quarta-feira, 30 de março de 2016

Olhares


Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Tenho escrito pouco por aqui, mas é porque as palavras estão indo tudo pra tese...ehheheheeh. Depois de junho volto a escrever com mais regularidade por aqui.
Além da tese, tenho ido com o Jota todas as tardes na AACD pro tratamento dele. Lá ele faz fono, psico, terapia ocupacional e fisioterapia. Sobre o tratamento lá eu escrevo outra hora, porque hoje eu quero contar sobre os olhares nas ruas quando saímos juntos.
Sim...os olhares. Antes de termos uma rampa aqui no prédio, o Jota saiu pouco com a cadeira motorizada dele. E com a manual a gente não ia muito longe porque a antiga era pesada pra eu empurrar. Mas agora que a manual dele é leve e tem rampa pra ele sair com a motorizada, a gente sai bastante. E o fato da gente sair faz com que as pessoas olhem pra gente.
Eu lembro bem dos olhares das pessoas para a minha bengala. Fazia tempo que eu não via esses olhares dirigidos a mim. Mas agora, com o Jota e sua cadeira, voltei a reparar nesses olhares curiosos.
Algumas pessoas olham exatamente com esse olhar, de curioso. Tem pessoas que só não perguntam o porque da cadeira porque algum tipo de educação os impede de chegar e puxar conversa. Mas muitos perguntam, e a gente não perde a oportunidade de explicar a EM pra mais uma pessoa no mundo.
Os olhares curiosos não incomodam. A gente entende. Tá lá, um cara jovem, bonito, pilotando uma cadeira de rodas e as pessoas tem uma curiosidade quase natural pra saber o porque.
Estar numa cadeira de rodas é ser o centro dos olhares na rua. Não sei o Jota, mas eu não me incomodo. Fico observando os olhares dos outros como uma experiência antropológica. Até porque, o olhar dos outros está tão voltado pra cadeira que eles nem percebem que eu os observo.
No ponto do ônibus tem gente que chega a torcer o pescoço quando passa pra continuar olhando. À alguns desses, quando voltam a si e veem que eu estou olhando, eu dou um boa tarde com um sorriso. Sei que os deixo desconcertados. Não é essa a intenção. É só porque não sei olhar no olho e não dizer oi.
Acho engraçado as senhorinhas, que ficam olhando com aquela mistura de dó e compaixão. Elas costumam olhar pra mim e acenar com a cabeça, quase dizendo: parabéns moça, por estar com esse moço. Como se meu amor fosse ato de caridade. Ah, se elas soubessem o que fazemos entre quatro paredes... heheheheh
A grande maioria olha com dó. Alguns sentem tanto que dá vontade de chegar do lado e dizer: não se preocupe, a gente tá bem.
Outros olham pro Jota, olham pra mim, olham pro Jota de novo e ficam com aquele olhar de: como ela tá com ele? Ele tá "condenado" a uma cadeira de rodas!!! É um olhar de pânico, pavor, temeridade.
Tem os que olham com simpatia. Esses não só olham como cumprimentam com aquele sorriso e aceno de cabeça que diz: vai lá parceiro, você é um vencedor! São olhares que nos impulsionam.
Ah, e no ponto do ônibus tem os olhares impacientes, daqueles que pensam: puta merda, será que esse cadeirante vai pegar o mesmo ônibus que eu? Assim vou acabar me atrasando!
Nunca tivemos problemas no ônibus, os motoristas e cobradores são sempre muito solícitos (valeu amigos do 476), e os passageiros nunca reclamaram. Se se incomodaram, guardaram para si. E olha que já teve dia que o elevador do ônibus demorou mais de 10 minutos pra funcionar. Acho que estamos tendo sorte.
Eu já tinha pensado em escrever sobre os olhares das pessoas, mas senti uma necessidade de escrever depois do que aconteceu há uns 15 dias quando chegamos na AACD. Estavam, no ponto do ônibus quatro meninos. Adolescentes no auge dos seus 15 ou 16 anos, com seus skates a tiracolo. Naquele dia eu estava usando um macacão de malha azul (que, segundo o Jota, me deixa muito gostosa), cabelos soltos e, claro, com meu batom vermelho. Enfim, saí causando aquele dia. Chegando no ponto o Jota desceu primeiro com a parafernalha do elevador do bus e eu fiquei lá em cima esperando pra poder descer. Depois que ele já tava lá embaixo e os guris já tinham acompanhado toda a descida dele, voltaram seus olhares pra mim. Eu percebi, não sou boba nem nada. Desci como uma diva, me despedi dos rapazes do ônibus e fui ao lado do Jota. Quando encostei a mão no ombro dele o queixo de dois deles caiu no chão. Subindo a rampa pra entrar na AACD eu vi que eles tinham torcido o pescoço pra olhar nós dois. Eu vi que conversavam alguma coisa. Provavelmente diziam: deve ser irmã dele. Olhei pro Jota e disse: quer deixar quatro meninos chocados pro resto da vida? Para a cadeira agora e me dá um beijo! Fizemos isso, e os quatro queixos foram pro chão. Eles nem disfarçaram. E a gente saiu rindo... rindo muito. O Jota ainda disse: ela tá comigo por causa do meu carro!
Reparar nos olhares desses guria foi impagável. Acho que naquele dia a gente não chocou os meninos, a gente quebrou todas as expectativas que eles tinham sobre um homem cadeirante.
Eu continuo reparando. E como sei que o Jota é desligado, as vezes mostro pra ele alguém olhando.
Não reclamo de quem olha. Acho que é meio natural a gente olhar daquilo que destoa do comum. E uma cadeira de rodas destoa porque as pessoas não estão acostumadas a ver na rua. Temos é que sair mais, até o dia em que as pessoas não achem isso tão incomum, nem se choquem com um casal assim, nem fiquem tão consternados com isso.
Até mais!
Bjs

