domingo, 18 de dezembro de 2016

Carta ao meu Francisco, ou, um relato detalhado do parto

Era o dia 02 de dezembro de 2016. Acordei como em qualquer outro dia, tomei meu café da manhã, molhei as plantinhas do jardim e sentei para descansar um pouco. Subi na casa da vovó para amarrar o anjinho do dia no quadro de natal e, quando olhei para aquele calendário natalino pensei: acho que ele vai ser do dia 03.
Quando desci para fazer o almoço, senti uma contração um pouco diferente. Aí pensei: vai ver entro em trabalho de parto hoje e ele nasce de madrugada.
Foi quase isso.
Depois do almoço, as contrações tomaram ritmo e vinham de 10 em 10 minutos. Liguei pra médica obstetra e ela disse: quando tiver 2 a cada 10 minutos me liga. Ontem na consulta eu mexi em você, pode ser isso também. Já fazia 38 semanas e 6 dias que você estava na barriga da mamãe,então, ainda tinha tempo pra você vir. Mas a mamãe sabe das coisas. Eu sabia que você estava chegando. Falei pro papai tomar um banho e descansar, porque talvez precisássemos de muitas horas no hospital pra você nascer.
Subi pra casa da vovó e tomei um banho gostoso, conversando com você. Cantamos nossas musiquinhas. Alisei a barriga com carinho, porque sabia que no dia seguinte ela não estaria mais ali. Quer dizer, eu sabia que o maior amor da minha vida estaria do lado de fora e não mais ali dentro, mexendo e interagindo comigo daquela forma especial que só nós dois sabemos.
Depois do banho, as contrações vinham de 5 em 5 ou de 7 em 7 minutos. E começou a doer. A primeira que doeu mesmo, a mamãe achou que era um louca vontade de fazer xixi, mas não conseguia me levantar. Foi aí que ligamos novamente pra médica, que mandou a mamãe ir pro hospital.
Ligamos pro titio Caco, que veio buscar a mamãe, o papai e tuas duas vovós. A mamãe estava muito tranquila. Com a tranquilidade de quem sabe que tudo ia dar certo, que não precisava me preocupar com nada. Acho que no carro, meu filho, a pessoa mais tranquila era a mamãe.
Quando chegamos no hospital, a mamãe nem precisou dizer pro moço da recepção que ia pra emergência obstétrica. Uma contração forte veio bem na hora. Mamãe foi caminhando, porque era mais confortável ficar em pé, com o corpo levemente inclinado pra frente, do que sentada.
A mamãe subiu pro atendimento com a vovó Sônia, enquanto a vovó Leda ajudava o papai, montando a cadeira dele pra que ele pudesse ficar com a gente depois.
Na sala de espera pro atendimento, tinha mais duas gravidinhas, prestes a conhecer seus filhotes também. Elas perguntaram que horas você vinhas, mas a mamãe não sabia, porque ia deixar você vir a hora que quisesse. Elas acharam estranho a mamãe não marcar hora pra sua vinda. Mas era bem assim que a mamãe queria.
Antes de entrar pro atendimento, mamãe criou um grupo no whatsapp pra avisar a família e os amigos mais próximos que você estava chegando e estávamos na maternidade do hospital. Muitas pessoas te amam meu filho, desde a barriga da mamãe, e estavam ansiosos por esse momento também.
Mamãe entrou sozinha pro atendimento. A enfermeira viu que tava tudo bem com a mamãe e as 17:10h ligou um aparelho pra ouvir os batimentos do teu coraçãozinho e contar o número e intensidade das contrações da mamãe. Eu fiquei ali, deitada de lado, olhando pro monitor do aparelho e ouvindo o teu coraçãozinho por 30 minutos. Quando vinha a contração, teu coraçãozinho acelerava um pouco e a gente ficou conversando sobre como seria o momento da tua chegada.
A médica da mamãe ainda não estava lá, então, a Dra. Laura atendeu a mamãe e viu que tinha 4cm de dilatação. Pra você nascer ia precisar de 10. Então ela calculou e, como você é o primeiro filho da mamãe, podia demorar um tanto de tempo, e disse: acho que até a meia noite o Francisco tá aqui nos seus braços.
As moças (enfermeiras e técnicas) que atenderam a mamãe naquela primeira sala foram muito queridas com a gente. Deixaram a mamãe ficar sentada num bola de exercícios, embaixo do chuveiro. Ajudava bastante pra segurar a dor de cada contração. Foi quando a mamãe tava no chuveiro que o papai chegou pra nos acompanhar. Nesse momento a mamãe ainda conseguia conversar no intervalo das contrações.
Saindo do chuveiro, levaram a mamãe pra sala pré-parto. Um outro quarto. Lá colocaram um soro no braço da mamãe e a dra. Aline, médica da mamãe,examinou pra ver quanto tempo, maius ou menos íamos esperar. Já estávamos com 7cm. Em uma hora aumentamos 3cm de dilatação. Enquanto a médica examinava a mamãe, a bolsa de água em que você ficava se rompeu e saiu uma aguaceiro na cama. As moças da maternidade limparam a mamãe, trocaram o lençol e eu fiquei sentada na bola, me apoiando na cama. As vezes doía e parecia que eu tinha vontade de ir no banheiro. Mas eu sabia que era meu corpo fazendo força pra você vir.
As dores foram piorando. Ficando mais intensas e mais próximas. Antes demorara 10, depois 5, agora já estava de 2 em 2 minutos e a mamãe mal conseguia se recuperar da dor anterior quando vinha a próxima. A mamãe suava muito e tremia. Resolvi deitar na cama, apesar de doer mais deitada. Estava com medo de desmaiar, cair da bola.
Uma enfermeira perguntou quanto era o nível de dor naquela hora, de 0 a 10. A mamãe calculou em 8. Depois de tudo, ela disse que naquela hora já devia ser 12...
A anestesista não tinha chegado ainda. A gente calculava que você ia demorar mais pra nascer, porque você é o primeiro bebê da mamãe. Mas, novamente, em menos de uma hora, aumentamos mais 3cm de dilatação e você precisava vir. Conseguimos uma pediatra de plantão pra ajudar a mamãe a te receber. E, quando já tava praticamente na hora de levar a mamãe pra sala de parto, a "anja anestesista" chegou. Eu falei pra dra. Aline que precisava fazer força, que meu corpo não aguentava mais não fazer força. E quando fizemos força ali na sala pré-parto, você já estava dando sinais.
Correndo a anestesista atendeu a mamãe, que já não conseguia sentar mais sozinha, então um médico e uma enfermeira seguraram a mamãe sentada. A Roberta (a mamãe conseguiu ler o crachá dela na hora) foi quem colocou a cabeça da mamãe no ombro e lembrava à mamãe que precisava respirar. Ela foi um anjinho também, assim como a anestesista, que deu uma injeçãozinha nas costas da mamãe que aliviou a dor.
Nessa hora levaram a mamãe pra sala de parto. A mamãe tava com tanto calor e suando tanto que já tinha tirado toda a roupa. Na sala de parto trocaram a mamãe de cama, pra uma onde eu pudesse colocar as pernas pra cima e fazer a força pra você sair. O papai foi junto, e colocaram um roupa especial nele, pra ficar ali com a gente.
Como a mamãe já não sentia mais a dor, a médica disse: você está tendo uma contração, faz força! Eu fiz toda a força que conseguia fazer. Já emocionada porque logo iria ver você. Depois dessa ela disse: mais uma e ele vem. E foi assim mesmo. Na segunda contração, ali na sala de parto, você veio naturalmente.
Não abriu um berreiro, nem chorou. Você saiu da minha barriga para o meu peito, abriu os olhinhos quando eu disse "oi meu amor",  e fez um resmungo, como quem dissesse, tô aqui mãe!
Foi lindo! A mamãe não tinha muitas expectativas sobre o parto. Mas posso dizer que foi melhor do que qualquer coisa que eu imaginei. Do que qualquer coisa que eu já vivi.
Você ficou ali uns minutos, antes de cortarem o cordão umbilical e levarem você pra pesar. O papai tava o tempo todo com a gente. E chorou quando viu você no colo da mamãe.
Sabe, antes de ter você, eu via cenas de parto e não entendia como as mulheres não tinham medo de derrubar o bebê, tão frágil, do colo, logo após o parto. Hoje eu sei que a gente liga um chip quando colocam o filho no nosso colo e, do nada, a gente sabe exatamente como pegar nossa cria.
Antes de levarem você pra pesagem, pro seu primeiro banho, as vacinas etc. O papai voltou na sala de parto contigo no colo. Foi a cena mais linda da vida da mamãe. Teu papai, que achava que não ia conseguir te pegar, foi o primeiro a te levar dum lado pro outro no hospital. A mamãe foi levada para um quarto, esperar você chegar e
tudo foi feito sob os olhares atentos do papai, que estava ao teu lado, e das vovós e da dinda Raquel, que viram tudo através do vidro, fotografaram e filmaram e iam enviando pra mamãe poder ver também.
Eu ainda passei pelo mesmo vidro e pude olhar elas ali, tão emocionadas quanto eu.
Te esperei no quarto. Quando você chegou, até jantar a mamãe já tinha jantado. O papai ficou ali por mais um tempo.

