontecer. Entendo que as pessoas errem, mas errar com remédios essenciais é complicado de se aceitar. 
E isso não é "privilégio" da Novartis e do Lioresal, porque sempre tem algum remédio faltando no mercado por problemas logísticos de produção. E aí, a gente, que precisa da medicação, fica a ver navios... no caso, com a musculatura rígida e dolorida porque a espasticidade volta quando a gente deixa de tomar um comprimido no dia... e a gente bem sabe que quem tem espasticidade toma beeem mais que um por dia. Como deixar faltar a medicação por um dia inteiro? Uma semana?
Achei legal eles nos darem a solução do site que pode rastrear farmácias que tenham em estoque. É uma solução emergencial. Mas quando se trata de doenças, a gente não pode viver de apagar incêndios. A falta da medicação é um problema sério. E o estresse que dá a iminência da falta piora os sintomas também.
Agradeço à Novartis e sua equipe que responderam prontamente a minha solicitação e nos deram uma solução para o momento. 
De toda forma, peço encarecidamente a todos os laboratórios que não deixem isso acontecer. Vocês estão lidando com doenças, dores e sofrimentos. Deixar faltar a medicação é aumentar um sofrimento que já existe. E, convenhamos, é criar um sofrimento desnecessário. 
Pessoal, todo mundo acionando o Portal Novartis Em Casa pra não deixar faltar, ok?
Bom final de semana!
Bjs

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Só notícia boa!!!


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Essa semana foi cheinha de coisas legais pra ver, ler, ouvir sobre EM.
Primeiro, vamos a notícia super esperada por todos nós:
O Fingolimode foi aprovado para ser distribuído pelo SUS minha gente!!!!
Lembram da consulta pública que eu falei por aqui? (http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com.br/2014/04/consulta-publica-fingolimode.html).
Então, fazer barulho, recolher assinaturas, deu resultado: agora quem tem receitado o fingolimode pode ter o tratamento via SUS sem ter que entrar na justiça!!!
Grande vitória!!!
Se você ainda não conhece o Fingolimode, eu fiz uma entrevista, no ano passado, com o Dr. Otávio Soares, Gerente Médico de Neurociências - Divisão Farmacêutica da Novartis Brasil pra tirar as minhas dúvidas pessoais sobre o uso dessa medicação oral. Confere aí:

http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com.br/2013/07/e-medicacao-oral.html

Outras duas coisas legais que saíram nessa semana e que eu aconselho ler e ver:
1. Primeiro uma matéria da revista Veja (quem diria!), sobre o uso de altas doses de vitamina D. Como eu já compartilhei no facebook, nela os médicos especialistas em esclerose múltipla repetem as frases que eu falo há anos, desde que a suposta cura desse tratamento começou a ser moda:
"não é possível basear condutas médicas em especulações"
"Ele nunca publicou uma pesquisa sobre esse tema e não tem nenhuma em andamento."
"Um tratamento que não tem comprovação científica só deve ser aplicado em um contexto de pesquisa"
" existem casos em que a condição é pouco agressiva e fases em que ela deixa de evoluir.
Esse é um dos motivos, segundo os médicos, que levam pacientes a acreditar no tratamento com vitamina D. "As doenças autoimunes são muito heterogêneas, entram em atividade ou param de agir de repente. Então o paciente pode atribuir à vitamina D uma característica que é da evolução natural da enfermidade"
"Por que com todos os medicamentos seguimos rígidos protocolos e com a vitamina D há esse uso irresponsável?" 
Como eu já disse e volto a repetir, acho que cada um escolhe o que faz com seu corpo, e a minha escolha é usar o tratamento convencional com interferon. E eu me sinto muito bem com ele. E não quero evangelizar ninguém a usar um ou outro tratamento. Mas essa matéria traz todos os meus principais argumentos de porque eu não vou atrás dessa terapia. Vale a pena a leitura e a reflexão:


http://veja.abril.com.br/noticia/saude/medicos-questionam-tratamento-de-esclerose-multipla-a-base-de-vitamina-d

Ainda sobre essa discussão, um debate muito bom na tv cultura com o Dr. Cícero (que prescreve o tratamento de vitamina D) e o Dr. Denis, que é pesquisador da Unifesp, especialista em EM e atende no ambulatório de neurologia do Hospital São Paulo: 

http://tvcultura.cmais.com.br/jcdebate/videos/jc-debate-sobre-esclerose-multipla-30-06-2014

E mais uma boa notícia, minha defesa tá confirmada e já tem até cartazinho:


(Quem quiser ir ver, vou adorar. Apoio moral -e pitacos - é sempre bom!)

Ah, uma explicação pros amigos menos familiarizados com essa loucura de vida acadêmica: eu ainda não vou ser doutora. É que no doutorado, antes da entrega final da tese, a gente passa por uma banca de qualificação, onde os professores avaliam o trabalho, dizem se aprovam e, caso aprovem, dão uma ajuda em que caminho devemos tomar. Aqui na UFRGS a gente faz essa banca de qualificação na metade do curso. Ou seja, em julho de 2016 eu espero estar postando aqui o cartazinho da defesa final.
Em tempo 1: estou apaixonada pelo meu trabalho!!!
Em tempo 2: descobri um vazamento na minha linda casinha nova. Ainda bem que foi antes de começar a reforma do banheiro. De toda forma, já vou avisando: reforma não é coisa pra esclerosado. Escrevo mais sobre isso depois de tudo pronto, porque acho que vai ter mais coisas até o final do mês...hehehe.
Em tempo 3: #tacalepauseleçãobrasileira

Até mais!
Bjs

terça-feira, 8 de abril de 2014

Consulta Pública Fingolimode


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Hoje eu divulgo sobre uma consulta pública que está rolando e que todos devem assinar. É a consulta pública para que o Fingolimode, uma medicação para EM seja aprovada pelo SUS, porque a Anvisa permite a venda dele no Brasil mas o custo, para o paciente, é exorbitante. Assim, queremos que ele seja distribuído pela farmácia de alto custo dos estados sem que as pessoas precisem ir atrás de um advogado e entrar com ação judicial para conseguir uma coisa que é seu direito: saúde.
Mesmo quem não toma ou não pretende nunca tomar essa medicação, assine! Porque é por todos nós que fazemos isso. Porque amanhã ou depois teremos novas medicações pra EM e queremos que elas entrem nesse rol também. Quanto maior o leque de opções, melhor para todos nós. Quanto mais pessoas com esclerose múltipla tiverem um tratamento adequado, melhor para todos nós.
Logo teremos consulta pública para Fampyra, para Aubagio, para Lemtrada (que são os remédios aprovados em 2014) e quem sabe, daqui a pouco entre o Tecfidera, o Sativex e outros tantos que ajudam não só a fazer a doença ficar quietinha, mas a diminuir os sintomas que nos incomodam no dia a dia também. Recebi esse press release da MOPEM e repasso ele aqui em partes.
Só tenho um adendo a fazer em referência ao que todos estão dizendo sobre essa consulta pública. Porque as pessoas estão dizendo "por um tratamento via oral". E na verdade é pelo fingolimode, porque se fosse pelo tratamento via oral para a EM, teríamos que incluir aí mais dois remédios, o Aubagio e o Tecfidera. Que fique claro que não são todos os tratamentos via oral que estão sendo colocados nessa consulta pública (o que eu, pessoalmente, acho ruim, porque já que estamos fazendo uma campanha, que fizéssemos para a inclusão de todos via oral duma vez só... senão vamos ficar aquelas pessoas que pedem assinaturas para consultas públicas todos os dias e, daqui a pouco, o povo nem lê mais o que a gente envia. Mas não fui eu que movi isso, só passo adiante porque, mesmo sendo para apenas uma medicação, é muitíssimo importante):


De 8 a 28 de abril o cidadão comum poderá opinar a respeito da incorporação; aprovado pela ANVISA há três anos, o medicamento ainda não faz parte da lista do SUS

Há anos, ONGs e associações da classe lutam pela incorporação na lista do SUS de um tratamento oral para Esclerose Múltipla, distúrbio neurológico que atinge 35 mil pessoas no Brasil e 2,5 milhões no mundo. O principal objetivo é melhorar a qualidade de vida de quem possui a doença e dar a elas mais opções terapêuticas. Atualmente, a medicação utilizada pelo Sistema Público de Saúde é injetável. No entanto, pacientes relatam muitos efeitos colaterais e dificuldade na administração das doses. Porém há alternativas a esse tratamento. É o caso do Fingolimode. O medicamento foi aprovado pela ANVISA em 2011. Desde então, está disponível no mercado de duas formas: ou o paciente arca com as despesas ou precisa recorrer à Justiça. A CONITEC, órgão responsável pela incorporação de novas tecnologias no SUS, está avaliando já há anos a inclusão do Fingolimode. Após deliberação, ficou decidido que a decisão passará por consulta pública.


Como participar da Consulta Pública e votar pela Incorporação do Medicamento:

De 08 a 28 de abril, o cidadão poderá dar sua opinião a respeito da incorporação do Fingolimode pelo SUS. Serão vinte dias corridos para que o governo saiba o que a sociedade pensa a respeito do assunto. Qualquer um pode participar. O mecanismo é importante para que os órgãos responsáveis possam tomar decisões mais democráticas e transparentes. Todas as contribuições serão analisadas. Se o comentário for pertinente, poderá integrar o documento relacionado à decisão. As pessoas interessadas em participar precisam entrar no Portal do Ministério da Saúde/Consultas públicas. O formulário é autoexplicativo. A única exigência é que a pessoa se cadastre antes no portal. O cadastro é rápido e pode ser feito no link http://migre.me/iG4sA. A consulta pública do Fingolimode pode ser acessada em http://migre.me/iG4qA.