domingo, 20 de março de 2016

Girassóis para desanuviar a mente

Depois de uma semana de muito sol e calor o domingo amanheceu chuvoso.
O Jota acordou cedo e eu acabei perdendo o sono também. Uma questão rondava meu peito e não era só o céu que estava nublado...minha cabeça também.
Resolvi sair com a minha mãe, ir no mercado comprar os ingredientes pro almoço. Quem cai da cama abre o mercado no domingo. Não fui pra comprar flores. Não dessa vez. Mas a área de jardinagem sempre me capta por alguns instantes. E hoje não foi diferente. Abasteci o carrinho com mini rosas pra pendurar na minha parede, me encantei com novos e desconhecidos brotos e acabei escolhendo um vaso de Girassol. Gosto de girassóis, mesmo sabendo que são frágeis.

Mesmo num dia nublado, coloquei o bichinho lá fora, pra pegar uma claridade que fosse. No fundo, achava que mexer na terra e tomar um "sol" ia me ajudar a desanuviar a mente.
Domingo de tarde eu costumo tomar sol na Redenção, ou fico em casa trabalhando em dias de chuva. Mas hoje resolvi ir ajudar minha mãe e minha tia no trabalho de caridade no bazar do Dias da Cruz. Hoje não tem atendimento ao público, só tirar da caixa, ver se tá bom pra vender e colocar na prateleira. Sentei numa banqueta e comecei com os livros. Vocês sabem, eles são minha paixão e tem prioridade em qualquer lugar. Tirando um e outro, olhando as capas e títulos, acabei com o livro Girassóis, de Caio Fernando Abreu nas mãos. Não tive dúvidas em separar pra comprar. Quando cheguei em casa e reli esse conto de Caio entendi...


Zanzei o dia inteiro atrás de uma resposta que estava na minha cara desde a manhã, quando trouxe aquela flor frágil pra casa. E estava nos Girassóis de Caio.
"Quando voltei, a casa tinha sido pintada, muro inclusive, e vários girassóis estavam quebrados. Fiquei uma fera. Gritei com o pintor:  -Mas o senhor não sabe que as plantas sentem dor que nem a gente? O homem ficou me olhando, pálido. Não, ele não sabe, entendi. E fui cuidar do que restava, que é sempre o que se deve fazer. Porque tem outra coisa: girassol, quando flor, geralmente despenca. O talo é frágil demais para a própria flor, compreende? Então, como se não suportasse a beleza que ele mesmo engendrou, cai por terra, exausto da própria criação esplêndida. [...] Durou pouco, girassol dura pouco, uns três dias. Então, joguei-o pétala por pétala, depois o talo e a corola entre as alamandas da sacada, para que caíssem no canteiro lá embaixo e voltassem a ser pó, húmus misturado à terra. Depois, não sei ao certo, talvez voltassem à tona fazendo parte de uma rosa, palma-de-santa-rita, lírio ou azaléia.
Vai saber que tramas armam as raízes lá embaixo, no escuro, em segredo".





Aí eu entendi porque caí da cama num domingo chuvoso e ao invés de ficar em casa fui trabalhar. Não sei se isso faz sentido pra mais alguém, mas resolvi compartilhar porque, vai que faz né?
Sei lá, só sei que precisava (com ênfase no precisar) escrever isso...
Boa semana!
Até mais!
Bjs

sábado, 12 de março de 2016

EM na novela: como eu me senti em 20 gifs

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Vocês viram que a novela, aquela que o Nero supostamente tinha Esclerose Múltipla acabou? Escrevi dois posts sobre essa novela, um antes dela começar, na AME, com as expectativas e outro depois do diagnóstico do personagem Romero Rômulo. Hoje, escrevendo um texto encomendado que sairá em outro site, semana que vem, avaliando a novela de forma geral, resolvi fazer um post aqui resumindo minha experiência com essa novela em gifs animados...
Divirtam-se:
Antes da novela começar: Bruna, você viu que o personagem principal vai ter EM?

