quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Carta ao marido da jovem grávida

Aí o maridão lê seu texto e pede um espaço no blog pra fazer você chorar escrever.
Curtam, como eu curti, o texto do Jota aos papais grávidos:

Esse é um daqueles textos não programados; que vem de cascata (quem escreve sabe o que quero dizer). Entram no meio do seu dia já programado, bagunçando e deixando para depois tudo aquilo que você tinha elegido como prioridade. Escrever ganha ares de necessidade e precisa ser feito! É quase uma tromba d’água que cai de repente molhando de surpresa a roupa no varal. Algo que já existe completo no “mundo das ideias” e “só” precisa ser escrito. Depois de compartilhar a emoção da Bruna escrevendo sua carta à jovem grávida e lendo as coisas que diziam diretamente sobre mim, fiquei com vontade de escrever também ao marido da jovem grávida. Não tinha tanta noção do quanto algumas coisas que fazia meio que inconscientemente eram importantes para ela.

Carta ao marido da jovem grávida
Recentemente, quando uma amiga me confessou que estava grávida eu lhe disse: Parabéns! Antigamente, quando alguém me contava sobre uma gravidez, eu não sabia se felicitava ou consolava, mas hoje eu só parabenizo. Ser pai e acompanhar de perto uma gravidez é uma experiência fantástica. Então, se você é uma dessas pessoas: parabéns!
A dúvida tinha um motivo. Na adolescência, morria de medo de ser pai. Uma gravidez podia arruinar os planos que havia traçado. Não era um medo vivido individualmente, só meu. Era igualmente compartilhado por minhas namoradas. Era só a menstruação atrasar alguns dias para bater um temor na gente. Confesso que sentia um certo alívio mensal quando o ciclo se renovava e pensava: ufa! Não foi dessa vez. E lhes digo: é muito mais agradável fazer um teste de farmácia esperando que ele dê positivo do que negativo. Até sua namorada aparecer com a confirmação da “não-gravidez” na mão, parecem minutos intermináveis.
No entanto, o pavor da adolescência deu espaço às expectativas. Logo que começamos a tentar engravidar, vivíamos com alegria cada dia a mais sem sinal de menstruação. E quando a Bruna falava alguma coisa que não entendia direito ou anunciava que queria conversar comigo, já imaginava, ela ia me contar que não estávamos grávidos. (digressão surreal: ela me ligou agora para falar de uma Eco que tinha feito e só fiquei mais tranquilo quando ela falou que estava tudo bem. Ainda tenho esse pavor. Acho que ele vai me acompanhar pelo resto da minha vida como pai).
Felizmente, engravidamos logo no primeiro mês de tentativa. Imagino a frustração de um casal quando não consegue engravidar logo. Mas desde o começo colocamos que queríamos ser pai e mãe, independente da gravidez. A Bruna teve que parar a medicação e tínhamos um prazo médico para as nossas tentativas. Então a adoção era uma possibilidade bem presente, caso não conseguíssemos. Quem sabe um dia ainda seja realidade.
O Francisco foi cuidadosamente planejado, mas sabemos que nem sempre é assim que a banda toca. Uma gravidez inesperada pode atrapalhar a conquista de um objetivo idealizado. Mas vou lhes dizer: uma doença também! E tâmo aí! Então esse tal ideal só serve para continuarmos caminhando. A realidade é bem mais complexa e urgente. E você tem que escolher entre a realidade e o ideal.
Se escolher ser pai, talvez você possa passar a vida inteira se lamentando por um ideal não realizado. Ou pode aproveitar a experiência que a vida está lhe oferecendo e curtir quem realmente importa nesse momento: sua esposa e o filho que ela carrega no ventre. Certamente, tenho muita sorte de ter a Bruna como acompanhante dessa jornada. Uma companheira que sempre me fez colocar os pés no presente. Mesmo com todos os medos e inseguranças que se apresentam no processo da paternidade (e ainda mais da paternidade com uma deficiência) e sempre me lembrou e não deixava eu esquecer: “Ooooh, eu preciso de você aqui e agora”.
