quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Limpando as gavetinhas

Oi amigos, blz?
Ontem, após escrever o post lembrei de um fato que estava guardadinho no fundo de uma gavetinha escondida da minha cabeça. E com o comentário feito pela Regina, sobre um homem que pensou em se suicidar ao saber da doença, vi que tinha que contar essa pra vocês.
Pouco antes do meu surto mais violento, que me deixou completamente, totalmente dependente, eu sentia muita dor.
Sentia dores horríveis pelo corpo todo. Como eu era adolescente e adolescente é um bicho meio bocó (desculpa aos adolescentes que leem o blog, mas esperem mais uns anos que vocês vão dizer a mesma coisa), comecei a achar que eu era um estorvo em casa. Aí, sentia as coisas e não dizia. Aliás, eu ficava pensando: será que não sou eu que to inventando isso não?
As dores foram piorando, até chegar ao ponto de eu não dormir por conta dela. Fiquei 4 noites sem dormir. Dava umas cochiladas no máximo.
Na primeira noite fiquei na cama, quietinha, esperando a dor passar.
Na segunda noite peguei minhas cobertas e fui pro sofá da sala. Vi que a dor não ia passar então resolvi ficar vendo TV. Nessa época descobri que a Globo News repete o mesmo programa das 4h às 6h da manhã (não sei se ainda fazem isso), e que só passava filme ruim de madrugada.
Na terceira noite comecei a ter o pensamento da morte. Não que eu quisesse morrer ou me matar. Mas eu queria que a dor acabasse e, naquele momento, parecia que a única solução para acabar com a dor (que não passava com os remédios normais) era deixando o meu corpinho. Pensava que, se continuasse com aquela dor, eu ia virar um ser insuportável, ia incomodar minha família e não ia poder estudar, trabalhar, etc.
Acho que foi nessa noite que a mãe se levantou pra ver o que era o barulho que vinha da sala. Ela ficou ali comigo, disse que no outro dia iríamos no médico. E, claro, ela também brigou comigo por eu não ter chamado ela nas outras noites e talz.
Fiquei mais uma noite acordada por conta da dor. Mas nos outros dias foi diminuindo com a nova medicação e por fim, ficou só as dores normais do dia a dia.
Mas quis contar essa história não por causa da minha dor, mas pra falar que não é muito difícil ter pensamentos de morte quando se sente dor. A dor faz horrores com a nossa consciência. A gente não consegue pensar direito, dormir direito, comer direito, viver direito.
Até ontem tinha "esquecido" dessa história. A dor foi tanta e eu tinha tanta vergonha de falar que pensei que morrer seria melhor, que tranquei essa lembrança bem trancada numa gavetinha escondida da minha mente.
Fiquei um pouco triste ontem ao lembrar disso. Mas, tenho que exorcizar meus demônios e admitir que já fui egoísta um dia, a ponto de não pensar na dor dos outros caso eu me fosse, e pensei só na minha dor, que eu queria que acabasse. Tenho certeza que minha família prefere me ter toda errada mesmo, do que não ter de jeito nenhum.
Você também já teve um pensamento assim? Não precisa ter vergonha não. Se você nunca teve, melhor ainda pra você. Mas acho que ter pensamentos egoístas como esse fazem parte de ser humano.
Somos feitos de carne, osso e emoções. Nem sempre nossas emoções são lindas e cheirosinhas. Temos nossos podrinhos também. Ainda bem que eu tenho pessoas ótimas perto de mim, que me mostraram um caminho diferente pra esquecer a dor e ver que, maior que a dor, é a minha vontade de viver e ser feliz.
Confesso que me assusto em pensar que já pensei nisso. Mas isso faz parte de mim, do que eu sou hoje, do que eu aprendi.
Ontem abri e limpei uma gavetinha empoeirada das minhas lembranças. Uma lembrança que me assombrava. Foi bom conseguir fazer isso. De vez em quando temos que fazer uma faxina nos pensamentos. Abrir as gavetas empoeiradas e bagunçadas para arrumar e ver que aprendizado tiramos dessas experiências que deixamos escondidas por tanto tempo.
Até amanhã!
Bjs

6 comentários:

  1. Não acho que seja egoísmo, só quem ja teve uma dor verdadeiramente forte e crônica a ponto se você não conseguir pensar em mais nada além de dor sabe o quanto isso muda as prioridades que você tem na vida e o modo de ver as coisas.