Entrem no site, assinem e compartilhem essa consulta pública. É importante! É pra todos nós!
Até mais!
Bjs

sábado, 1 de junho de 2013

Colocando a família na jogada


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Eu tô muito puta com esse dia cinza, chuvoso e frio que tá fazendo aqui. Não só porque é difícil caminhar na rua com guarda-chuva e pé molhado, mas porque me dói. Incrível o que esse clima faz: se eu fico sentada dói a bunda, se eu deito dói a perna, se eu viro de lado dói o braço e se eu fico de pé dói o abdômen. Dá uma vontade de fazer nada. Mas eu não sou muito talentosa em fazer nada. E o inverno nem começou...
Falando em começar, tá começando o mês de junho. Meu aniversário é só no dia 18, mas já tô aceitando presentes, viu?
Brincadeiras a parte, o assunto que eu gostaria de falar hoje é sério: família e EM.
No Encontro da Agapem, do sábado passado a psicóloga Maureen, que já fez um trabalho com familiares de pessoas com EM nos disse que é muito difícil para os familiares aceitarem a doença.
Eu vi que algumas pessoas ficaram apavoradas com essa informação. Porque pra quem tem apoio da família, incondicional, desde o início, parece impensável que a família de alguém não aceite a doença.
Eu, particularmente, não me assustei não. Toda semana eu recebo emails de pessoas dizendo que seus parentes não aceitam que elas estão com uma doença.
Porque assim, uma coisa é a família não entender direito. Isso tudo bem, porque, sejamos sinceros, nem a gente entendia muito bem o que é a EM até ter ela na vida né. E entender como viver com a EM é algo que a gente vai aprendendo no convívio mesmo.
Outra coisa é não aceitar. É negar que a pessoa esteja com uma doença. Pior, negar que ela esteja sofrendo, precisando de apoio, ajuda e mudanças na vida. Aí a pessoa acaba tendo dois sofrimentos: por ter o diagnóstico e por não ter a compreensão das pessoas que estão em volta.
Eu entendo que seja difícil de entender o que nós passamos, sentimos, etc. Porque nossos familiares olham pra gente e não veem a doença. Porque ela não aparece. E como somos jovens, lindos e cheirosos, fica difícil de acreditar quando a gente pede ajuda pra sair do sofá porque não consegue se levantar sozinho.
Quem ama acredita. #prontofalei
Eu não acho que a EM deva ser o centro da vida da pessoa ou da família. Mas não dá pra subestimar o que ela faz nas nossas vidas. Não dá pra negar a existência delas. Eu fico cho-ca-da com algumas mensagens de pessoas que estão sofrendo dobrado porque a família nega a existência da doença.
Pra vocês terem uma ideia, uma menina me disse que tava pensando em se matar, porque ela sentia todos os sintomas da EM, tinha o diagnóstico e a mãe dela dizia que era frescura dela, ela que levantasse a bunda do sofá e fosse arrumar um emprego que o problema dela era falta de serviço. Gente, ela queria se matar. Imagina a carga de sofrimento dessa pessoa. Eu fico com o coração apertado quando alguém me diz isso. Porque as pessoas que deveriam ajudar acabam prejudicando.
É por isso que eu digo que a EM é uma doença que afeta toda a família. E toda a família tem que se tratar. O remédio pra EM é só a pessoa que tem EM que vai tomar. Mas esse trabalho psicológico de aceitação da doença e das mudanças que ela exige, isso é pra toda família. Porque se a família não estiver com a pessoa na hora do aperto, quem é que vai estar?
É por conta disso que muitos maridos e esposas somem junto com o diagnóstico de EM. Porque acham que a EM não é uma "carga" deles. Já que eles não tem a doença, não precisam passar por isso. Eu, sinceramente, acho que isso é coisa de gente sem amor e sem caráter. E gente assim merece um belo e sonoro "vai tomar no c*". Desculpa gente, mas não tem outra coisa pra dizer. Ah não, tem sim: já vai tarde...
A verdade é que, quando a gente tem um diagnóstico desses, a gente precisa do colo das pessoas que amamos. E se essas pessoas não estiverem aí, o que se faz? Desespero total.
A maioria das pessoas que eu convivo e que tem EM são pessoas que têm famílias maravilhosas. Famílias que sofreram junto, aprenderam junto, cresceram junto com o diagnóstico. Famílias que, mesmo que às vezes passem por um período de "será que não é outra coisa meu filho?", acreditam quando esse filho diz que está tendo dificuldades e precisa de ajuda. Que mesmo não entendendo exatamente como a doença funciona, respeita a fadiga alheia. Aqui em casa, por exemplo, eu não espero que minha vó de 80 anos entenda a doença. De vez em quando ela sugere algum remédio caseiro pra dor na perna achando que pode resolver o problema que é neurológico. Eu escuto e deixo, porque, pelo menos, ela admite que há uma doença, respeita e tenta resolver, do jeito dela.
Como comentamos no Encontro, às vezes a família demora mais tempo pra aceitar a doença do que a gente mesmo. E isso acontece porque a gente sente a doença pulsando dentro de nós. Mas eu confesso que eu não imaginava, antes do blog, que a maioria das famílias não demora pra aceitar a doença, simplesmente nega sua existência. Eu não imaginava que o número de pessoas que sofre discriminação dentro da própria casa era tão grande. Para mim era impensável uma atitude dessas.
Esse é um dos motivos de eu insistir no tratamento da família.
Mas o tratamento da família é importante também pras famílias que aceitam a doença. Porque mesmo aceitando, há uma carga de sofrimento. As mudanças necessárias na vida de quem tem EM acaba mudando a vida deles também. E aí eu revelo outra coisa que aprendi aqui com o blog: familiares e amigos que se preocupam e amam querem entender profundamente o que é a EM. E, como a maioria dos recém diagnosticados ainda não entendeu nem para si a doença, não conseguem ajudar a família nesse momento (depois de um tempo, é a gente que acalma a família em cada surto e não o contrário).
Ao mesmo tempo em que me entristeço com os emails de pessoas pedindo o que fazer pra família ver que a EM existe, me alegro com os emails de familiares e amigos que querem entender o que seu ente querido está passando, o que pode passar.
Acho que pensarmos em alguma forma de apoio à família de quem tem EM e necessário e válido. Acho que a participação dos familiares próximos em consultas é importante. Não em todas as consultas, mas pelo menos em algumas, pra entender a doença. Os próprios neurologistas podiam pedir a presença dos familiares no consultório pra explicar o que está acontecendo com a pessoa. Evitaria uma porção de maus entendidos em casa. Fora a criação de serviços de atendimento psicológico de qualidade e especializado (ou, pelo menos, interessado em aprender sobre a doença pra poder atender seus pacientes).
Eu acho que, quanto mais conhecida for a doença, menos pior será pras pessoas fazerem entender seu diagnóstico. Por isso, vamos lá gente, de pouco em pouco a gente consegue fazer mais pessoas entenderem a EM.
Até mais!
Bjs

p.s.1: A minha família é exemplar, me respeita e entende e quando não entendem ou não sabem alguma coisa, perguntam pra melhor entender. Meus amigos também. Só posso ser grata pelas pessoas que estão comigo!
p.s.2: Sim, eu pedi autorização pra menina pra contar sua história, porque mesmo não colocando o nome, ela sabe que é ela. Ela pediu pra eu contar que hoje está bem, fazendo terapia com um psiquiatra, mas a família não aceitou ir nas consultas. Vai ficar tudo bem! ;)

