segunda-feira, 16 de setembro de 2019

Atenção Plena e Carinho me seguraram


Oi gente, tudo bem?
Só de conseguir abrir esse página e começar a escrever, já me emociono. Afinal, foi aqui que muita coisa da minha vida começou. E eu não consigo deixar esse meu cantinho tão especial.
Os últimos meses foram nível super hard aqui em casa. Mas quando coisas muito difíceis acontecem, é o momento de pararmos para refletir sobre o que vivemos e também de recorrermos às coisas e pessoas que nos trazem paz. E esse blog, escrever para quem quiser ler ou para ninguém, me traz paz.
Quem me acompanha no instagram sabe do que eu tô falando. Mas, resumindo, em maio minha vó foi muito mal pro hospital. Achei que íamos ter que aprender a nos despedir dela. Quando ela voltou pra casa foi a vez do Jota nos dar o maior susto de nossas vidas. Levei ele pro hospital no dia 12 de junho quase sem consciência. Ele teve um quadro de encefalite que até agora não se sabe o que causou. Foram dias muito, muito difíceis. Encarar a morte do meu companheiro foi algo que doeu muito. Durante dias eu olhava pra ele na cama do hospital e chorava. Chorava por ele, por mim, pelo Chico. Mas o choro não podia durar mais que 5 minutos, porque o mundo não para pra gente cuidar de quem a gente ama. E, bem, eu tinha que cuidar do Chico, da casa, do trabalho, de mim. Confesso que ainda está difícil cuidar da minha pessoinha. E isso tem feito falta.
Mas, como nada na vida acontece por acaso, nesse mesmo momento de dor extrema, eu fui cuidada por muitas pessoas. Pessoas próximas que me ajudaram a dar conta do que eu precisava, e pessoas que eu conheci melhor nesse momento e que me deram presentes que eu levarei para a vida.
Um desses presentes foi participar do Shot para Mulheres, criado pela minha amiga Paulinha (a Paula Kfouri da AME, vocês conhecem. Olha que trabalho mais lindo ela tem feito também:https://www.facebook.com/Co_paix%C3%A3o-2080397448938435/). Me encontrar, mesmo que virtualmente, semanalmente com um grupo de mulheres me fortaleceu demais. E foi nesse mesmo grupo que conheci a Olga Duraes, que, se vocês ainda não conhecem, convido hoje a conhecer ( https://www.emmeditacao.com/).
Bem, hoje eu quero compartilhar com vocês o texto que escrevi para a última aula do meu percurso de Mindfullness com a Olga, como forma de agradecer a Olga e o Universo por essa oportunidade de conhecimento, centramento e cura, afinal, no meio desse turbilhão de emoções, a EM ficou quietinha no canto dela para eu poder viver todas as emoções que chegaram.

"O Mindfullness chegou na minha vida literalmente como um presente. Acho que foi a primeira vez que alguém quis me ajudar me perguntando como. Engraçado que a forma como chegou já fez uma grande diferença na minha vida. Estava eu afundada em mil sentimentos sem saber nomeá-los, agindo num piloto automático, porque a vida seguia enquanto eu não sabia ou queria olhar para meus medos e alguém me perguntou: Bruna, como a gente pode te ajudar? Tá precisando que alguém vá no mercado? Uma faxina em casa? Um grupo de mulheres que sabe que cuidado não é fazer o que se quer com o outra, mas perguntar o que ela precisa. E numa dessas perguntas veio o presente: quer fazer um percurso de mindfullness comigo?
O mindfullness chegou como a ferramenta que faltava para eu fazer o que todos dizem que eu devo fazer: cuida mais de ti Bruna. Não esquece de você mesma.
Verdade, eu estava esquecendo. As vezes ainda esqueço. Eu estava acostumada a guardar a minha dor no bolso pra cuidar da dor dos outros. Com o midnfullness eu percebi que a minha dor pode doer enquanto eu cuido do outro, e tudo bem. Aprendi a nomear melhor os sentimentos. Tudo antes era cansaço, agora é raiva, medo, angústia e também contemplação. Com o mindfullness tenho contemplado a vida por inteiro. Com a quietude consegui me ouvir melhor, ouvir melhor os outros e passar mais tranquila por momentos de terremoto.
Atenção plena ao ouvir, ao falar, ao comer, ao tomar banho, ao cuidar do meu filho. Se manter a atenção plena no momento do medo da perda do meu companheiro foi doloroso, foi também importante. Mas manter a atenção plena no sorriso do meu pequeno é algo que vai ficar tatuado na minha memória. Que bom que é estar presente no presente. Sentir. Que presente lindo esse que ganhei e que se manterá comigo em todos os presentes."

Até mais
Bjs

Em tempo: fazendo Mindfullness eu entendi melhor ainda porque escrever aqui me traz paz: porque não tem como escrever sem atenção plena. 

segunda-feira, 18 de março de 2019

10 anos de blog!!!!


