sábado, 13 de julho de 2013

Porque um dia todo mundo vai...

(ou porque todo mundo vai um dia...)
Oi gentes, tudo bem?
Por aqui tudo ótimo! Vovó já tá quase pronta pra voltar pra casa, então respiramos mais aliviados.
Faz dias que penso em escrever sobre um tema que me "perseguiu" nas últimas semanas: a morte. Não, eu não tive nenhuma experiência de quase morte ou susto ou qualquer coisa do gênero, mas o tema morte foi recorrente e queria dividir com vocês.
Primeiro foi um post no face, de alguém perguntando "e se esse fosse o último ano da sua vida?". Eu li aquilo, fiquei pensando numa resposta e cheguei a conclusão de que eu mudaria muito pouco a minha vida se eu soubesse que iria morrer dentro de um ano. Porque, sinceramente, eu faço só o que eu gosto. E mesmo quando as coisas ficam mais difíceis ou mais pesadas, eu continuo fazendo porque eu acredito nas coisas que eu faço. Então, eu não faria muita coisa diferente só porque iria morrer. A única coisa que eu mudaria seria o seguinte: ia torrar a minha poupança viajando. Porque de nada vale viver um ano sem poder estar na companhia das pessoas que a gente gosta. E como eu teria certeza de que não precisaria da grana depois de morrer, podia torrar sem me preocupar com a falta dela mais tarde...
Bom, aí conversando sobre isso com uma amiga, ela me enviou o link desse vídeo:

Os cinco arrependimentos mais comuns das pessoas que estão em estado terminal. Eu vi e entendi um pouco do porque eu não tenho vontade de mudar radicalmente nada na minha vida.
Achei bem legal, principalmente a parte que a geriatra diz que "quando você deixa de fazer o que é importante pra você pra fazer o que é importante pra outra pessoa, esse tempo não volta". E isso eu aprendi já faz algum tempo. Que eu não posso agradar a todos e deixar todo mundo feliz, então, mesmo que pareça um pouco egoísta, trato de me fazer uma pessoa feliz, porque assim eu vou ter algo de bom pra oferecer pros outros também.
Além disso eu falo tudo que eu sinto. Falo até demais as vezes. Mas nunca me engasguei com palavras trancadas na garganta. E eu trabalho com o que eu gosto. Então, acho que isso me facilita a vida.
Bom, essa foi a "chegada da morte" n.1. Depois disso eu fui numa aula em que uma colega apresentou um trabalho sobre um documentário que eu gosto muito (quem ainda não viu, eu recomendo): Nós que aqui estamos, por vós esperamos.