domingo, 16 de setembro de 2012

Tratamentos e cuidados múltiplos


Oi gente, tudo bem?
Aqui em Porto Alegre estou virando sapo já... choveu ontem, hoje o dia inteiro e a previsão é que chova mais uns dois dias. Eu sei que é necessário, mas, enjoa.
Bom, um dos textos que eu estava devendo era sobre cuidados multidisciplinares na EM, tentando juntar as falas da médica neurologista Maria Fernanda Mendes e da enfermeira Patrícia Saldanha.
A primeira coisa que me chamou a atenção na fala da dra. Maria Fernanda é que até 15 anos atrás, não tínhamos tratamentos específicos e claros pra EM. Me chamou atenção porque eu tenho EM há 12. E quando as pessoas me perguntam porque eu não tomei a medicação antes e blablabla, às vezes eu explico que, na época do meu diagnóstico se discutia a eficácia e os riscos dos interferons. E os protocolos para prescrição também eram diferentes. Tanto que o Avonex, que é o que eu tomo hoje e que está trazendo benefícios, não era indicada para menores de idade. Ou seja, eu não poderia ter experimentado essa droga antes.
Isso também explica porque quem tem diagnóstico há mais tempo (isso não é regra, mas uma constatação minha) apresenta mais sequelas. Porque a gente não teve acesso imediato a um tratamento específico para EM na época. Os médicos e cientistas ainda tateavam a área enquanto a nossa doença continuava a mil por hora. E é também por isso que, quando alguém me diz que teve o diagnóstico agora e pergunta o que eu acho de começar o tratamento agora, eu digo: comece já!
Bom, aí ela falou sobre coisas que não nos são novidade: que é difícil ter um diagnóstico desse em "idade produtiva"; que a gente sente medo porque não a conhecemos, não conhecemos seus sintomas, não sabemos o que é normal na doença e o que não é; que a incerteza é o que nos "mata".
E onde é que nossa qualidade de vida é afetada? Nos sintomas e sequelas da doença sim, mas ela é muito mais abalada por conta dessa imprevisibilidade. E a gente tem que tocar a vida com essa imprevisibilidade.
Claro, a vida de ninguém é completamente previsível. Nunca se sabe o que acontecerá no dia de amanhã. Mas viver com a incerteza de conseguir se levantar no dia de amanhã, todos os dias, é dureza. A gente vive com esse fantasma do nosso lado. Tem dias que nem sentimos sua presença. Tem dias que ele nos abraça como um polvo. E não saber como será nas próximas horas é uma agonia muito grande. E, sim, isso pode atrapalhar muito a qualidade de vida de quem tem a EM e de quem convive com ela. A família de quem tem EM também é afetada por isso.
Aliás, a família acaba tendo que se reajustar constantemente por causa da doença: é dinheiro que precisa ir para remédios, é a rotina que muda pra fazer fisio, é o tempo que as pessoas precisam dedicar pra ajudar aquele que tem EM.
Vocês não imaginam o tamanho do sentimento de culpa que dá na gente ao ver a mãe deixando de fazer coisas pra ficar cuidando. Mesmo sabendo que é por amor. Alterar a dinâmica familiar é uma carga emocional muito grande. E, aí já entra a fala da enfermeira Patrícia, a figura do "cuidador" aparece.
Há quem não goste dessa palavra. Até porque nem todas as pessoas que tem EM tem um cuidador. Mas, pra mim, o cuidador da pessoa com EM, ao contrário da definição laboral de cuidador, não quer dizer um enfermeiro 24h indo atrás de ti com remédios e perguntando se tu estás bem. Eventualmente pode até fazer isso, mas o cuidador da pessoa com EM é aquela pessoa que está contigo no dia a dia, que vê as tuas dificuldades e conquistas, que acompanha tudo isso, que te ajuda a enxergar teus potenciais, que te ajuda a fazer as atividades domésticas quando tu não consegues, que vai junto na consulta pra dizer pro médico aquelas coisas que nem tu enxergas.
Se pensarmos assim, quase todos nós elegemos alguns cuidadores, não é mesmo? No meu caso, é mamãe. Mãe é mãe e não tem muita escolha! Hahahaha. Mas pra algumas pessoas são seus companheiros, maridos, esposas, irmãos, filhos, etc. E como a carga de cuidar (no sentido de olhar, ocupar-se com, preocupar-se, demonstrar interesse) não é pequena, não podemos esquecer de cuidar dos cuidadores.
Assim como a pessoa com EM pode vir a perder um pouco de sua autonomia, a pessoa que cuida dela, muitas vezes, perde a sua também. A gente não pode deixar que isso aconteça, senão, os dois afundam e aí, já viu né...
Mas como? Como fazer isso?
Bom, aí entra a necessidade de uma equipe multidisciplinar pros pacientes de EM. Isso inclui profissionais diversos: fisioterapeuta, psicólogo, enfermeiro, educador físico, terapeuta ocupacional, etc. Porque existem diversas outras terapias que podem ser realizadas em conjunto à medicina. Uma doença complexa exige um tratamento complexo.
Ok, tudo isso é muito lindo né? Ter uma equipe que cuida da pessoa que tem EM, proporcionando qualidade de vida para a pessoa e pra quem convive com ela. Lindíssimo! Mas onde?
Então, isso ainda é um sonho para muitos, para a maioria de nós, eu diria.
Infelizmente, os profissionais de saúde que encontramos por aí mal sabem o que é EM, quanto mais fazer um tratamento interligado com outros profissionais.
Mas não custa sonhar, certo?
O negócio é a gente cobrar, cada vez mais, dos nossos médicos, fisios, etc, esse tipo de tratamento.
E aí você vai me perguntar: mas e no SUS? #comofaz
Pois então, essa é outra questão trazida pelas duas palestrantes. Porque a EM, como levantou a dra. Maria Fernanda, não é uma doença pra ser tratada com consulta de 15 minutos em posto de saúde por profissionais que não são especialistas na área. E é uma doença que exige cuidados constantes, consultas em  dias inesperados (que não aqueles da consulta marcada com meses de antecedência). Nisso todos concordamos. O grande problema é mudar o sistema...
Já existem alguns centros de referência de tratamento de EM que oferecem esse tipo de atendimento. E existem associações que oferecem esse tratamento multidisciplinar, como a ABEM em São Paulo (tô doida pra ir aí conhecer o espaço de vocês). Mas, infelizmente essa não é a realidade da maioria das pessoas que tem EM no Brasil.
A maioria das pessoas com EM no Brasil ainda são mal atendidos pelo SUS, não tem acesso a tratamentos complementares e indispensáveis. A maioria das pessoas que tem EM ainda não se sente à vontade pra dizer o nome da sua doença, porque quase ninguém sabe do que se trata e as pessoas temem a reação, que (palavra de quem fala que tem esclerose) invariavelmente é de pânico, pavor, etc...
Isso tudo não é novidade pra gente também né? Quero poder um dia escrever aqui que todos nós temos acesso a um tratamento bom e digno. Quem sabe um dia né? Mas, pra isso, vamos precisar trabalhar, porque se a gente não abrir a boca, ninguém vai nos defender não. Se conseguirmos fazer chegar as informações corretas sobre EM para todos que tem o diagnóstico, já vai ser uma grande vitória.
Bom, fora isso sobre a necessidade de um tratamento multidisciplinar e do cuidado com/para  os cuidadores, outra coisa me chamou a atenção, porque era uma coisa que eu tentava explicar e não conseguia. Agora eu sei.
Quando a gente está de pé, caminhando sem auxílio de acessórios, algumas pessoas dizem (lembrem, as pessoas falam porque tem boca): mas que que tu tá reclamando? Não vê o fulano de tal, que se acidentou, tá paraplégico pra sempre numa cadeira de rodas e faz de tudo?
E aí tu fica sem saber como responder que é complicado. Que a fadiga é imprevisível. Que a doença é imprevisível, etc. E olha que eu já ouvi esse tipo de comentário de amigos cadeirantes, que acham que eu faço corpo mole.
Aí, a dra. Maria Fernanda, que trabalha com pessoas com EM e com pessoas com lesões medulares (paraplégicos e tetraplégicos) disse que realmente pode ser mais complicado tratar a EM do que um lesado medular, por conta da instabilidade da doença. Porque as pessoas com paraplegia, por exemplo, ficam numa situação estável.
Deixa eu tentar explicar. Quer dizer que ele tem a lesão X, no lugar X, com extensão X, e agora vamos trabalhar as potencialidades daquilo que ficou intacto.
A pessoa com EM tem lesões x, y, z, a, b, c... em lugares t, b, v, m, n... e não sabemos onde teremos novas lesões, quando teremos nem a extensão delas. Nem se essas que estão aí vão continuar ativas, aumentar ou diminuir.
A pessoa com lesão medular tem uma (ou mais) lesão medular estável. A pessoa que tem EM tem uma doença imprevisível, com lesões instáveis.
E é com essa imprevisibilidade, que nos incomoda tanto, que os médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, etc,  também se embananam.
Pelo visto, estamos aprendendo e ensinando nossos profissionais de saúde como lidar com a EM.
Isso é bom. Quer dizer que estamos avançando.
Até mais!
Bjs

P.S.: ainda devo 2 textos de Brasília e 1 do encontro da Agapem, eu sei. Logo cumpro o prometido.