Oi pessoal, tudo bem?
Há 10 anos eu sentei no canto do sofá de casa e comecei esse blog. Hoje, com outro computador, outro sofá, sigo sentando no canto (melhor lugar sempre) pra escrever sobre esses 10 anos de blog.
Esse espaço online é tão importante pra mim que nem sei dizer direito o quanto eu gosto de estar aqui. O quanto eu me sinto próxima de todos vocês que leem, comentam e torcem por mim, cada vez que eu abro uma nova postagem aqui no blog. O quanto eu penso nos emails, mensagens que vocês me enviam diariamente.
Mas, vamos lá, afinal, tenho ensaiado esse texto desde que começou o ano e eu percebi que faríamos 10 anos.
Sabe, quando eu comecei a escrever aqui não imaginava onde escrever sobre as minhas experiências me levaria. Nem no melhor dos meus sonhos eu estaria onde estou hoje. A vida foi me surpreendendo com pessoas incríveis, histórias maravilhosas, desafios impensáveis. E muito disso chegou pelo blog.
Primeiro as amigas e amigos que foram se chegando e hoje eu chamo de família. Família espalhada pelo mundo. Família que aos poucos vou descobrindo o tamanho do abraço. Cada viagem que faço vou abraçando um pedaço dessa família linda, que me emociona e me arrepia só de pensar em cada um de vocês.
Se há 10 anos alguém me falasse que hoje eu seria doutora no assunto doenças e internet, que eu teria minha própria casa, minha própria família, um filho lindo de viver, um marido extraordinário (e esclerosado), que eu trabalharia numa organização com pessoas que eu admiro demais (sério, que time!), estaria melhor fisicamente do que antes do diagnóstico, mais madura, mais leve, menos perfeccionista, menos culpada e muito, muito, mas muito mais feliz... não sei se eu acreditaria.
Mas é assim que me vejo 10 anos depois da criação do blog. Do blog que muitos falaram que não duraria nem um ano. Do blog que outros disseram que eu não aguentaria escrever. Do blog que foi me trazendo cada uma dessas coisas, pouco a pouco. E que eu recebi, com muita gratidão e amor.
Uma das coisas que eu sempre acreditei é que, quando estamos abertos as coisas boas, elas chegam. Assim como, se estivermos abertos só as coisas ruins, elas também chegam. Talvez por eu sempre acreditar que, por trás de cada coisa ruim tem um milhão de possibilidades boas, acabei chegando a lugares físicos e emocionais que jamais pensei.
E o mais legal, é que sempre me senti acompanhada por muitas pessoas. Pessoas que chegaram aqui no início e continuaram. Pessoas que passaram, tiveram uma participação intensa por um tempo e depois sumiram. Pessoas que vem e vão conforme veem necessidade. Pessoas que me fizeram ser quem eu sou hoje. Com uma coleção de histórias que foram me formando de diversas formas.
Compartilhar a minha vida foi a melhor escolha que eu fiz, não tenho dúvida disso. E por isso, continuarei compartilhando, mesmo que não seja todo dia como era no início. Porque eu me sinto mais feliz fazendo isso e, acredito, posso trazer alguma coisa bacana pra vida de outras pessoas também.
O sentimento que tenho por esse espaço virtual de escrita é de uma gratidão sem tamanho. O blog que virou canal no youtube, que virou instagram (tem conteúdo exclusivo lá, viu), que virou Esclerose Múltipla e Nós com o Jota e o Chico. Enquanto escrevo, meu rosto fica molhado com as lágrimas das lembranças de tudo que vivi nesses 10 anos. Obrigada por estarem comigo!
Fazendo um balanço, nesses dez anos, me mudei de cidade e depois duas vezes de casa, sendo que uma dessas foi pra morar na minha casinha, comprada por mim e pelo Jota (e todos que ajudaram também) para formar nossa família. No começo tinha um namorado, depois fiquei solteira mó tempão, fiz festa pra caramba e conheci o Jota, que hoje é meu parceiro de vida. Eu era bacharel em comunicação, fiz mestrado, doutorado e pós doutorado nesse tempo. No mestrado e no doutorado reconheci amigos e amigas que levo pra vida. E tenho mestres daqueles que digo "quero ser assim quando crescer". Conheci o Gustavo, com ele e a AME criei um time de blogueiros que morro de amores por e faço parte da AME desde seu início, o que me mata de orgulho também. Agora estou na AME e na CDD - Crônicos do Dia a Dia, um lugar lindo que me brilha o olhar só de falar, porque falamos das mais diversas condições crônicas nesse espaço.
Aprendi a ser a mulher que sou hoje, me aproximando do movimento feminista, o que me trouxe mais leveza para os dias, mas também mais responsabilidade na luta diária. Deixei de ser tão perfeccionista, deixei as culpas pra trás, aprendi a lidar com os estresses da vida e isso me ajudou muito a estar tão bem, física e emocionalmente hoje. Troquei diversas vezes de remédio nesses anos, menos o Avonex, que me acompanhou até mês passado e pra quem dou adeus agora, amando e odiando ele, sempre. Da coleção que remédios que eu tomava há 10 anos, me livrei de praticamente todos, agora só esperando a chegada do Tecfidera, que será meu novo parceiro.
Sem dúvida, a minha experiência mais importante nesses 10 anos foi a de gerar uma vida dentro de mim e descobrir um força, uma potência, um amor que eu jamais saberia se não fosse mãe. Ter o Francisco com a gente nesses últimos 2 anos (quase 3 contando a gravidez) me faz pensar como eu vivi sem ele antes. Hoje absolutamente nada é mais importante do que ele na minha vida. E dizer isso não é pesado, nem difícil, nem um lamento. É simplesmente a maior alegria dos meus dias. Entendo quem não quer ter filhos. Mas eu nasci pra ser mãe.
Foram os 10 anos mais intensos, de maior aprendizado e mais felizes da minha vida.
Que os próximos 10 sejam de mais alegrias ainda!
Algumas pessoas me cobraram uma festa de aniversário do blog. Vocês sabem, eu amo junção e festa, então, se me ajudarem a organizar, até o fim do ano sai uma festa sim. Mas sozinha tá difícil, então, podem se manifestar aí galere!
Outra coisa que me cobram há muito tempo é um livro. Bem, na verdade já tenho dois livros prontos que foram submetidos à algumas editoras mas até agora nenhuma quis publicar sem que eu tivesse que dar um carro (ou um rim) pra que isso fosse possível. Então, se alguém aí tiver contato com pessoal de editora, pode me passar que será bem vindo. Pela primeira vez estou levando à sério a pergunta "e o livro sai quando?".
Até mais!
Bjs