De nada adiantava eu ficar imaginando todas as dificuldades (o ideal nem sempre é o sonho do sucesso, às vezes está travestido de medo e insegurança. Pode ser pesadelo. Mas está sempre no futuro) que teria e esquecer-se de quem realmente precisava de você: a mãe de seu/sua filho ou filha ao seu lado. E essa é a primeira sugestão que dou aos maridos dessa jovem mulher grávida: esqueça do futuro, dos medos, dos objetivos. Sua vida é outra agora, tenha medo, mas vá com medo mesmo. Construa novos objetivos.
A gravidez pode ser esperada ou indesejada, mas, na verdade, você é mero coadjuvante nesse processo. Uma vez eu comparei a gravidez a um sonho: você pode estar presente na imaginação da outra pessoa, no entanto você terá acesso à narrativa do sonho unicamente se alguém te contar o que sonhou. A mulher grávida é como o sonhador. Você só saberá quando o nenê chutou, mexeu ou acordou se ela te contar. O sonho é dela e você alguém que se beneficia das palavras do sonhador.
E nesse sentido, cabe a você se interessar pela história que ela tem pra contar. E aí está a segunda dica: se interesse pela história. A Bruna nem sabe, mas adoro quando ela interrompe uma conversa que estamos tendo para dizer, olhando para a barriga: bom dia, filho! Sentir o primeiro movimento do dia deve ser algo mágico. Mas é uma coisa que não tenho acesso pela experiência, apenas pela narração. Só posso sentir a alegria que me toma quando vivencio essa cena; ver o carinho que a Bruna dirige à barriga etc. Isso eu posso sentir, e gosto.
Assim, como espectadores da natureza, fico meio sem entender àqueles que decidem não participar da narrativa; aqueles que abandonam, não se interessam e não vivem essa experiência. Mesmo que não programada, uma gravidez não tem nada a ver com você. Talvez seja fácil eu falar agora... provavelmente, não teria o mesmo pensamento na adolescência, enquanto a vida parecia um quadro a se pintar. No entanto, não é um ideal que constrói a nossa vida, mas o diário. E assim como é possível viver e batalhar pelos seus sonhos com uma doença, também é possível com uma gravidez não programada. No fundo deve escolher entre o ideal individual que se apresenta enquanto possibilidade ou um novo ideal construído coletivamente com sua família. Uma gravidez não esperada não significa abandonar seus sonhos, mas ressignificá-los. Sei lá, talvez não seja uma tarefa fácil, mas depois de tantos sonhos que adaptei às atuais condições por causa da doença, já estou craque e talvez você consiga se treinar um pouco. Essa é a terceira dica: Não abandone seus sonhos! Construa outros com sua esposa, namorada, ficante e com seu filho ou sua filha.
Outra coisa, a quarta dica: não se esqueça que a jovem grávida é, acima de tudo, uma mulher, com desejos, carências, manias, objetivos etc. – talvez mais exaltados no período, mas a mesma mulher de antes da gestação. Então me surpreende relatos de maridos que perderam o desejo na mulher ou que se afastam por alguma coisa. Não sei, talvez pra mim seja fácil, porque eu acho linda a Bruna grávida. Acho lindo aquela barriga nela. Pra mim, ela é a mulher mais linda do mundo e quero sempre estar ao lado dela, seja em carícias mais picantes, seja em “colinhos”. Não é uma dica do tipo “levante a autoestima de sua esposa”... não! Eu acho bonito mesmo! Mas entendo que cada caso é um caso, nem sempre a pessoa está feliz com seu corpo. Nesse caso, talvez você deva se esforçar para levantar a autoestima da jovem grávida. Não por pena, por amor!