sexta-feira, 7 de setembro de 2012

Pesquisas de EM no Brasil


Bom, e depois de uma noite muita bem dormida de descanso e de um belo café da manhã, partimos para o Congresso Nacional... aquele local "singelo" que eu descrevi dois posts atrás...
Como toda criança grande, fiquei com cara de "uau" ao entrar numa plenária no prédio da câmara federal. Aquelas bancadas com os microfoninhos que a gente tá acostumado a ver os deputados se tratarem como "excelentíssimo senhor deputado filho da puta"... é bem marcante no início.
Com algum atraso, o Encontro foi aberto pelo deputado José Luiz Penna, que, adivinhem, é acusado de corrupção (grandes novidades, né?). Não votei nesse cara e é muito provável que não vote nele nunquinha. Mas, não fosse o deslize dele ao dizer "como eu nasci na primeira metade do milênio passado", até que ele falou bem. Mas nascer no milênio passado? Tudo bem que ele é velho, mas não é Matusalém... hahahaha.
E, falando em deslize, eu cometi o deslize de anotar que a primeira fala era da Presidente da Academia Brasileira de Neurologia e não ter anotado seu nome (pensei que tinha escrito no programa do encontro, mas me enganei). Catando pelas internets, achei o nome, Dra. Elza Dias, mas pode estar errado, então, quem esteve por lá, me corrija. O que ela disse foi que a Esclerose Múltipla passou, nos últimos anos de uma doença desconhecida, que era "ensinada" em meia hora de aula nas escolas de medicina, para uma doença encarada como algo a ser profundamente estudado em nosso país. Os médicos estão percebendo que a Esclerose Múltipla é um problema brasileiro. Além disso, hoje em dia é uma doença com critérios de diagnóstico bem definidos, e que os exames disponíveis aumentam as possibilidades de um diagnóstico precoce. Isso é uma grande vantagem, já que, com diagnóstico precoce pode-se fazer um tratamento precoce. E, quanto mais cedo começarmos a tratar a doença, menos riscos e sequelas vamos ter também.
Resumindo sua fala: estamos num bom caminho, mas ainda há muita estrada a percorrer.
A partir daqui, faço um resumo sobre o que foi dito pelos médicos que pertencem ao BCTRIMS, porque muitos falaram as mesmas coisas com palavras diferentes.
O Dr. Marco Aurélio Lana falou que temos que criar, adaptar os cuidados aos pacientes brasileiros. E, por isso a importância dos médicos, pesquisadores e portadores terem um diálogo com o poder público. Bem sabemos que, muitas vezes o que nos falta é uma assinatura. E que muitas vezes o que nos atrasa é a burocracia. Mas que também, essas coisas são necessárias para o bom funcionamento de uma nação. O nosso grande problema e maior solução (aí é opinião minha), continua sendo as pessoas.
E foi com essa apresentação que se deu início o Encontro.
O primeiro painel (palestra, fala, enfim...) foi do Dr. Dagoberto Calegaro, que falou sobre a prevalência e incidência da EM no país. Eu não o conhecia, mas já tinha ouvido falar sobre ele. Quem tem EM no Brasil há mais de cinco anos já deve ter lido algum artigo dele sobre o tema.
Como vocês sabem, sou uma entusiasta das pesquisas. Acredito que é através delas que vamos pra frente. É por isso que, em outra área, que não a da saúde, que eu trabalho em pesquisa. E é por saber que as pesquisas é que nos mostram novos caminhos e soluções que eu fico muito feliz quando alguém diz que está pesquisando sobre EM. O pessoal do BCTRIMS é entusiasta da pesquisa também, e nos apresentaram alguns dados sobre a EM no país.
Primeiro o dr. Calegaro nos explicou que, pelo Brasil ser um país que teve uma formação bastante heterogênea (veio gente de toda parte do mundo pra cá e se misturou com todo mundo) e isso nos faz um país bastante peculiar para as pesquisas. Temos uma genética variada e diferentes origens.
Além disso, as condições sanitárias e de saúde no país também são bastante diversas. E os hábitos de vida, alimentação, lazer, trabalho, etc, são todos fatores que podem fazer diferença na hora de pesquisar de onde vem e pra onde vai a EM. Para a escolha de tratamentos também.
E o que já se descobriu quando falamos de prevalência e incidência de EM no país?
Primeiro, que não é uma doença tão rara assim. Segundo, que a maior incidência é na região Sul (fomos premiados?). Isso pode ter haver com questões ambientais, genéticas, etc. Outra coisa importante é que existem mais casos de EM nos grandes centros urbanos desenvolvidos.
Conhecer quem são e onde estão as pessoas com EM vai nos ajudar a desenvolver programas de atendimentos para melhorar a qualidade de vida de quem tem EM. Dei uma passadinha no grupo de pesquisa da Epidemiologia da Esclerose Múltipla no Brasil e vi que temos uma porção de pesquisas interessantes sendo feitas por aqui. Pra quem não tem muita intimidade com CNPQ, Lattes, capes, etc, segue o link do Grupo de Pesquisa do BCTRIMS: http://dgp.cnpq.br/buscaoperacional/detalhegrupo.jsp?grupo=00064011A3DKU6
Aí você encontra os nomes dos pesquisadores desse grupo e, para acessar suas pesquisas individuais e produções, é só entrar no currículo Lattes de cada um. Quem tiver um tempinho, sugiro a leitura desse artigo: http://www.scielo.br/pdf/anp/v60n3B/a37v603b.pdf
A fala dos demais médicos (menos a da dra. Clarice Petramale, representante do Ministério da Saúde, que falou mais sobre o SUSto), foi nesse sentido de promover qualidade de vida e da necessidade de vermos cada pessoa como uma pessoa diferente, com necessidades diferentes e condições de tratamentos diferentes. Principalmente porque a EM se manifesta nas pessoas que estão numa faixa etária muito produtiva, que estão começando suas vidas profissionais, começando suas famílias, pensando em ter filhos, viajar, curtir e mundo, etc...
E, como bem falou a dra. Maria Fernanda Mendes, é uma doença imprevisível. Na verdade todas as doenças são, mas como a EM é oscilante (num dia se está muito bem, no outro se está muito mal), assusta. Muitas pessoas acabam desistindo de seus planos, de seus sonhos, de viver. Realmente, a EM afeta diretamente em nossas vidas. Mas discordo dessa médica quando ela disse que "tem que tocar a vida como se nada tivesse acontecido porque é assim que tem que ser". Eu acho que temos que tocar a vida, mas "como se nada tivesse acontecido" é algo impossível. Talvez ela tenha quisto dizer que não devemos dar toda a importância de nossas vidas nisso. Aí eu concordo plenamente. Mas fazer de conta que nada aconteceu/acontece, é um disparate e, inclusive, uma irresponsabilidade. Mas eu volto a falar das pesquisas da dra. Maria Fernanda num post posterior, junto com algumas palavras sobre cuidado multidisciplinar e família (esse tema merece um texto próprio).
Uma coisa bem importante dita por lá foi sobre os sintomas que não são valorizados. Quer dizer, as vezes a gente sente algumas coisas diferentes e não relata pro médico. Tudo é importante quando falamos de EM! Tudo!
Muitas doenças se parecem com a EM mas não são. Como, por exemplo, a neuromielite óptica, que tem sintomas parecidos mas é uma doença diferente, com características diferentes e tratamento diferente.
Também foi falado sobre as alterações cognitivas, que são pouco valorizadas e bem difíceis de detectar. É aí que entra a necessidade de uma equipe multidisciplinar do atendimento da EM. E, mais uma vez, a importância do médico que acompanha o portador de EM conhecer mesmo esse paciente, para conseguir ver esse tipo de evolução.
Como bem disse a equipe médica presente no evento, cada sintoma diferente exige que o médico procure uma lesão diferente, em um local diferente do cérebro. A EM é uma doença com disseminação tempo-espacial. Isso quer dizer que se apresenta em locais diferentes do cérebro da pessoa, em diferentes espaços de tempo. Muitas vezes, o diagnóstico é feito após muitas lesões que tiveram atividade em tempos diferentes. A importância de "pegar" a doença e diagnosticar o surto é tratar ela quando está em atividade e tentar fazer com que ela pare. Quando se demora muito tempo para diagnosticar, se corre o risco de perder essa fase inflamatória (fase de surtos) e se pega o paciente numa fase progressiva, que não se dá em surtos, mas avança mais rapidamente. Não preciso nem dizer que as formas progressivas causam um estrago maior que as de surto-remissão né?
Por se tratar de uma doença neurológica complexa, de diagnóstico complexo e tratamento complexo, precisamos de profissionais com formação nessa área específica.
As medicações são de alto custo, os exames para o diagnóstico também. Por isso que pesquisas que comprovem que existimos faz com que políticas públicas sejam criadas pensando no nosso bem estar e em melhores condições para o nosso futuro.
É nisso que o campo de pesquisa atua, tentando levar essas informações aos médicos. Porque não temos profissionais tão especializados no Brasil inteiro. Quase nenhum brasileiro tem condições de ir até um centro de referência de tratamento. E em muitos desses centros, existe fila de espera. Mas a doença não espera nada para avançar.
Bom, pra fechar esse texto de hoje (porque a EM se abraçou em mim nesse feriado de uma forma impressionante), quero contar uma boa novidade pros amigos que tem neuromielite óptica e frequentam aqui o blog: estão fazendo diversas pesquisas sobre a prevalência da NMO no país também.
O Dr. Lana citou algumas pesquisas em andamento e que eu aguardo os resultados. Uma delas é da epidemiologia da EM no país. A outra, de diferenças fenotípicas da EM no Brasil. Outra sobre a prevalência da NMO entre as doenças desmielinizantes no Brasil. A, talvez mais esperada, sobre as relações entre níveis de vitamina D e prevalência de EM. Mas a que mais me chamou a atenção foi uma que dizia assim no slide: data de nascimento como fator de risco da EM. Será que é coisa do zodíaco? Hehehehe... Porque por estação do ano é que não é, afinal, inverno aqui no sul não é a mesma coisa que inverno lá no norte do país. Enfim... por via das dúvidas, largo as perguntas aqui, que dia, mês e estação você nasceu amigo (a) esclerosado (a)?
Eu nasci num dia 18 de junho, num inverno atípico aqui no sul, porque não fez muito frio em maio e junho de 1986.
Fico devendo então 3 textos sobre Brasília: sobre os cuidados multidisciplinares, SUS e indústria farmacêutica, certo?
Até mais!
Bjs

P.S. 1: pessoal que pesquisa EM, o congresso anual da BCTRIMS de 2013 vai ser em Belo Horizonte com o tema A doença, o cidadão e o Estado. E em novembro de 2012 tem congresso do LACTRIMS, que é o comitê latinoamericano de pesquisa sobre EM.