A vovó Sônia dormiu com a gente na primeira noite. Ou melhor, ficou acordada comigo, admirando você o tempo todo.
O parto foi lindo, foi perfeito e a mamãe saiu pronta pra outro. Sem nenhum corte, sem nenhuma dor depois. Só carregando o maior amor do mundo nos braços.
Assim foi o nosso dia 02 de dezembro. O primeiro dia seu aqui na terra. O primeiro dia do resto das nossas vidas, com muita alegria e luz, meu Francisco.
Nós viemos pra casa no dia 04. E a mamãe tem que agradecer muito a toda equipe que nos atendeu. Além da dra. Aline, todas as enfermeiras e técnicas que atenderam a gente foram muito carinhosas. Todas mesmo. Queria ter dado um abraço bem apertado em cada uma das pessoas que passaram por nós naqueles dias e marcaram nossas vidas pra sempre.
A gente teve muita sorte (ou merecimento) de ter anjinhos com a gente nesses momentos. E nisso incluo a tia Cintia e a pequena Helena, que havia nascido um dia antes, nossas companheiras de quarto e que queremos acompanhar pela vida.
Jamais vamos esquecer o carinho e dedicação das profissionais da maternidade do Hospital Moinhos de Vento. Obrigada meninas!
E obrigada também a todos e todas que foram nos visitar ainda no hospital (tio Neo, tia Lígia, Luana, Everton, dinda Raquel, tio Eduardo, tia Tata, biso e bisa, vô Roni, tia Neyra, tia Lúcia, vovós Marília e Helena, além das vós oficiais que estão sempre com a gente, Sônia e Lêda. Em especial o Dinho Gu, que veio de São Paulo pra te conhecer. O papai só vinha pra casa pra dormir e estava aqui pra nos receber quando chegamos.
Assim foi o nosso dia 02 de dezembro. O primeiro dia seu aqui na terra. O primeiro dia do resto das nossas vidas, com muita alegria e luz, meu Francisco.
Com amor,
Mamãe.