Aqui estão só algumas dicas, mas não são regras. Melhor seria vê-las como sugestões. Certamente, a experiência pessoal e a dinâmica do casal podem avaliar melhor a utilidade dessas “dicas” e aperfeiçoar seus preceitos. São sugestões, não conclusões. Não são dicas do tipo manual (faça você mesmo ou faça assim, não assado). A gravidez e a paternidade são experiências incríveis e precisam mais de feeling do que receitas de bolo prontas.

segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Carta à jovem grávida

Oi queridos e queridas, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Estamos com 38 semanas de gravidez (lembrando a quem não entende de gravidez em semanas, que o total de uma gravidez é 40). Estamos ansiosos pela chegada do nosso pequeno e, ontem, recebemos um email de uma querida amiga que está nos primeiros meses de gravidez. Ao pensar numa resposta pra ela, acabei pensando em algo que eu gostaria de dizer a todas as mulheres que estão no início dessa caminhada linda, intensa e emocionante que é estar grávida. Então, peço licença ao assunto esclerose para falar de gestação.


Carta à jovem grávida
Olá amiga que está grávida. Se você não me conhece e está lendo essa carta, ainda assim te chamarei de amiga, afinal, compartilhamos de uma experiência única e inexplicável de nossas vidas: a gravidez.
Não importa a sua idade, jovem grávida, és jovem porque estás no início de um caminho que eu me encontro no final.
Eu sei que para cada uma de nós, essa experiência é diferente. Algumas, como eu, planejaram esse momento. Outras foram pegas de surpresa. Algumas tem um companheiro do lado, outras não. Algumas ficam felizes com essa vivência, com seu corpo, outras nem tanto. Por isso, não leve essas palavras como algo que você deve, obrigatoriamente viver nos próximos meses. Porque a sua gravidez e a minha são diferentes. No entanto, gostaria de te contar um pouco como foi para mim.
Eu conto porque nesses meses, às vezes eu sentia falta de alguém que vivia a mesma coisa que eu pra compartilhar. E a cada texto de amiga grávida que falava da emoção que estava vivendo, e eu me encontrava naquelas palavras, me sentia fazendo parte não só de um grupo - o de mulheres mães - mas me sentia parte de algo maior, sem explicação.
A verdade, minha amiga, é que nada... nadica de nada nessa vida nos prepara para a gravidez. Por mais que tenhamos vivido momentos intensos, emocionantes, alegres ou tristes em nossas vidas, absolutamente nada nos prepara para o momento em que nosso corpo gera um ser dentro da gente.
No início, quando ainda não sentimos ele mexer, ficamos olhando para o próprio ventre e pensando em como pode ter um serzinho ali dentro. E naquela ecografia que a gente vê que o bichinho de apenas 7cm já tem mãozinha, pezinho e rostinho, ficamos sem saber explicar como isso acontece.
Por mais que nos expliquem biologicamente como acontece, a transformação da gente em mãe é algo que não se explica.
Aí a gente fica querendo ver barrigão e sentir o bebê mexer. E começa a ler sites sobre o assunto, conversar com outras mulheres sobre isso e fica na expectativa. Eu jurava, com 4 meses, que aquilo que eu tinha era barriga de grávida. Hoje, olhando as fotos, eu rio, porque só fui ter mesmo barrigão a partir do sétimo mês. Então, não se culpe por andar meio torta no início, pra forçar uma barriga que ainda não existe. Ou, se você já tem o barrigão desde o início. Não é a barriga que faz a gente mais ou menos mãe. Nem os peitos, que, você vai ver, vão crescer, ficar estranhos e ligeiramente - ou muito - diferentes um do outro.