P.S.2: ficou linda a foto de despedida de Brasília né? ehehehe

P.S.3: e ainda tem o II Simpósio da AGAPEM, que foi sábado passado e foi muuuuito bom também. Claro que vou falar sobre... mas, uma coisa de cada vez.

terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Dica de leitura - Fadiga e EM

Olá queridos, tudo bem?
Tô na reta final da minha dissertação (uhuuuuuuuuuuuuuu). E prometo estar mais presente depois que isso acabar.
Mas, no meu "intervalo mental" do trabalho, acessei uma revistinha beeeem interessante sobre Fadiga e EM. Achei muito bom, bem organizado e esclarecedor. Então, resolvi passar aqui pra deixar o link pra quem quiser se informar e praticar um pouco da leitura em inglês:
http://www.msif.org/docs/MSinFocusIssue19EN.pdf
Super vale a pena!
Até mais!
Bjs

P.S.: fadiga nível 90% nesses últimos dias... fica difícil de parecer mais ou menos OK na frente dos amigos...

terça-feira, 24 de maio de 2011

Dia Mundial da EM

Oi queridos, tudo bem?
Obrigado a todos pelas manifestações de carinho. Sabe né, carinho faz bem pra alma, e por consequência, pro corpo.
Fiquei quase dois anos sem pulso. E é incrível como o cérebro bloqueia as lembranças ruins né...hehehe
Lembrava que era uma droga fazer pulso. Mas não lembrava que era tanto assim.
A melhor explicação para como me sinto: parece que tenho feito 3h de ginástica aeróbica a cada hora do dia, sem parar. Ou seja, corpo pesado, cansado, dores, etc.
Meu olhos ainda estão enxergando mais ou menos.
Mas tudo bem, eu sei que é pro meu bem e que melhor com os corticóides do que sem eles.
Ainda está tudo formigando. Mas estou calminha, calminha. Quanto mais o tempo passa, mais eu tenho resiliência. Bendita resiliência.
Sim, tenho uma porção de coisas pra fazer. Mas, paciência. Se não me tratar agora, dificilmente vou conseguir completar qualquer um dos meus trabalhos. Então, o negócio é desligar dos outros problemas. Uma coisa por vez né gentes.
Como não sei como estarão esses dois belos olhos cor de jabuticaba amanhã, vou dar meus recados hoje:
- amanhã, dia 25 de maio é o Dia Mundial da EM, e convoco todos os amigos a utilizarem a fitinha laranja no peito. Quem usar, tira uma fotinho que eu posto aqui depois.
- Dia 29 de maio, domingo, a Agapem (Associação Gaúcha de Portadores de Esclerose Múltipla) vai estar, das 9h30min às 12h informando a população gaúcha sobre a EM, no Parque da Redenção, em frente ao Monumento do Expedicionário.
Como a Redenção é um lugar aberto, arborizado e etc. Mesmo parecendo um zumbi, eu vou lá, com minha cadeirinha de praia ajudar o pessoal. Espero todos por lá!
Até mais!
Bjs

http://worldmsday.org

quinta-feira, 24 de março de 2011

Encarando a droga injetável

Oi gentes, blz?
Comigo está tudo ótimo!
Bom, vamos lá, vou contar tudo sobre minha nova experiência com drogas injetáveis.
Ontem já acordei ansiosa. Fui tirar sangue para ter um hemograma pra comparar com o depois da medicação. Ou seja, meu dia começou com agulhas. Mas tudo bem, porque eu gosto de tirar sangue (deve ser meu gene vampiro).
Cada hora que passava, mais ansiosa eu ficava. Entretanto, meu corpo tem uma reação muito curiosa quando eu fico nervosa. Eu fico com sono. Ao contrário da maioria das pessoas que aceleram o coração, eu fico com um sono danado. No fim das contas, isso é bom, porque eu relaxo. E fazer injeção relaxada é bem melhor do que com o corpo tenso né.
Eu marquei às 17h para a enfermeira chegar, e às 14h chegou meu kit injeção via correio. Aquele que eu achei que vinha até passagem pra Disney. Bom, não tinha passagem pra Disney, mas tem uns brinquedinhos bem divertidos: duas mochilas térmicas (uma do tamanho da caixinha do remédio, outra maior, pra levar cerveja pra praia...hehehe), uma caixinha de algodãozinho com álcool, embalados individualmente, um diário para anotar as injeções, uma revista sobre EM, uma caixinha descarpack, pra jogar as injeções fora e, o mais divertido, uma caixinha coisa mais bonitinha com os curativos prontos.
Depois que chegou esse material todo, fiquei zonza. Zonza de nervosa. Às 16h tomei o Meticorten, indicado pela médica e às 16h40min a enfermeira Lourdes chegou aqui em casa. Adorei ela. Muito querida mesmo. Explicou tintin por tintin da injeção, como guardar, como preparar, etc. Eu prestei bem atenção, e a mãe e a Raquel mais ainda, porque enquanto eu não tomo coragem de me aplicar, elas é que serão convocadas a fazer esse serviço.
Bueno, injeção tirada da geladeira, em temperatura ambiente, era chegada a hora.
Sentei numa cadeira, respirei fundo, e, quando eu pensei em olhar como é que ela colocava a agulha, ela já estava todinha na minha coxa. Não senti absolutamente nada da injeção. Nem quando a medicação entrou. Para quem esperava a dor da injeção, foi muito tranquilo. Porque quando eu tomava o Rebif, sentia dor na hora da injeção e na hora que a medicação entrava. E era uma dor bem ardida. Essa aí eu não senti nada. Não ficou dolorido o local. E hoje eu não sei nem dizer direito onde que foi. Ao contrário do Rebif, não ficou roxo no local.
Comecei a sentir alguma coisa diferente umas três horas depois da injeção. Hora em que eu tomei o Motrim (que é pra eu tomar de 12 em 12h no primeiro dia após a injeção). Senti uma dorzinha de cabeça, um calorão no rosto e os olhos ardendo (muito). Falei isso pra mãe e ela disse que isso é sintoma de gripe. Faz tantos anos que eu não tenho gripe que nem lembrava disso. Um pouco mais tarde medi a temperatura e vi que estava com febre baixa. Mas como já tava na hora de dormir, deitei e dormi tranquilamente.
Hoje dormi atééééé a hora que acordei...hahahaha
Acordei quase ao meio dia com o corpo meio pesado. Mas tudo bem, porque acordar ao meio dia é um sonho de consumo e corpo pesado, bom, ele é pesado mesmo né...hehehe
Estou me sentindo um pouco mais cansada que o normal. Mas acho que foi muito tranquilo, muito bem. E acho que vai ser cada vez melhor. Porque as primeiras vezes sempre dão um efeito mais forte, por ser uma droga desconhecida pelo corpo. Depois, o corpo vai se habituando e vai ficando melhor.
Então, se o pior for mesmo a primeira, com mais efeitos, tô no lucro.
Tá, não vou dizer que é bom também né. Ninguém aqui é doido de achar que tomar injeção uma vez por semana é bom. Mas, já que tem que tomar, que bom que não é nada doído e tem efeitos leves.
Quero também agradecer o pensamento positivo de todos. Recebi muitas mensagens de força pra essa hora. Com certeza fez diferença. Muito obrigado!
Até mais!
Bjs

P.S.: olhem que divertido é o negócinho dos curativos:

segunda-feira, 21 de março de 2011

Tá chegando a hora...

Oi queridos, tudo bem com todos?
Pois então, o mundo está cheio de preocupações essa semana: guerra na Líbia, Obama no Brasil, quem vai ganhar o BBB... e eu aqui com minha preocupação egoística de como será o Avonex.
A caixinha com as injeções está ali na geladeira. Tão trivial quanto o iogurte que está ao lado dele.
Tô cheia de trabalho pra fazer e a única coisa em que consigo pensar é na injeção de quarta-feira. Já tem dia e hora marcada: 23 de março, 17h.
Liguei para o Programa de atendimento ao paciente da Biogen (laboratório do Avonex) para marcar uma hora com a enfermeira que vem aqui em casa me ensinar como aplicar a injeção. Não sei se vocês já ligaram lá, mas a tiazinha que atende (tri simpática) diz uma porrada de coisas que você vai receber em casa, que vai desde algodão com álcool à uma bolsa especial para carregar o medicamento. Não sei, me perdi no meio das explicações dela e, desconfio que tem até uma passagem pra Disney de tanta coisa que ela disse...hehehe
Ainda não recebi o material, mas a enfermeira vem aqui em casa nessa quarta-feira.
Na quarta-feira da semana passada fui à minha médica, pegar as instruções para a medicação. Adoro consultar com ela. Fico um pouco menos apreensiva.
Ela me deu 3 planos de medicações para tomar junto com o Avonex. O plano power plus, o plano power e o plano light. Ou seja, começo com o mais forte na primeira aplicação e, se não sentir grande coisa, na segunda tomo o plano power e, se ver que dá tudo certo, vou pro plano light.
Eu estou torcendo para que o plano light seja o suficiente. Por dois motivos: 1. Quanto menos remédio, melhor. 2. Pelo custo. Vamos combinar, é um gasto grandinho a mais. E, como dessa vez sobrou mês no final do dinheiro, já sabe...
É engraçado como nosso inconsciente funciona. Porque conscientemente, racionalmente, eu sei que é só mais um remédio. É só uma injeção por semana. Nada mais, nada menos.
Entretanto, não sei se porque detesto injeção, ou porque já tive experiências ruins com imunomoduladores, não tenho dormido direito, comido direito, trabalhado direito, nem pensado direito. Enquanto não tomar essa dita cuja, acho que essa sensação de angústia, medo e ansiedade não passam.
Hoje me acordei com o mundo girando, e nem tinha bebido demais na noite anterior. Dormi tão tensa que minha cervical "endureceu" e não consigo virar a cabeça sem que tudo gire ao meu redor.
Nessas horas eu invejo as pessoas que se preocupam pouco com esse tipo de coisa. Porque eu fico muito brava comigo mesmo por me sentir assim. Digo pra mim mesma: Pôxa vida né Bruna, tu tem muita coisa pra fazer. Te ocupa com teu trabalho e deixa as coisas acontecerem!
Mas ao mesmo tempo eu digo: desculpa, não dá. Não consigo não pensar nas possibilidades do que vai acontecer. Não consigo não pensar nisso.
Me sinto como uma criança pequena nos dias antes de começar as aulas. A gente se prepara e sabe que pode ser bom, mas quando vai chegando a hora vai dando uma ansiedade enorme. Quando eu mudava de colégio, chegava a não dormir na noite anterior pensando em tudo que aconteceria, que seria tudo novo. Eu continuaria sendo a mesma pessoa, mas algumas coisas mudariam. É assim que me sinto agora.
Mas, tem mais uma coisa. Estou me sentindo tão bem, mas tão bem, que tenho medo de tomar esse remédio e ficar doente. Não medo de ter surto, mas de ficar doente no sentido de piorar novamente, ficar novamente mais dependente. Isso me assusta. E me assusta muito.
Desculpa gurizada o meu desabafo. Mas estou um misto de sentimentos que é difícil de explicar. Não consigo falar sobre isso sem encher os olhos d'água. Sim, eu penso na possibilidade de dar tudo muito certo. Mas a incerteza me incomoda. O desconhecido me desafia. E, apesar de gostar de desafios, dessa vez está mais difícil.
Prometo que até quinta-feira conto como foi o encontro com esse desconhecido, que, provavelmente, se tornará um companheiro constante.
Até lá, não canso de ler minha poesia preferida:
"Desistir?
Eu já pensei seriamente nisso, mas nunca me levei realmente a sério.
É que tem mais chão nos meus olhos do que cansaço nas minhas pernas;
mais esperança em meus passos, do que tristeza nos meus ombros,
mais estrada no meu coração, do que medo na minha cabeça"
Obrigado Cora Coralina.
Até mais!
Bjs