segunda-feira, 7 de janeiro de 2019

Um 2019 de abraços fortes


Oi pessoal, tudo bem? Como foi a virada de ano?
Pra começar o ano, um texto que escrevi no avião, mês passado, voltando de São Paulo, e que tem tudo a ver com um início de ano:


Oi gente, tudo bem?
O Fórum Atores da Saúde 2018 foi muito produtivo. Reunimos associações e ativistas de diversas patologias e, claro, a patota da Esclerose Múltipla para discutirmos os problemas e as soluções para o setor. Foram três dias de intenso trabalho e aprendizado. Peguei o avião de volta com um milhão de perguntas, dúvidas e projetos na cabeça. Mas de tudo, o que mais marcou, sem dúvida nenhuma, foram os abraços. Essa troca de energia gostosa, entre pessoas que tem o mesmo objetivo: mudar o mundo pra melhor.
As palestras foram interessantíssimas, os dados apresentados foram sensacionais e aquele Joga da Saúde, gente, vocês não tem noção...muito melhor que jogar banco imobiliário (uma hora explico pra vocês o que é esse jogo maravilhoso). Mas nada desse aprendizado faria sentido sem a rede que formamos ali. Rede essa que tem sido tecida há muito tempo, por muitos atores e atrizes, com muito trabalho, muita vontade de desistir, mas muita esperança de um mundo melhor pra quem tem uma doença e/ou uma deficiência, como nós.
É verdade que morri de saudades do meu Francisco. Mas tenho certeza que ele estava com menos saudade que eu e que um dia ele irá entender essas breves ausências da mamãe.
Participar desses encontros me fortalece. Me fortalece porque histórias de vida são compartilhadas comigo naquela hora do cafezinho, no descanso pro almoço, nos minutos que temos entre um painel e outro. E essas vidas me fortalecem. Me ajudam a seguir adiante. Aqueles abraços carinhosos de amigos que eu vejo uma vez por ano, as vezes menos, são importantes para me reiniciar. Para dar fôlego. Porque eu sei que, assim como eu torço pela alegria de cada um deles, eles torcem pela minha alegria. Formamos uma família. Nos emocionamos com as conquistas, choramos as perdas, rimos das bobagens e entendemos nossos sintomas em comum.
A esclerose tornou minha vida, provavelmente, diferente do que ela seria se eu não a tivesse. Jamais saberei como seria. E nem me interesso por saber. Porque o que ela tem me proporcionado é tão lindo, que não dá pra descrever. Claro, não foi A doença em si que me trouxe as amizades, a família, os aprendizados, os projetos, e sim a forma como eu resolvi lidar com ela. Ainda assim, ela ocupa um papel bastante central naquilo que sou, naquilo que faço.
Numa das pesquisas desenvolvidas pela AME que apresentamos no FAS, um dado chamou a atenção de todos: mais de 70% das pessoas com o diagnóstico de EM sentem mais gratidão hoje do que antes do diagnóstico. Talvez para quem não tem, não faça muito sentido. Para mim, faz muito. Porque para além do uso clichê da hashtag #GRATIDAO nas redes sociais, o que eu sinto diariamente é isso, gratidão. Claro que eu sinto medo também, e as vezes tristeza, e as vezes vontade de desistir de sonhos e planos. Mas a fé (não necessariamente religiosa) e a gratidão a minha vida e a forma como eu vivo hoje me impulsionam.
Então, hoje eu quero agradecer a você, que lê esse texto, que me acompanha, que manda email, compartilha, fala com um amigo sobre esclerose múltipla e nos ajuda nessa luta diariamente. Obrigada!
Até mais!
Bjs