Mas nada, minha amiga, nos prepara para aquele momento em que você se olha nua no espelho e percebe que seu corpo são dois. Que sua alma são duas. E que você nunca se achou tão linda na vida quanto agora, carregando esse barrigão lindo. E mesmo você não conseguindo enxergar mais suas partes íntimas no banho, você ama esse barrigão mais que tudo e começa a sentir falta dele nas últimas semanas de gravidez.
No início a gente fica pensando, a cada movimento ou barulho estranho da nossa barriga, se aquilo é o bebê se mexendo (ou gases). Mas ele ainda é pequeno. Se mexe o tempo todo e a gente não sente. E quando perguntamos pra alguém como é e ouvimos aquele fatídico "você vai saber quando for", ficamos até brabas com isso. Mas, minha amiga, vou ser a mulher chata que diz: você vai saber quando for! E quando for, você vai ver que nada na vida te preparou pra esse momento. Nenhuma alegria vivida antes se compara a um filho brincando no seu ventre.
Antes disso acontecer, eu já conversava e cantava pro Francisco. Antes mesmo de saber que ele seria Francisco. Mas quando eles mexem, há uma interação entre mãe e filho que só nós sabemos. Só nós sabemos o quanto ele mexe de um lado pro outro com a conversa do papai e o quanto ele pula quando é a titia que coloca a mão na barriga. Só a gente sabe que ele mexe diferente quando encostamos na barriga algo frio ou quente. Só nós sabemos!
Pois é, amiga... entramos para o time das mães, esse time que tem coisas que só quem é mãe que sabe. E aí entendemos aqueles discursos de "quando você for mãe você vai entender". Porque é verdade. Só sendo mãe pra saber.
Os pais que me perdoem, mas é bom demais ficar grávida. Claro que existem coisas que só os pais sabem. E claro que não é preciso passar por uma gestação física para se tornar mãe e pai. Mas sim, é uma emoção diferente de tudo que alguém pode viver.
Eu cuido quando eu digo que tenho um dózinho de quem não engravida. Porque não é uma pena das mulheres que não podem engravidar, nem um julgamento sobre as que não querem. É um dózinho mesmo porque é algo tão gostoso, tão maravilhoso, tão tão tão... tão sem palavras, que eu gostaria que todas as pessoas no universo, homens e mulheres, pudessem vivenciar. Ainda que não queiram ser mães ou pais. Não sei se me fiz entender sem ofender ninguém... mas, enfim, eu queria poder compartilhar essa felicidade enorme que toma todo meu corpo com todas as pessoas...
Também, no início da gravidez, a gente fica com um pouco de medo, afinal, o bebê está ali dentro e deve estar crescendo saudável. Mas como saber? Como ter certeza? Como saber se o coraçãozinho está batendo se não podemos escutar diariamente, nem tocá-lo? Mais uma vez, minha amiga: você vai saber quando algo não estiver certo. E não hesite em ir no médico, mesmo que todo mundo diga que é bobagem, que é exagero de primeira gravidez ou que você tá fazendo fiasco. Porque, lembre-se, mãe sabe das coisas. E é incrível mesmo o quanto a gente sabe. Eu não achava que saberia, até que aconteceu: depois de um estresse emocional, comecei a sentir algo diferente no meu corpo. Fui na médica e descobri que meu colo do útero estava muito fino pra 30 semanas. E foi aí que fui pro repouso. Então, minha amiga, não se preocupe, você vai saber! Ou melhor, se preocupe, porque uma das coisas que acontece quando vamos nos tornando mãe é isso: ficamos mais preocupadas e atentas a tudo.