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

Um solzinho

Oi queridos, tudo bem?
Dei uma sumida né? Acho que nunca pensei tanto na EM quanto nos últimos dias, por causa da medicação. E também acho que nunca recebi tantas mensagens de apoio. Muito obrigado a todos. Mas muito obrigado mesmo, do fundo do coração. Vocês não imaginam o quão importantes são na minha vida, e o quanto as dicas e palavras vão me ajudar nessa nova etapa.
Bom, mas ainda sobre a consulta que tive na semana passada, quero falar da vitamina D. Sim, de novo a vitamina D. Já falei dela por aqui. Não leu? Veja aqui: http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com/2009/08/lindos-e-vitaminados.html
Resumindo, é importante ter o nível de vitamina D equilibrado pra ajudar o sistema auto-imune. A minha última dosagem de vitamina D deu um pouco abaixo do considerado bom. Então, estou tomando 6 gotinhas de vitamina D por dia pra normalizar.
E claro, tomando mais sol. Nós que moramos em um país tropical, devemos aproveitar esse remédio natural que deus nos deu. Na Europa eles tem a desculpa de não ter sol por muitas horas no dia. Aqui não. Temos sol pra dar e vender. Só não vão torrar no sol que nem umas perereca né!
Ainda hoje, um amigo leitor aqui do blog me perguntou o que eu achava do tratamento pra curar a esclerose com vitaminas. Então, aqui vai o que eu penso: ter um corpo em equilíbrio é bom pra quem tem e pra quem não tem EM também. Fazer dosagem de vitaminas é importante pra não faltar nada no nosso corpinho. E é lógico que, um corpo em equilíbrio será mais saudável do que um carente de algum nutriente.
Mas aí, dizer que vitaminas curam uma doença auto-imune, acho demais. Não podemos esquecer que nossa doença é uma doença do sistema nervoso central e, infelizmente, as vitaminas não tem ainda o poder de alterar esse nosso sistema.
Gostaria de lembrar que, não é porque estamos nos sentindo bem que não temos a EM. Eu, por exemplo, estou super bem, mesmo sem vitaminas ou imunomoduladores. Mas, como a gente sabe, a EM é danada e vai atuando quietinha, comendo pelas bordas. Há que ter cuidado.
Sei de muita gente que discorda do meu pensamento. E respeito isso. Por isso, gostaria que respeitassem também a minha posição, que é também a posição da minha médica.  
Até mais!
Bjs

segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Tratamento na justiça

Oi meu povo, blz?
Ontem peguei uma matéria no Fantástico pela metade e pensei: essa moça aí tem EM. Era a matéria falando do número de pessoas que no Brasil, precisam de mandato judicial para ter seu tratamento médico, e, pior ainda, os que já tem judicialmente o tratamento mas não o recebem.
Como disse, peguei a matéria pela metade e não tinha visto que a moça tinha EM. Mas pelo jeito que ela estava e por não conseguir nem assinar o documento do advogado, tamanha a fraqueza e o sofrimento de Débora.
Eu acho absurdo precisar dum mandato judicial pra conseguir um tratamento que já é direito da pessoa. Quando eu tomava interferon também foi por mandato judicial que consegui receber a medicação. O rolo que dá pra conseguir tratamento é tão grande, que a pessoa vai ficando cada vez mais doente. E a gente sabe muito bem que surto não tratado é sinônimo de reabilitação demorada.
Pior que isso, só o caso do menino que morreu porque não teve o tratamento que custava R$500,00 por mês. Vida é um bem irreparável. Não se brinca com isso.
Quem quiser conferir a matéria todinha (texto e vídeo), é só acessar o site do Fantástico: http://fantastico.globo.com/Jornalismo/FANT/0,,MUL1631481-15605,00-BRASIL+TEM+MAIS+DE+MIL+PROCESSOS+NA+JUSTICA+BUSCANDO+POR+PROCEDIMENTOS+MEDI.html
Até mais!
Bjs

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Novas pesquisas

Oi gentes, blz?
Como foi o carnaval?
Eu fiquei vendo filmes em casa. Me desliguei da internet e do resto do mundo.
Mas, como a vida não para, hoje trago duas boas notícias que saíram na imprensa, sobre EM:

1. Tratamento da esclerose múltipla por via oral pode ser possível em 2011

A ingestão de medicamentos orais para tratar a esclerose múltipla pode estar disponível no mercado a partir de 2011, indica pesquisa publicada no New England Journal of Medicine. Os pesquisadores tiveram resultados animadores após dois experimentos e basearam seus estudos em entrevistas com mais de 1.000 pessoas de 18 países.
Segundo Doug Brown, gerente de Pesquisas Biomédicas da Sociedade de Esclerose Múltipla, este é o tipo mais comum de desordem neurológica que afeta adultos jovens - são cerca de 100 mil no Reino Unido e 2,5 milhões em todo o mundo. Para o especialista, a descoberta pode representar um novo rumo ao tratamento da doença.
Os tratamentos atuais envolvem injeções e infusões, mas a opção dos medicamentos por via oral pode ser viável com Cladribina e Fingolimod, que vêm na forma de comprimidos. Testado, o Fingolimod mostrou-se duas vezes mais eficaz na redução do número de recaídas durante um ano se comparado a uma das injeções usadas no tratamento da esclerose múltipla, com o interferon beta 1a. (fonte: R7 notícias)


2. Após transplante de medula, pacientes voltam a fazer planos para o futuro

Pacientes com esclerose múltipla voltam a sonhar com um futuro promissor e retomam antigos projetos após o transplante de medula óssea.
Essa é a constatação do psicólogo Fabio Augusto Bronzi Guimarães que avaliou a qualidade de vida desses pacientes antes e depois do tratamento realizado com células-tronco.
O tratamento com células-tronco é agressivo. Primeiro, os médicos retiram as células-tronco da medula óssea e aplicam uma carga intensa de quimioterápicos, para destruir a medula que não funciona adequadamente. Por último, faz-se o transplante das células-tronco saudáveis, para que a nova medula funcione normalmente. (fonte: Diário da Saúde)
Prometo pesquisar mais sobre essas (e outras) pesquisas que trazem esperança ao tratamento da EM.
Até amanhã!
Bjs

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Entrevista

Oi gentes, blz?
Como prometido, hoje vou postar a entrevista ao jornal.
Até amanhã!

Aproveitem:

Medicina e Saúde - O Nacional - 06 e 07 de fevereiro de 2010
Especial
Convivendo com a doença

A descoberta da EM pelo correto diagnóstico é apenas o primeiro passo para quem é portador da doença. Saber lidar com os sintomas e as crises é uma das tarefas mais difíceis. Porém, com criatividade e amor pela vida é possível encontrar algumas alternativas que facilitem a convivência com a doença. E é assim que Bruna Rocha Silveira, 23 anos, publicitária, tem encarado a convivência com a EM. Ela mantém um blog, onde conta o dia-a-dia da doença. As experiências são compartilhadas com outros portadores. Diferente do que muitas pessoas podem pensar, Bruna leva uma vida normal e não deixa de lado seus objetivos. Recentemente ela foi aceita no programa de mestrado em Comunicação Social na PUCRS. No próximo mês inicia o mestrado e está de mudança para Porto Alegre com a mãe e a irmã, onde pretende se dedicar exclusivamente aos estudos. O Medicina & Saúde conversou com Bruna para saber como é a vida de um portador de EM e a motivação em idealizar o blog.

