segunda-feira, 22 de junho de 2009

O dia em que perdi o juízo

Oi amigos, tudo bem?
Com essa história de aniversário e tal, me lembrei do aniversário em que nasci de novo. E como envolve a dona Esclerose Múltipla, vou contar aqui pra vocês.
Eu ia fazer 18 anos, tava me achando gente até. Além de ganhar idade, ia perder o juízo, quer dizer, os dentes do juízo.
Para arrumar esse sorriso lindo, ia ter de tirar os 4 sisos (e mais tarde, 4 pré-molares) . Era muito dente pruma boca só. Podia escolher entre tirar 2 de cada vez ou tudo duma vez só. Pensei: se vou ter que ficar à base de creme de ervilha frio, sorvete e iogurte, vou ficar uma vez só. Assim, fui lá no dentista marcar a data da cirurgia, que seria num hospital, com anestesia geral e tal. Que dia ele tinha pra fazer a cirurgia? 18 de junho.
Antes da cirurgia, pedi pro dentista e pro anestesista conversarem com meu neuro.
Dia 18, tudo certo, fui pro hospital fazer a cirurgia.
Lembro de entrar na sala de cirurgia, de dar oi para o dentista e da enfermeira que instalou o soro e disse que eu ia me sentir meio sonol...
Acho que ela disse sonolenta. Depois disso, lembro de acordar bem atordoada, com um tubo desagradável na garganta, numa sala com outros atordoados como eu.
Mas o que aconteceu para que uma simples cirurgia pra tirar os sisos acabasse em parada cardio-respiratória e quase morte?
Burrice do anestesista e do dentista, lógico. O dentista disse que depois da cirugia eu cheguei a acordar e falar com ele. Ele disse que me perguntou se eu lembrava que dia era, e eu respondi que era o dia do meu aniversário. Nisso, ele saiu para avisar minha mãe que estava tudo bem, tinha acordado e só precisava ficar um tempo na recuperação.
A minha sorte foi ter um pai com conhecimento em socorro hospitalar. Senão, nenhum desses textos existiriam hoje. O que aconteceu, foi que o bocó do anestesista não se ligou que um portador de esclerose múltipla tem fadiga muscular, e que o coração é um músculo. O que ele fez: me deu um pré-anestésico, pra que eu senti-se menos, ou qualquer coisa do genêro. Mas a anestesia mais o pré-anestésico deixaram tudo "anestesiado demais". Eu voltei da anestesia, mas a minha musculatura interna ainda não tinha força pra voltar a funcionar plenamente sozinho.
Quando eu tava ficando roxa, meu pai chegou no hospital pra ver como eu estava. E como ele circula livre no hospital, entrou na recuperação pra ter certeza. Ele teve certeza que eu tava morrendo e me entubou. Digamos que tinha doente demais pra enfermeira de menos naquela hora. Enquanto elas salvavam um outro tiozinho na cama ao lado, eu tava pegando o caminho pra eternidade.
Não lembro de nada disso. Lembro que quando acordei entubada eu queria falar, pra saber o que tava acontecendo. O pai tava ali e disse que eu tinha ficado mal, que eu tava com um tubo e não podia falar. Aí ele veio com uma folha de papel e uma caneta, caso eu quisesse escrever. Mas eu tava tão grogue que só lembro de ficar braba porque, obviamente, não conseguia escrever. Não conseguia nem enxergar direito.
Algumas horas depois pude cuspir o tal tubo. Além da dor dos dentes arrancados, a garganta ficou arranhando por uns dias. Nessa época enjoeei de sorvete e iogurte.
Mas toda essa história é pra mostrar pra vocês o quanto a burrice de uma pessoa, que tem a nossa vida nas mãos, pode nos prejudicar. O bocó do anestesista devia ter estudado mais a minha doença, assim saberia como proceder antes e depois da cirurgia. Mas pra que né? Não era a filha dele, não era amiga ou parente dele. Era só mais um paciente. Se morrer, morreu. Imbecil!
Nos meus 18 anos ganhei minha maioridade e minha vida de volta, sem sequelas... ou não... vai saber... hehehe

Até amanhã!
Bjs

6 comentários:

  1. Puxa, Bruna... Sua vida é uma aventura - e não é de hoje!! Graças a Deus seu pai foi o cara certo na hora certa (ou errada? Bom, deu pra entender...). Lamento que o Junior não tenha tido a mesma 'sorte'... Ou, quem sabe, abreviou a sorte dele.
    Gostei da expressão "pegando o caminho pra eternidade". Essa palavra assusta algumas pessoas, mas eu ela conforta...
    Beijão, aventureira!!

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  2. Que vida agitada essa sua hein Bruna? De uma coisa eu sei, se um dia vc tiver filhos vai ter muita história pra contar e muita coisa pra ensinar.
    Que bom que vc ganhou sua vida de presente naquele dia, pois o que seria de nós sem vc aqui todos os dias, hein? Nos alegrando, nos ensinando inúmeras coisas, nos mostranso que a vida vale a pena ser vivida plenamente.
    Bjos!!!

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  3. É gurias, de falta de aventura eu não posso reclamar.
    É Adri, a eternidade também me conforta. Acho melhor do que pensar que nosso esforço aqui é em vão e acaba. Saudades do Junior, sempre!
    Bjs

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  4. Olá Bruna, sou filha de uma portadora de esclerose multipla. Minha mãe precisa realizar uma histerectomia, retirada do utero, gostaria de me informar melhor sobre as anestesias e procedimentos cirurgicos. Por isso achei o seu blog, é muito importante dividir suas experiencias!

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    1. Vou ficar torcendo para que dê td certo na cirurgia da sua mãe. O negócio é conversar direitinho com o anestesista e com o cirurgião para não tomarmos esses sustos depois.
      Bjs

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