Aliás, sabe aquelas convicções que você tinha e defendia, como o feminismo, a igualdade racial, de gênero, o fim da fome no mundo? Então, isso tudo vai aflorar e você vai defender ainda mais. Afinal, o mundo não tem que ser melhor mais pra você e pra quem já está aqui, mas pro seu filho que está chegando. E você não quer que ele cresça ouvindo discursos de ódio, nem que ele naturalize o racismo, nem que ele cresça achando que pode tudo porque é homem ou que não pode nada porque é mulher. Quando engravidamos, damos uma carta de esperança ao universo e temos que fazer com que essa esperança continue com a gente e que perpetue com nossos filhos e nossas filhas.
E a barriga vai crescendo e você vai se transformando. Quando descobre que nada no mundo, nem as mexidas constantes do seu bebê na barriga, te prepararam para o momento em que começa a sair um líquido do seu peito e você se vê capaz de alimentar a sua cria. Nada no mundo te prepara pra isso. Assim como, eu sei, que isso não me preparou para o momento em que eu terei meu filho mamando no meu peito.
Outra coisa também é certa: você vai chorar! Vai chorar bastante. E isso não é ruim. É apenas a emoção que não cabe em você saindo pelos olhos. Você vai chorar quando ver aquele borrão na primeira ecografia e ouvir, pela primeira vez o seu segundo coração bater. Você vai chorar quando ler aquelas mensagens de maternidade que os amigos vão postar na sua timeline nas redes sociais. Você vai chorar quando cantar pro seu bebê e ele mexer suavemente ao som da sua voz. Você vai chorar quando tentar falar publicamente sobre a emoção de estar grávida. Você vai chorar quando for tentar ser o porto seguro do pai do seu filho, que está passando por transformações diferentes das suas, mas ainda assim, transformações. Você vai chorar quando ganhar um mimo cheio de carinho pro quartinho do seu bebê. E vai chorar quando pegar as roupinhas dele na gaveta da cômoda e ver o quanto ele vai ser pequenino ao nascer. E vai chorar quando ver crianças brincando no parquinho. E vai chorar quando parecer que você está vivendo tudo isso sozinha, porque só você na casa está grávida e parece que ninguém entende o que está acontecendo com você. E também vai chorar quando receber um email de uma amiga dizendo o quanto está torcendo por você e que já ama seu filho também. E vai chorar escrevendo um texto como esse... sem dúvida, você vai chorar!
Dizem que, quando você engravida, nasce também uma plantação de palpiteiros, e que essa plantação floresce ainda mais depois que ele nasce. E é verdade. Todo mundo tem um palpite sobre a sua gravidez. Mas, sabe, minha amiga, não leve isso como imposição dos outros. São poucas as pessoas que falam porque acham que você não vai saber o quê ou como fazer. A maioria delas fala como forma de carinho, porque se preocupam com você e com seu filho. E, quer saber, quando você menos perceber, vai estar fazendo o mesmo com outras mães. Porque é isso que a gente faz: a gente pega a própria experiência e tenta passar adiante. Eu passei esses nove meses ouvindo mil palpites. Ouvi todos com carinho e guardei comigo aqueles que me parecem servir. Claro que, dependendo do dia, a gente tem vontade de dizer chega! Mas aí a gente lembra o quanto é bom ter pessoas junto com a gente, mesmo que seja pra dar palpite furado, ou dizer "no meu tempo..."
Não sei você amiga, mas eu me sentia feliz e lisonjeada com cada pessoa que queria tocar na barriga e fazer um carinho. É um carinho na mãe e no filho. Claro que eu não tive a invasão de alguém desconhecido querer fazer isso. Mas é muito bom ter esse carinho!