Medicina & Saúde - Como foi a descoberta da doença?
Bruna Silveira - Tudo começou quando eu tinha 14 anos e tive um formigamento na mão direita. Buscando o que podia ser aquele formigamento parei no consultório do neurologista. O exame de ressonância magnética foi que confirmou que eu tinha uma pequena lesão na mielina. Na época eu fiz uma pulsoterapia que é uma dose muito alta de corticóide, durante cinco dias, para acabar com a inflamação da lesão. Naquela situação o médico não quis fechar o diagnóstico, porque podia ser um fato isolado. Entretanto, um tempo depois, os dois braços formigaram, as pernas pareciam que se cruzavam enquanto eu caminhava e minha visão ficou embaçada. Voltei ao médico. Depois de um exame clínico e mais umas ressonâncias, veio o diagnóstico. Nunca vou me esquecer daquela cena de cinema: eu e minha mãe sentadas na frente do médico, ele escrevendo algo num papel e quando mostra o papel para mim mãe diz: "é, acho que é isso"; no papel estava escrito: esclerose múltipla. Na hora eu pensei: "estou ferrada! Se o doutor não fala nem o nome é porque deve ser uma porcaria muito grande!" Era 2000 e esse foi meu bug do milênio!

M&S - De lá para cá, quais foram as lições para vida tiradas da convivência com a esclerose múltipla?
BS - A partir desse diagnóstico foram muitos surtos, algumas novas lesões, pulsoterapias, consultas, exames chatos, desagradáveis e doloridos, experiências com medicações diferentes, tropeços, tombos e uso de bengala. Sim, eu não sou a mesma pessoa que seria sem o diagnóstico. Logo na minha adolescência vi que nem sempre quem te chama de amigo é quem fica do teu lado. Muitas pessoas se afastaram. Me magoei muito, sofri, chorei. Mas o bom de cair é que percebemos que temos forças para levantar e começar tudo outra vez. Olhando para o passado, vejo que passei pelas três fases de aceitação do diagnóstico: negação, barganha e aceitação. Primeiro neguei para mim mesma que eu tinha uma doença. E quando lembrava que tinha, bloqueava na minha cabeça que era degenerativa, progressiva e sem cura. Por causa disso sofri dobrado. Afinal, sentia sintomas de surto e me enganava, dizendo que não sentia nada. Por causa disso cheguei a ficar muito mal. Porque demorava para começar o tratamento. Como a EM é uma doença que não aparece, fica mais fácil enganar a si próprio. Depois vem a fase da barganha. Negociei com Deus, negociei com a doença, negociei com todos os santos. Acabei vendo que Deus não tinha nada com isso e que eu teria que levantar a cabeça, aceitar a doença e continuar a viver. Tive de parar com algumas atividades, mas descobri outras coisas, outros talentos. Vi que não adiantava eu lamentar minhas perdas. Nada ia voltar a ser como era antes. Então, o melhor que eu tinha a fazer era olhar pra frente e agarrar todas as oportunidades que eu tivesse na vida. Conheci pessoas maravilhosas que são amigas de verdade e estão comigo sempre. Mas também aprendi o quanto o ser humano pode ser cruel e preconceituoso.
M&S - Quais as dificuldades no relacionamento com as pessoas?
BS - Vi que se você tem uma deficiência ou doença que não aparece, ninguém acredita em você. Para a maioria das pessoas, quem tem EM é na verdade um preguiçoso. Elas não querem entender que nosso corpo é muito fraco e entra em fadiga muito rapidamente. Eu entendo que deve ser difícil para os outros (não esclerosados) entender que diabos é essa esclerose múltipla. Porque eu penso assim, quando a pessoa é cadeirante fica evidente sua deficiência. A esclerose, além de ser "invisível", assusta já no nome. Quando eu digo o que eu tenho as pessoas se assustam achando que eu sou meio louca, ou sei lá o que. Daí eu fico uns cinco minutos tentando explicar o que é a doença, mas mesmo assim fica aquele olhar desconfiado. Deve ser difícil para as pessoas entenderem que não é mentira e nem preguiça quando eu digo que eu não consigo subir uma escada, que eu não carrego a sacolinha do mercado, enfim, esse monte de coisas que meu corpo não permite. Aí vem aqueles comentários: "carregar a sacola não pode mas ir para o bar beber cervejinha pode né?!" Tem dias que dá, tem dias que não. Nem eu, esclerosada há tanto tempo, sei como será o dia. É de se desconfiar né: uma moça bonita (podem discordar se quiserem), limpinha, inteligente, bem arrumadinha querendo me convencer que é doente?! As pessoas esperam que todo portador de doença e/ou deficiência seja torto, feio, mal vestido, mal arrumado, mal humorado e, principalmente, burro.

M&S - Na primeira internação hospitalar, qual foi a sensação?
BS - Foi bastante ruim. Os profissionais da saúde que me atenderam foram maravilhosos, mas a situação toda foi muito ruim. Nunca gostei de hospital, agulhas, etc. E eu tinha ficado muito doente. Na minha primeira internação eu fiquei completamente dependente. Não conseguia nem segurar os talheres para comer sozinha. Não conseguia ler porque não enxergava direito. Não conseguia caminhar porque minhas pernas não tinham forças para me carregar. Me sentia muito sozinha, e sentia que eu era um peso pra minha família. Mas eles foram os únicos que ficaram ao meu lado o tempo todo. Nesses momentos a gente descobre quem é que ama a gente de verdade.
M&S - Como fica a família nestes momentos?
BS - Tenho uma família fantástica e muito amor na minha casa. Claro, algumas pessoas não são fortes o suficiente para passar por dificuldades e fogem, mas o que importa são os que ficam. Virar um bebê depois de adulto, não é muito fácil não. A dependência incomoda muito. Eu sei que minha mãe sempre cuidou (e continua cuidando) de mim com muito amor. Mas eu me sentia (e ainda me sinto, quando fico muito doente) um peso na vida daqueles que me amam. Eu sei que dou um trabalho danado para eles. Mas passar por tudo que passei sem minha família é algo inimaginável. Ter uma família que entenda o que é a EM, quais são as necessidades do portador, é essencial pro sucesso do tratamento e recuperação do portador de EM. A EM não muda apenas a vida do doente, mas de toda a família e de quem convive com ela. As rotinas mudam, as necessidades diárias mudam, os cuidados são diferentes. Todos devem estar preparados emocionalmente para conviver com a EM da melhor forma possível.

M&S - Quando surgiu a ideia do blog?
BS - Logo que descobri a doença, fiz o que todo mundo faz hoje em dia: coloquei o nome da doença no Google e fui ler o que tinha por lá. Fiquei apavorada. Era quase que uma sentença de morte o que tinha naqueles textos. Aquilo me incomodou muito. Mas na época não tinha essa facilidade de blog e tal. E eu também não tinha maturidade suficiente para contar histórias tão íntimas minhas, afinal, as pessoas julgam você sempre, e quando você se expõe num blog, está sujeito a todo tipo de julgamento. Tudo começou com o Orkut. Existem diversas comunidades sobre EM no Orkut e eu participava de algumas. Vi que eu sabia responder a maioria das dúvidas das outras pessoas. E algumas pessoas me perguntavam: porque tu não faz um blog? No início eu pensava que seria difícil falar da doença todo dia. Pensava que ter de escrever sobre ela todos os dias podia ser um processo doloroso. Mas era bobagem, afinal, a EM está comigo 24h por dia todos os dias. Os sintomas e as dores não somem só porque eu não falo nelas. E também pensei: se quando eu descobri a doença existisse um blog em que um portador de EM contasse suas histórias do dia-a-dia, seria tão mais fácil. Teria evitado algum sofrimento. Aí vi que, se ninguém tinha feito esse diário de bordo para quem embarcava na vida com EM, esse alguém podia ser eu. Já tinha uma coleção de histórias para contar, e como a EM está comigo sempre, as histórias só aumentam. O blog tem sido uma terapia para mim e tem ajudado pessoas que passam pelas mesmas coisas que eu. É bom saber que não se está sozinho no mundo. E também ajuda os familiares de portadores de EM a entender o que eles estão passando. Porque nem todo esclerosado fala pelos cotovelos e não tem vergonha de falar sobre a doença como eu.

M&S - Qual a contribuição dos leitores?
BS - Muitos dos posts são ideias de leitores do blog, que mandam suas dúvidas e sugestões por e-mail. Hoje o blog tem uma média de cem acessos diários, de gente do mundo todo. Fico feliz, porque fiz o blog também com a intenção de divulgar o que é esclerose múltipla. Sonho com o dia em que quando eu falar que tenho EM as pessoas me olhem normalmente, por saber do que se trata e saber que não sou nenhum tipo de extraterrestre. Mas para isso acontecer, eu e outras pessoas com EM tem que falar ao mundo que tem EM e o que é a EM. A ignorância e o preconceito acabam quando as pessoas entendem o que é a doença. Não falar sobre a doença, muitas vezes é um comportamento prejudicial ao portador. Afinal, como é que os outros vão entender o que é a doença e como nos sentimos se não falarmos disso? Como é um diário, conto as coisas a partir do meu ponto de vista, que nem sempre é agradável, doce e "cor de rosa". Eu sou muito otimista e prefiro ver o lado bom das coisas, afinal, lamentar ou chorar não vai me curar de nada. Então, acho melhor fazer piada, ter bom humor e tirar o que há de bom de cada situação. Mas também sou muito realista, e a realidade às vezes é dura. O blog é a minha vida como ela é.


Em tempo: hoje, minha prima caçula, querida, que eu amo demais, está fazendo 15 anos. Como o tempo passa. A indiazinha aí do lado com um bebê no colo sou eu com ela no colo, há uns 15 anos. Muitas felicidades Luana!