Além do documentário ter uma produção incrível e uma trilha linda, ele dá muito o que pensar. Fora as questões acadêmicas, filosóficas, sociológicas, sempre que eu vejo, fico pensando em que conjunto de 3 ou 4 frases vão resumir minha vida depois que meu corpo se for. Vão lembrar da Bruna pela carreira profissional, pela vida em família, pelo gosto dela por bolinhas de sabão, pela nega maluca que ela fazia, pelo blog que ela teve, pelos amigos que fez, pelas bobagens que disse, pelas coisas que ela curtia no facebook... Não tem como ver esse filme e não pensar em si mesmo. A piada na aula foi que, futuramente as pessoas não terão epitáfios, mas o link do face e o link do Lattes... hehehehe. Mas até com a piada eu fiquei pensativa, porque, afinal, nem um quinto do que eu sou está nas redes sociais, blogs e currículos...
Um dia depois de rever o documentário, a chegada da morte n.3 foi no hospital. E dessa vez foi mais punk. Eu estava no corredor de uma área de exames (onde eu não deveria estar, mas eu fui pra ajudar a vó e acabei ficando ali mesmo, meio perdida) aguardando a vó sair do exame quando um senhor, que estava fazendo um exame naquela ala começou a passar muito mal. Todos os médicos do setor foram atendê-lo. Correria total, médicos gritando, enfermeiras chamando mais gente e... bom, ele morreu ali, na minha frente. Enquanto a correria acontecia, eu fiquei rezando: rezando por ele, pela equipe médica e pelos familiares que logo logo teriam que lidar com a falta e a saudade de um ente querido.
Depois que as pessoas se acalmaram no setor, voltaram a fazer os exames e eu continuei ali, aguardando. Um pouco zonza com tudo aquilo. Mas aí tiraram um menino da sala de exames e deixaram ele (na maca) no corredor. Não devia ter mais que 12 anos e estava dormindo. Deve ter dormido durante o exame. Pela falta de cabelos e como ele vinha do Hospital Santo Antônio, julguei que ele tinha algum tipo de câncer. Fiquei olhando pra ele e pensando "como é que deixam uma criança sozinha aqui?". Nisso o menino abriu os olhos, um pouco assustado, me olhou e perguntou: eu morri?
Cheguei mais perto, peguei na mãozinha dele e disse que não, que ele tinha ido fazer um exame e que já já iam levar ele pro quarto dele. Ele tentou arrancar os acessos de soro, mas eu segurei e expliquei que não podia. Fiquei com dózinho por ver uma criança com medo de acordar e ter morrido. E fiquei muito puta com a equipe responsável do hospital por deixar a criança ali sozinha. Já imaginou se ele acordasse sozinho? No fim eu tava no lugar errado (porque familiares não podem ficar ali), mas tava no lugar certo :P
Sim, a morte me perseguiu nesses dias. Mas pra me mostrar o quanto eu tenho uma vida feliz. O quanto a minha vida é um presente. E o quanto eu realmente vivo, não apenas existo. Porque se é pra ocupar espaço nesse mundo, que seja pra fazer alguma coisa.
Bom, o post não tem nada a ver com EM. Mas ao mesmo tempo tem tudo a ver né, afinal, quem nunca pensou: nossa, eu tenho EM, a partir de agora vou mudar minha vida. E eu conheço muita gente que mudou para muito melhor. Já que ter EM é uma droga, que ela sirva pelo menos pra gente ter noção da fragilidade dos nossos corpos, da finitude dos movimentos e dessa vida. E se esse corpo tem um fim, que façamos o período em que ele está vivo valer a pena.
Até mais!
Bjs

frase em um túmulo no cemitério da Recoleta - Buenos Aires


p.s.1: sobre EM e expectativa de vida eu escrevi aqui: http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com.br/2012/05/como-assim-sobrevida.html
p.s.2: quando eu morrer, me cremem que eu não quero ficar ocupando espaço aqui não ; )


6 comentários:

  1. Olá Bruna,
    Meu nome é Karina e gostei muito da sua publicação. Sim realmente todos deixarão esta vida, e acredito que a vida nos foi dada de presente para que ela seja feliz.
    Não importa se será de maneira fácil ou difícil, o importante é 'saber viver'.
    E viver é curtir o 'presente',tenho uma irmã com EM e admiro como vocês conseguem entender que o dia de hoje é o importante, é o momento a ser vivido de forma inexplicável.

    Abraços

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    1. Oi Ana, obrigada pelas palavras!
      E manda um bjo pra tua mana ;)
      Bjs

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  2. A sabedoria da vida está dentro do nosso coração. bjao.

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  3. Que lindo Bruna,é a única certeza da vida né? Um dia deixaremos este mundo e as pessoas que amamos, mas não é fácil aceitar essa ideia.
    O importante é curtir ao máximo e concordo com você no que diz respeito a fazer o que se gosta, a vida é breve. Já deixei muita coisa de lado para ver o próximo feliz, mas depois do diagnóstico mudei bastante. Porque na hora do aperto é difícil encontrar quem abriria mão de algo por você.
    Hoje sou mais eu, bola pra frente e positividade sempre.
    E o caso da criança só reforça o que sempre falo, tem coisa pior neste mundão.
    Bjs

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  4. Olá, estou meio perdida aqui rs, eu não tenho EM mas minha mãe fi diagnosticada a mais ou menos um mês, e confesso que fiquei apavorada e que ainda estou, ai procurando mais sobre achei você, e que bom que achei, leio suas publicações e me ajudaram mais a entender.. minha mãe vai começar fazer uso do betainterferon (acho que é isso mesmo), mas li muitas reportagens de gente reclamando que não obtiveram melhoras, estou com medo disso, queria que vocês me ajudassem, e assim eu ajude minha mãe.
    Obrigada Bruna, por essa iniciativa maravilhosa de criar essa página, que Deus lhe proteja, assim como todos que tem EM.
    Beijos
    Hemilly.

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