E o carinho mais gostoso, para mim, foi o do pai do meu filho. Que me olhou nesses meses todos como se eu fosse a mulher mais desejável da terra. Que cuidou de mim e do meu corpo muito mais do que antes. Que soube me tocar, me acariciar e me admirar nessa transformação louca. Que soube secar todas as minhas lágrimas, ouvir todos os meus lamentos, medos, anseios e minhas palavras desconexas para explicar o que eu estava vivendo internamente. Que entendeu, nesse tempo todo, que além de mãe, eu continuava sendo sua mulher, sua namorada e que eu precisava de colo, muito colo o tempo todo. Nada vai te preparar para acordar no meio da madrugada e ver que seu parceiro está fazendo carinho na sua barriga, mesmo estando dormindo num sono pesado. Nada vai te preparar para ver seu marido, companheiro, namorado, se tornar o pai do seu filho.
Bom, e se você tem bichinho de estimação, como gato ou cachorro - no meu caso eu tenho dois gatos - nada vai te preparar para aquele momento em que você percebe que seu bichinho sabe que tem um filhote dentro de você. Nada vai te preparar para o felino ronronando do lado de fora da barriga e o bebê "respondendo" do lado de dentro. Nada vai te preparar para aquela madrugada em que você acorda com uma contração e, quando olha para o chão, ao lado da cama, estão os dois gatos olhando pra você, como se tivessem previsto que você precisava de alguém.
Então você começa a ter contrações no final da gravidez. E lê sobre as tais contrações de treinamento e vai batendo aquela ansiedade pra saber quando vai ser o parto, como vai ser o trabalho de parto, que dor você vai sentir, e se aquilo ali é de treinamento ou se já é de verdade. E, mais uma vez, as pessoas te dizem: calma, na hora você vai saber.
Acho que elas devem ter razão. E, por isso, eu senti mais ansiedade há duas semanas, quando eu tive as primeiras contrações fortes de treinamento do que agora, mais perto do parto. Afinal, eu já entendi que, quando eu engravidei, instalaram uma espécie de chip na minha cabeça - ou seria no meu coração? - que me faz saber de coisas que eu nem imaginava que saberia.
Minha amiga, eu te contei um pouco - bem pouco mesmo - sobre a minha gravidez. Não que eu ache que isso vai te preparar pra alguma coisa. Não se engane, nada vai te preparar pra viver esses momentos. E você vai vivê-los como tiver, puder e souber viver. E isso vai te transformar em outra pessoa. E você nem vai reclamar disso.
Eu não acho que tudo que já li, ouvi e vi sobre o parto tenha me preparado para o momento que estou prestes a viver. Por mais que as pessoas me digam que ver o bebê, tocar, cheirar ele pela primeira vez é algo mágico, só quando eu passar eu vou saber. E é por isso que eu não tenho medo de pegar no colo, dar de mamar, dar banho etc... eu vou saber! E vou saber porque vou aprender com quem já sabe, mas, principalmente, com esse menino com quem me relaciono desde antes de saber que estava grávida, que me ensinou a ser mãe dele antes mesmo de nascer. Porque, minha amiga, esse relacionamento que construímos com nossos rebentos, nem a gente sabe explicar.
Pode ser que a sua gravidez seja completamente diferente da minha. Pode ser que esse relacionamento só comece quando você ver seu bebê. Pode ser que você deteste seu barrigão e não consiga se relacionar com esse novo corpo. Pode ser que o relacionamento com seu parceiro piore e não melhore, como foi o meu. Pode ser que você se sinta triste e não radiante.  E isso não vai te fazer mais ou menos mãe. Ou uma mãe melhor ou pior. E, tudo bem... porque cada mãe tem um modo diferente de viver a maternidade.
Fica tranquila, você não vai estar
preparada, mas vai saber!
Beijos

