quinta-feira, 29 de agosto de 2013

O que dizer e o que não dizer... é complicado!


Oi gentes, blz?
Em abril desse ano recebi um email, de uma associação internacional de EM, com 10 frases que não se devem dizer à pessoas que tem uma doença. Achei interessante mas deixei esse tema guardadinho na gaveta porque queria pensar melhor sobre isso antes de escrever.
Na semana passada recebi um imagem no facebook com essas mesmas frases:  "Está tudo na sua cabeça" / "Você só está tendo um dia ruim" / "Se você saísse mais..." / "Você só está deprimido" / "Você só precisa não pensar nisso" / "Mas você nem parece doente" / "Todo mundo fica cansado" / "Você não pode estar tão mal assim" / "Eu gostaria de ter tempo pra tirar um cochilo" / "Se você se exercitasse mais" / "Tem gente bem pior que você"
Sim, eu já ouvi todas elas. E as ouvi de pessoas muito próximas. De pessoas que eu jamais imaginei escutar.
Compartilhei a imagem. Alguns dias depois li no blog da Fabi (http://www.avidacomesclerosemultipla.com.br/2013/08/por-que-nao-falar.html) sobre isso e depois o pessoal da AME fez um post legal sobre isso no face também. Fiquei pensando sobre isso. Porque é lógico que eu detesto ouvir qualquer uma dessas frases, mas, ao mesmo tempo, acho complicado fazer um "manual" do que dizer e do que não dizer.
Vou confessar pra vocês que tenho problemas com manuais de textos. Tenho tanto problema que, preciso escrever uma espécie de manual pros blogueiros da AME e não consigo fechar esse manual de jeito nenhum. Porque? Pelo simples fato de que não sei dizer o que se deve ou não deve, o que se pode ou não pode dizer ou fazer. Acho que isso vai depender muito da noção (ou falta de) de cada um.
Mas, voltando às frases, penso que, se a gente começar a vetar frases que os "outros" acham que são de consolo, logo logo não conseguiremos conversar com ninguém sobre a doença.
Digo isso porque eu não sei direito o que dizer a alguém que teve diagnóstico de alguma doença que eu não conheço, que perdeu um ente querido, que recebeu uma notícia ruim, sei lá, que descobriu que é corno. Quando a gente não tá passando pela situação é muito difícil saber o que dizer. E a gente abre a boca e diz alguma bobagem só pra não ficar quieto. Sei que algumas pessoas acham que é melhor ficar calado do que falar "eu sei o que você tá sentindo". Eu não acho. Eu acho que, quando um amigo diz "você não tá com cara de doente" ele quer dizer que ele está feliz em me ver tão bem. É verdade que a escolha de palavras não é a melhor, mas é o jeito da pessoa se aproximar, tentar fazer parte daquela situação de vida.
Além disso, quando alguém conta uma história, a gente tem necessidade de contar uma história semelhante, pra continuar a conversa. É uma questão de empatia, de se colocar no lugar e tentar consolar, fazer parte daquela história também. Alguém conta como foi o parto da filha e você, que nunca teve filhos, conta a história da sua mãe, só pra não ficar sem história também.
É assim que a gente puxa assunto. Eu conto o que eu comi feijoada no almoço, o outro diz que tem uma feijoada fenomenal no restaurante da vizinhança, os dois descobrem que frequentam o mesmo restaurante e a conversa segue até que um convida o outro pra ir no lugar x hoje e o outro diz "não posso, eu tenho esclerose múltipla e não subo as escadas desse lugar", aí o outro, pra não encerrar a conversa larga uma dessas pérolas: "mesmo? mas você tá tão bem!"; "mesmo?sei como vc se sente, eu tenho uma unha encravada"; "mesmo? ainda bem que não é câncer né...tem gente bem pior que você"...
E aí eu vou cortar relações com a pessoa por conta disso? Não! Eu respiro fundo e continuo a conversa. Porque eu não posso exigir que o outro sinta o que eu sinto e me entenda.
E essa coisa da preguiça e de tirar cochilo no meio do dia, levo na boa também. Porque quando eu tô com uma fadiga muito forte e não consigo fazer nada, vejo que as pessoas dizem essa de "ah, que bom que tu pode se aposentar" ou "eu queria ter essa vida mansa de cochilar de tarde", porque ficam nervosas sem saber o que dizer.
E eu não as culpo porque, afinal, eu não sei o que eu diria se eu não sentisse isso também.
As que me incomodam mesmo são aquelas frases que colocam a culpa do meu mal estar nas minhas atitudes. Que são aquelas do tipo "e se você se exercitasse mais", "e se você fizesse tal coisa", "será que não tem um fundo psicológico nisso"... e por aí vai. Me incomodam mas eu não brigo. Não brigo porque eu sei que é impossível pros outros entenderem todo o esforço que eu faço todos os dias pra abrir os olhos, levantar da cama e fazer atividades super simples pra maioria das pessoas mas dificílimas pra mim, como tomar banho, amarrar o sapato, ficar sentada morrendo de dor, estudar sem achar posição que melhore. E aí, é claro, a culpa é minha que não tenho "ânimo" pra cuidar de mim mesma. Nesse momento penso numa frase bíblica: perdoa-os senhor, eles não sabem o que dizem (ou qualquer coisa do gênero).
Outra coisa que eu de-tes-to é quando me pedem calma nos dias em que eu tô fazendo pulsoterapia. Juro, tenho vontade de atirar uma bigorna na cabeça de quem olha pra mim e diz "calma". Mas eu não brigo também. Não brigo porque sei que é a forma que as pessoas acham pra dizer que tudo vai passar, que vai ficar tudo bem. É a forma que nós encontramos de dizer que estamos apoiando a criatura moribunda ali.
Quando eu digo que acho complicado isso de "frases que não se deve dizer", não quer dizer que eu goste de ouvi-las. Pelo contrário, detesto. Mas acho complicado não deixar as pessoas se expressarem, da forma delas. Mesmo que seja uma forma torta de dizer as coisas, é uma forma. E as pessoas aprendem com o tempo, a experiência e as situações. Acho complicado falar que as pessoas não podem dizer isso ou aquilo porque isso coloca medo nelas e, daqui a pouco, elas não se esforçam em dizer nem o que é certo nem o que é errado. Desse jeito a gente deixa as pessoas pisando em ovos a cada conversa e elas acabam desistindo do tema.
Acho melhor deixar as pessoas à vontade e, quando elas falarem algo que nos incomoda, a gente fala abertamente: bah amigo, não gostei disso! Aqui em casa as pessoas sabem que a palavra calma é proibida. E preguiça, vagabundagem, etc., já virou piada. Fora que esclerosada, pra mim, não tem nada de negativo ou pejorativo. Cada grupo sabe o que é permitido ou não de ser falado e o local onde essas coisas podem ser faladas.
Não sei se ficou muito claro o texto de hoje, porque é uma coisa meio complexa pra mim também.
Até mais
Bjs