    Li uma notícia não lembro onde de um paciente que após alguns dias sem dormir por causa de dor pegou um revolver e raptou a familia de um médico para que o médico o atendesse e acabasse com a dor insuportável que ele sentia.

    Então acho que ninguém pode julgar a tua capacidade de resistir a dor. Chega uma hora que parece que nada mais importa...

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  2. Nas minhas pesquisas para o artigo de final da pós encontrei uma frase que achei mto interessante: "Toda dor é suportável, exceto a sua". Por isso devemos sempre amenizar a dor dos outros, que com certeza alguém vai melhorar a nossa. Bjs filha amada e sempre divida sua dor comigo.

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  3. pois é, a "dor" dói....mas já pensou se aqueles pensamentozinhos tomam conta, que grande falta faria estes textos teus aqui? ou as coisas boas e grandiosas que todos tem chance de realizar, pelo menos nas fases mais fáceis da vida? Ao analizarmos uma vida inteira, com bons e menos bons momentos, alegrias ou tristezas,A VIDA SEMPRE É BONITA !
    Anônimo 2.

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  4. Eu sei que posso contar contigo mami!
    Tens razão "Anônimo". A vida é bela!
    Bjs

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  5. Olá Bruna. Meu nome é Renata, tenho 31 anos e descobri o seu blog por mero acaso. Vi as notícias sobre uma criança de 5 anos na Grã-Bretanha que foi diagnosticada como EM e fui pesquisar.
    Diante da surpresa que tive há 6 meses, quando recebi o mesmo diagnóstico após uma neurite óptica,fique muito curiosa, além de muuuito triste, é claro. Também pensei em me matar e ainda penso várias vezes ao dia... É triste, mas não consigo evitar... Sei como se sente, sinto dores horríveis no olho esquerdo, aonde os sintomas se iniciaram e a dor realmente nos faz pensar em morte. Não se sinta culpada. Começo meu tratamento com interferon hoje e ainda tenho esperanças de que a minha EM não evolua. Vamos ver, né? Acho que a EM é pior do que um câncer, porque não mata, mas vai encapacitando aos poucos e isso é terrível. Estudei muito, sou Enfermeira, sempre trabalhei muito e agora meu cansaço, próprio da doença, vem me atrapalhando muito. Não consigo mais ter a mesma vontade de ajudar os outros, vontade inerente ao meu trabalho. Sinto-me culpada, mas não posso evitar, né? Bem, vamos ver até aonde eu vou aguentar.
    Bem, fiquei feliz ao saber que eu não sou a única com essa doença e que "tais pensamentos" são comuns às pessoas que sofrem com a EM. Trouxe alívio pra mim, não que eu fique feliz com isso, mas me traz a vontade de sempre superar e seguir em frente, afinal, Deus está vendo as nossas provações e sei que teremos como prêmio a evolução das nossas almas através dos diversos tipos de sofrimento pelos quais passamos, não só as pessoas portadoras da EM, mas todos que estão vivos...
    Grande abraço e parabéns pelo Blog.
    Renata

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  6. Olá Renata, seja bem vinda ao blog. Fico triste pelo seu diagnóstico, mas na torcida pela sua melhora. Com o tempo você vai ver que a incapacidade é só do corpo físico, a gente ainda pode fazer muuuita coisa com a mente. As vezes a gente se sente culpada e até egoísta. Mas acho que é normal do ser humano, principalmente do ser humano que tem compaixão.
    Fica bem!

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