segunda-feira, 7 de novembro de 2016

Por que sou CONTRA a PEC 241 / PEC 55

O assunto de hoje é sério!
Sim, eu estou super envolvida com assuntos de bebê, parto e mamá. Mas eu também vivo no mundo, continuo trabalhando, lendo, estudando e não consigo não escrever sobre esse tema que tem atormentado a vida de todo brasileiro consciente: a PEC 241, que agora, no Senado, é a PEC 55.
Me atormenta porque eu, Bruna, fiz mestrado e doutorado com bolsa da CAPES, só não fui pro exterior fazer parte do doutorado por escolha minha, mas existia bolsa pra eu ir, caso eu quisesse (e sim, é importante na formação). Me atormenta porque eu tomo uma medicação de alto custo que recebo pelo SUS. Porque meu marido faz reabilitação (fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia, terapia ocupacional) pelo SUS, porque as duas cadeiras de roda que ele usa e a cadeira de banho (que foi encomendada agora), também vieram pelo SUS. Porque metade das medicações que ele toma, tanto de médio quanto de alto custo (e são muitas), recebemos pelo SUS. Me atormenta, porque meus avós, que já tem mais de 80 anos de idade, tem seu atendimento de saúde no posto do SUS, e é um atendimento exemplar. O marcapasso que a vovó usa é de última geração e ótima qualidade. Quando meu vô teve meningite e precisou ficar 2 meses no hospital, foi pelo SUS e, vou ser sincera, a qualidade das instalações eram melhores do que muito hospital que eu fiquei com plano de saúde.
Me atormenta porque eu quero que as próximas gerações tenham essa oportunidade que eu e minha família tivemos e continuamos tendo.
Mas se essa PEC passar, meus caros amigos e minhas caras amigas, temo que nada disso mais vai existir.
Já que aqui falamos de EM e saúde, vamos nos ater mais às questões de saúde então.
Eu sei que o SUS é melhor no papel que na realidade. Ainda assim, ele é bom. E eu defendo o SUS porque acho que ele tem que melhorar sim, e tem que continuar existindo. Eu sei que não é satisfatório ainda hoje. Mas se hoje ele funciona mais ou menos, com a PEC, esqueçam até o mais ou menos.
Sabe aquelas novas medicações que a gente fica lutando pra que entre pelo SUS, aqueles novos orais, aquele que serve pra EMPP? Esquece. Com esse novo orçamento pra saúde, não vão entrar, porque pro governo isso é gasto, não investimento. Ah, e se hoje já tá difícil de conseguir o auxílio doença, vai ficar cada vez mais difícil. E aí, danem-se as pessoas com EM que não vão ter nem atendimento decente, nem medicamento de última geração, nem condições de trabalhar, nem auxílio doença. Vamos viver de... bom, sei lá do que...

Mas Bruna, o que é essa tal de PEC 241/55?
Vamos lá! O governo de Michel Temer tem promovido um ataque sistemático aos direitos sociais previstos na Constituição de 1988. A apresentação da PEC 241/2016, que estabelece um novo regime fiscal para gastos com saúde e educação é mais um exemplo disso. No texto apresentado, valores mínimos dos gastos com saúde e educação da União passarão a ser corrigidos pela inflação do ano anterior, e não mais pela receita. A PEC 241 terá validade de 20 anos, com possibilidade de revisão em 10 anos. Um dos maiores retrocessos da proposta é que os investimentos não mais estarão atrelados ao Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro, como ocorre hoje.
É como se uma família que quisesse economizar, pegasse o mês mais apertado e difícil do ano e tivesse as condições econômicas daquele mês durante 20 anos! 

Já pensou????
Aqui tem um vídeo, bem em cima do muro, que explica o que é a PEC:


Mas como eu não sou em cima do muro, como eu tenho um posicionamento e ele é sim contra e crítico a PEC, prefiro esse: 


E ter um posicionamento contra um desatino desse governo não é ser "petralha" ou qualquer "xingamento" que queiram dar. Porque, honestamente, não importa se você votou na Dilma ou no Aécio, se você era a favor ou contra o Impeachment da presidenta, se você é dos "vândalos" ou dos que batem panela, se você é mortadela ou coxinha: se você é cidadão brasileiro, você vai ser afetado, negativamente, com a aprovação dessa PEC do fim do mundo!

Mas no que isso vai afetar a minha vida?

Em tudo! No momento em que o investimento público em saúde e educação é cortado, tanto a educação pública quanto a saúde correm o risco de morrer. Olhem só o que diz o Ronald Santos, presidente do Conselho Nacional de Saúde:

 “Ao fim e ao cabo, aprovando essa PEC, ela vai significar morte; por isso nós devemos rebatizá-la como a PEC da morte, porque ela vai causar a morte do povo brasileiro. Não podemos admitir que o principal contrato do povo brasileiro, que é a Constituição, seja rasgado. Por isso é fundamental que todas as organizações, de forma mais ampla possível, mobilizem o povo brasileiro no sentido de dizer não à PEC da morte”.

A PEC 241 estabelece um teto para as despesas primárias (que atendem as necessidades da população) e não inclui as despesas financeiras, como os juros, por exemplo, que continuarão sem nenhum limite.