Mas Bruna, pode ser que seja bom, que eles façam direitinho...

vai nessa...

Bruna, você vai ter que ver a novela

Aham...sei...

Bruna, tá vendo a novela? Será que vai ser boa?

tô...claro...
Essa semana ele vai ter diagnóstico...não perde!

tô vendo!

Ele disse que vai virar uma samambaia


E o médico indiciou pra ele um psiquiatra, não um neurologista!


Bruna, tu viu que ele passou mal num dia e horas depois tava cavando um buraco, embaixo do sol carioca e não tava nem ofegante?


Grande surpresa... eu falei que ia ser uma bosta!

Depois disso, parece que esqueceram um pouco a EM do cara. E quando alguém me perguntava alguma coisa sobre a EM no Romero...


Parei de ver na terceira semana de novela e comecei a acompanhar só pelos comentários (raivosos) no facebook


E parece que pararam de comentar. Todos pensaram que era um falso diagnóstico e pararam de se incomodar com isso também...



...Mas aí vem um site que fica tentando justificar aquela esclerose mal escrita da novela (fala sério Novartis)... e a minha vontade é...


Bom, na reta final, alguém diz que o Romero ia "morrer de esclerose múltipla"


Não sem antes fugir, correr, se salvar, transar loucamente com sua amante, bolar planos mirabolantes, participar de uma facção criminosa, roubar, matar... tudo sem ter um pinguinho de fadiga ou sintoma ou surto

Um brinde à Esclerose Múltipla dos sonhos de todo esclerosado
E uma salva de palmas à ignorância e irresponsabilidade do autor, do ator e da Rede Globo
E aconteceria mais ou menos isso se o cara realmente morresse de EM:


Mas ele foi morto com um tiro

Aaah...que bom!
E, finalmente, a novela acabooooooou!!!! Acaboooooooou!!!! (Leiam isso lembrando do Galvão Bueno narrando o Tetra)
Acaboooooooooooooooooooooooooou!!!!!!! A novela acabooooooooou!!!!!!!
Era isso amores!
Até mais!

Bjs! Seus lindos!

sexta-feira, 4 de março de 2016

Time completo online... (agora só falta você)

Oi gentes, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! E mais ainda com a novidade que temos na AME: os novos blogueiros.
Há quase sete anos eu criei esse espaço aqui, pra dividir um pouco da minha vida com EM. Jamais imaginei que ele fosse crescer tanto e me levar por caminhos tão lindos, com pessoas tão especiais. Ele me trouxe um irmão, o Gustavo, fundador da AME, que me convidou pra trabalhar com ele na AME. No ano passado colocamos no ar cinco blogs. Em agosto fizemos o encontro de blogueiros de EM com muito mais blogueiros do que eu podia imaginar que existiriam há sete anos. De sozinha, porque não existia nenhum outro blog de EM naquela época, para um milhão de amigos e blogueiros comigo. Isso é fantástico!
Eu já expliquei aqui porque escrevo, e vejo que a maioria das pessoas escrevem por motivos semelhantes. Para mim isso é tão importante que virou minha tese de doutorado (tá acabando...). E como coordenadora da área de blogs da AME não podia deixar que nosso time continuasse pequeno. Queria um time mais completo, com mais gente, mais vozes, mais experiências. E foi assim que de cinco hoje temos quase 30 blogs e infinitos blogueiros...
Digo infinitos porque além dos blogueiros que lá já estão, você, que gosta de ler os blogs e tem uma boa história pra contar, pode escrever na AME também! Siiiiim!!!! Criamos o blog Depoimentos, que logo entrará no ar, com as histórias que nossos leitores que nem sempre querem criar um blog, mas querem compartilhar suas experiências.
Se você ainda não foi conhecer os novos blogueiros, dá uma olhada nesse post de apresentação dos blogs na AME.
Eu tô amando tudo que eu tô lendo lá. Consegui colocar pra escrever pessoas que já me apoiam e ajudam no dia a dia.
Nos últimos dias foram publicados textos sobre trabalho, sobre qualidade de vida, sobre tempo de EM e um texto que pra mim é um grande presente, feito com carinho pela minha neurologista Dra. Maria Cecília de Vecino, sobre a evolução dos tratamentos pra EM.
Não percam gente! Aproveitem textos de esclerosados, mãe, namoradas, maridos, médicos, enfermeira, fisioterapeuta, neuropsicóloga e, sobretudo, gente interessante e interessada em fazer alguma coisa pelo mundo!
Até mais!
Bjs

P.S.: eu sei que tenho escrito pouco aqui... mas pra tese ficar pronta mais rápido, isso vai ser necessário. Se você ainda não curte a minha fanpage no facebook, vai lá e curte porque eu tenho compartilhado os posts de todos os blogueiros da AME lá. Tem coisa boa pra ler todos os dias!