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Chiques e famosos

Oi amigos, blz?
Estamos famosos!!! Hehehehe
Na edição do último final de semana do jornal O Nacional (jornal diário aqui de Passo Fundo), saímos no caderno Medicina e Saúde.
4 páginas dedicadas à EM. Sendo que 2 delas é uma entrevista com essa pessoinha que vos escreve.
Até alguns anos atrás, 4 páginas sobre EM num jornal era algo quase inimaginável. Hoje, temos 4 páginas com entrevista, e a capa do caderno de Saúde. Chique né?
Chiques e famosos...hehehehehe
Cada vez que leio algo sobre EM nos jornais fico feliz. Como sempre digo, quero que todos saibam o que é EM, pra gente não precisar ficar se explicando todos os dias. E fico mais feliz ainda em ver o blog no jornal.
O ego subiu lá em cima vendo a minha fotinho na página. Mas o que acho mais legal mesmo, é que, lendo a entrevista, mais pessoas do "mundo normal" podem vir a entender o mundo do esclerosado.
Chega de blablabla...leia abaixo a parte informativa da matéria, onde é explicado tintin por tintin sobre EM. Vou deixar a entrevista pra amanhã, senão é muita coisa...hehehe

"Especial
Esclerose múltipla
O próprio nome já parece assustador. Se não bastasse ser esclerose, ainda atende pelo complemento de "múltipla". E, nesses casos, nada tem de relação com o que acontece durante o envelhecimento.
Ao contrário, a esclerose múltipla atinge a maioria de pessoas jovens e faz com que tenham uma série de limitações para desenvolver atividades que vão desde um simples subir de escadas até a capacidade de ler por bastante tempo. Segundo a Abem (Associação Brasileira de Esclerose Múltipla), órgão que pretende informar sobre a doença e auxiliar portadores, mais de um milhão de pessoas em todo mundo tem a doença. A EM (esclerose múltipla), como os portadores costumam se referir, é uma doença inflamatória crônica, desmielinizante e degenerativa do sistema nervoso central. Com isso, ela interfere na capacidade de controlar funções como a visão, a locomoção e o equilíbrio. É comum que os portadores da doença sintam-se cansados ao realizar pequenas tarefas do dia-a-dia, tais como escovar os dentes ou carregar uma sacola do supermercado.
Os portadores da EM acabam por apresentarem um tecido parecido com uma cicatriz, que endurece e forma uma placa em algumas áreas do cérebro e medula espinhal. Ela é uma doença múltipla porque isso pode acontecer em diversas áreas do cérebro e medula espinhal. Quanto aos
sintomas, podem ser leves ou severos e aparecer ou desaparecer imprevisivelmente.
Diagnóstico e tratamento
Diagnosticar a EM pode levar algum tempo, pois alguns dos sintomas também aparecem em outras doenças. Mas uma vez diagnosticado, o portador terá que seguir tratamento por toda a vida. Cuidar da alimentação, repousar e continuar tendo uma vida ativa fazem parte do tratamento.
Uma das recomendações da Associação Brasileira de Esclerose Múltipla é manter um programa de exercícios físicos, com especial atenção para os que promovem o equilíbrio. Além disso, as avaliações médicas periódicas são essenciais.
Nos últimos anos utilizam-se diversos medicamentos, chamados imunomoduladores, que ajudam a modificar a alteração da doença. Porém, uma das principais consequências da doença, além das limitações físicas, são os efeitos psicológicos. Depressão e ansiedade são comuns e à medida que o portador se sente mais dependente dos cuidados de outras pessoas, esses problemas podem se agravar. Dessa forma, fazer acompanhamento terapêutico também faz parte do tratamento.

Causas da doença
De acordo com a Abem, a causa da EM ainda é desconhecida. As pesquisas são dirigidas ao estudo do indivíduo portador, como também do ambiente onde vive. Acredita-se que certos fatores transmitidos hereditariamente podem favorecer o surgimento da doença, ou, ao contrário, proteger o indivíduo contra ela.
Embora reconhecida e descrita há mais de 160 anos e, desde então, estudada, só existem hipóteses das causas. Dentre elas destacam-se os estudos dirigidos tanto à parte imunológica quanto à incidência de vírus.
A deterioração da mielina é provavelmente mediada pelo sistema imunológico. Parece que em indivíduos geneticamente predispostos há uma anomalia na resposta imunológica, que resulta num ataque maciço ao próprio tecido nervoso, isto é, uma resposta autoimune. Ainda não foi identificado um antígeno específico. Uma teoria defendida por pesquisadores é a de que o desencadeante responsável é um vírus. Alguns investigadores acreditam que o sistema imunológico interpreta uma parte da proteína mielínica como sendo um vírus de estrutura similar e a destrói (mimetismo molecular). Outros teorizam que pequenas quantidades de mielina são liberadas para a corrente sanguínea depois de uma infecção viral, resultando em autoimunização.

Sintomas
A esclerose múltipla é uma doença muito variável e os sintomas dependem das zonas afetadas no Sistema Nervoso Central. Em cada indivíduo a doença se manifesta com diferentes sintomas, que variam em cada caso.
A primeira lesão a se manifestar clinicamente pode não ser a primeira ocorrida. A maioria das pessoas experimenta mais de um sintoma, sendo os mais comuns: fadiga, fraqueza muscular, parestesia (sensação tátil anormal, por exemplo, formigamento), deambulação instável, visão dupla, tremor e disfunção da bexiga e dos intestinos.
Na grande maioria dos portadores, a doença provoca uma série de crises cujos sintomas podem ser discretos ou intensos e que aparecem e desaparecem. Isso faz com que o doente se recupere parcial ou totalmente das dificuldades resultantes desses sintomas. Dependendo da área afetada do sistema nervoso, que varia de pessoa para pessoa e de tempos em tempos, na mesma pessoa (surto e remissão, respectivamente), as lesões da esclerose múltipla provocam grande variedade de sintomas e sinais iniciais querem isolados, querem combinados.
Transtornos visuais:
* Visão embaçada;
* Visão dupla (diplopia);
* Neurite óptica;
* Movimentos oculares rápidos e involuntários;
* Raramente, perda da visão;
Problemas de equilíbrio e coordenação:
* Perda de equilíbrio;
* Tremores;
* Instabilidade ao caminhar (ataxia);
* Vertigens e náuseas;
* Insensibilidade em uma das extremidades;
* Falta de coordenação;
* Debilidade, pode afetar pernas e o andar;
* Fraqueza geral.
Espasticidade:
* Espasticidade;
* Parestesia (sensação tátil anormal), ou sensação de queimação ou formigamento em uma parte do corpo;
* Outras sensações não definidas;
* Pode haver dor associada à esclerose múltipla, como por exemplo, dor facial (neuralgia do trigêmio) e dores musculares.
Fala anormal:
* Lenta;
* Arrastada;
* Mudanças no ritmo da fala;
Fadiga ou cansaço:
A fadiga é um dos sintomas mais comuns (e problemáticos) da esclerose múltipla. Costuma ser excessiva, sobretudo no calor e em ambientes mais quentes.
Problemas de bexiga e intestinais:
Incluem a necessidade de urinar com frequência e/ou urgência, o esvaziamento incompleto e em momentos não apropriados e a retenção urinária. Os problemas intestinais incluem retenção fecal e, raramente, a perda do controle do esfíncter.
Sexualidade:
* Impotência;
* Excitação diminuída;
* Perda de sensação;
* Sensibilidade ao calor; O calor provoca frequentemente uma piora passageira dos sintomas.
Transtornos cognitivos e emocionais:
Alterações cognitivas são evidenciadas em cerca de 60% dos pacientes de esclerose múltipla; a maioria desses apresenta uma deficiência discreta, enquanto que 10 a 20% têm uma deficiência significativa. Funções cognitivas mais frequentemente comprometidas são a memória, concentração, discernimento ou raciocínio. Raramente há deterioração da função intelectual.
Grupos de apoio
Descobrir-se com a doença pode ir muito além de saber o diagnóstico apresentado por um médico. A EM requer uma mudança de hábitos para manter a qualidade de vida. Por isso, na maioria das vezes, encarar a doença não é fácil para o portador e seus familiares.Para auxiliar as pessoas que já se diagnosticaram com a doença, existe em Passo Fundo uma associação, que começou como grupo de apoio. Em 2002, a hoje associação surgiu como Grupo e Apoio a Portadores de Esclerose Múltipla. Atualmente é a Associação de Portadores de Esclerose Múltipla.
O grupo foi criado pela necessidade dos portadores em conhecer outras pessoas que vivem com as mesmas dificuldades, para não se sentirem sozinhos. Associação tem como objetivo ajudar quem convive com a EM a superar os desafios que a doença lhe impõe. A Associação promove encontros mensais e mobilizações públicas, como para denunciar a falta de medicação, ou no Dia Nacional de Conscientização da EM, 30 de agosto."
fonte: Jornal O Nacional, caderno Medicina e Saúde, dias 5 e 7 de fevereiro de 2010, páginas 4 e 5 (http://www.onacional.com.br/noticias/SecaoEspeciais_10)


Legal né?
Quero fazer um agradecimento especial a jornalista Glenda Mendes, profissional exemplar que é responsável por essa matéria. Obrigado Glenda!
Amanhã tem mais... volte para ler a entrevista.
Até amanhã!
Bjs
Em tempo: Feliz Aniversário Gisela!!!! Muitas felicidades pra vc hj e sempre! Bjaum