Hoje já não temos investimento suficiente em saúde e educação, e ainda teremos, caso aprovada, esses investimentos congelados. Isso significa não apenas menos SAMU, menos tecnologias de saúde aprovadas para o SUS, mas também menos pesquisas em saúde, menos profissionais sendo formados e, com isso, uma precarização de todo um sistema de atendimento.

Entenda melhor o impacto da PEC 241 na educação e porque eu sou a favor das ocupações:


#OcupaTudo
Meu dó é estar de repouso e não poder ajudar no #OcupaUFRGS #OcupaFaced. Porque meus amigos e colegas que estão lá ocupando e todos os jovens que ocupam hoje as escolas não são vândalos que não querem estudar. Pelo contrário, são pessoas inteligentíssimas, que querem garantir a continuação de seus estudos e também o futuro da educação. Meus queridos e minhas queridas, continuem firme na ocupação. Enquanto eu fico firme no repouso, garantindo que Francisco venha no tempo certo, vocês ajudam a garantir que ele possa estudar com qualidade!!!

PEC 241 e Saúde

Se aprovada a PEC 241, a partir de 2017 os recursos destinados à saúde terão como base de cálculo 15% da Receita Corrente Líquida (RCL), estimada em R$ 758 bilhões no Projeto de Lei Orçamentária. Isso representará o valor de R$ 113,74 bilhões, que ficará congelado até 2036. A partir de 2018, a correção será somente pela variação anual da inflação, calculada pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). As perdas deste valor congelado em 2018 até 2036 totalizam R$ 438 bilhões, de acordo com as projeções baseadas nos cálculos do Grupo Técnico Institucional de Discussão de Financiamento do SUS, que compõem o estudo apresentado pela COFIN.

“A PEC 241 é uma ameaça extremamente grave, principalmente para os estados e os municípios, porque ela congela os recursos da saúde até 2036. Ou seja, o orçamento da saúde ficaria nos atuais cento e oito bilhões de reais até 2036, sem que se leve em conta o envelhecimento da população e outros fatores importantes”, afirma Odorico Monteiro, presidente da Parlamentar em Defesa do SUS.

O Governo quer fazer você acreditar que a crise financeira do país é provocada pelos investimentos feitos em necessidades básicas da população e não nos gastos exorbitantes das altas camadas da sociedade.

A PEC 241, acabando com o investimento social matará o SUS e jogará, obrigatoriamente, a conta de saúde para cada pessoa individualmente. Se hoje temos acesso a medicamentos de alto custo e atendimento em centros de referência de EM pelo SUS, com a aprovação da PEC teremos que recorrer ao sistema privado. Se, com a existência, ainda que precária do SUS, não temos uma igualdade e equidade no campo da saúde, com a aprovação da PEC, cada vez mais, saúde e educação serão objetos de luxo destinados a uma camada muito pequena e privilegiada da população.

Eu acredito que não podemos aceitar uma coisa absurda dessas. Por isso escrevo minha indignação. Por isso peço que você também não permita a perda de nenhuma direito. Por isso deixo aqui o link da Consulta Pública do Senado e peço que votem contra a PEC 55:

Enviem emails para seus senadores dando sua opinião também.
Não adianta só reclamarmos que as coisas não acontecem, que a vida de quem tem EM é ruim, se a gente fica quieto quando querem tirar o pouco que temos pra proporcionar qualidade de vida à todo cidadão e cidadã! Pensem em vocês, nos seus filhos, nas próximas gerações. 

Até mais!
Bjs
#ForaTemer
#OcupaTudo
#CorteZero

(Em tempo: eu não sou do PT, sou de esquerda sim, mortadela, vândala, contra o impeachment e a favor das ocupações. Me julgem! Mas não esperem que eu vá discutir com ninguém aí nos comentários... e mantenham o decoro, por favor. Não precisamos concordar pra conviver, mas sim, é preciso ter respeito!)