11 comentários:

  1. As vezes não são as palavras que incomodam, mas a maneira como são ditas. A energia que transmitimos quando falamos é que faz a diferença. Podemos dizer "eu te amo" de várias maneiras, até para provocar e mandar uma mensagem a um desafeto. Por isso, as vezes, qdo. pronunciamos frases a alguém que queremos bem, que queremos dar um consolo, mesmo não dizendo as palavras ou a forma certa, com certeza o nosso desejo de carinho será sentido. Te amo muito minha filha. bjs

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    1. Que liiiiindo mami! É bem isso. Tu sabe que quando eu falo "vai te catar" pra ti é um eu te amo disfarçado, é um "te amo tanto que posso falar isso sem achar que vc vai se ofender"...hehehehehe
      Bjs

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  2. Qurida Bruna, na minha infância li um livro chamado Polianna de uma menina que sempre via o lado bom da vida e sempre tinha uma palavra amiga para as pessoas. Percebo que você uma Polianna moderna e sempre tem uma "dose" Polianna para distribuir às pessoas e suas palavras são sempre um estímulo a todas as dificuldades. Cada dia te admiro mais! grande abraço, Inês

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    1. Oi Maria Ines...acho que sou um pouco Polianna sim... hehehehe
      Gosto de ver o lado bom das coisas, mas sou menos bocó que a Polianna que era um tanto ingênua...ehehehhe
      Obrigada! Bjs

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  3. Bruna, bom dia
    Tudo bem?
    Estou há mais de uma hora lendo seu blog.
    Já ri, já chorei, me emocionei.
    Há menos de 1 ano meu marido foi diagnosticado com EM e à menos de 2 meses ele foi demitido do trabalho onde esteve por 15 anos.
    O momento é ruim, e ler relatos como o seu me ajudam a entender melhor e quem sabe, ajuda-lo.
    Obrigada por partilhar de forma tão clara e bem escrita.
    beijosss

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    1. Oi Elaine, seja bem vinda!
      Obrigada pelas palavras e conte sempre com as minhas ;)
      Só uma dúvida: ele foi demitido por causa da EM? Não pode não viu! Cabe um processo contra a empresa aí.
      Bjs

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  4. Ola Bruna,

    Nossa já escutei algumas vezes essas frases.... e o pior é quando vc escuta alguma delas de um médico que não entende nada..rss..
    Mas vou falar uma frase que escuto muito e que realmente me incomoda demais: " Vc é jovem, Deus vai te curar ou Vc é tão boa Deus vai te curar ". Sempre falo Não não vai, pq ele tem que ME curar, o dia que existir a cura será para todos e não para mim, não sou mais que ninguém. O pior é que escuto isso pelo menos umas 2 vezes no mês de pessoas diferentes.. E isso realmente me incomoda.

    Mais um belo post, parabéns!

    Beijos
    Soraia

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    1. A-do-rei a tua resposta Soraia!
      Essa do "vc é jovem" eu escuto desde meus 14 anos... espero que depois dos 40 parem com isso...heheehhe
      E essa de Deus vai me curar... sem comentários! Vou usar a tua resposta tb!
      Bjs

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    2. Terezinha Nadira Lima Sampaio30 de agosto de 2013 às 12:19

      Oi Bruna,
      não conheço você mas já sei que escreve muito bem e é muito valente. Isso eu posso falar? Parabéns!
      Tudo que você falou é verdadeiro e o mais importante é você não se calar. Quando escutar alguma frase que "não deveria ser dita" explique ao outro o que você sente.
      Será que fui clara?
      Beijos e seja feliz
      Terezinha

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  5. sabe que eu não me esquento nada com essas frases infelizes? realmente acho que faz parte das pessoas serem simpáticas e se sentirem felizes em ajudar. Mas é phodha ouvir do seu iterlocutor dizer que conhece alguém que conhece alguém que se curou. aí dá o recado que o primeiro alguém disse para eu me despreocupar que eu também vou me curar... ai, ai...
    Mas acho que o pior de tudo foi ter recebido de presente um livro de uma mulher que teve EM e foi se curar na Índia, com muito vomitório e lavagens horrorosas. primeiro porque acho que a pessoa devia respeitar no que acredito (embora não acredite em muito, devo confessar) e não forçar a sua. Depois porque o livro foi escrito pelo namorado que, obvio, não entende nada da doença - porque não é ele que sofre - e forçou a barra para a namorada se mandar com ele para a Índia. Juro, prefiro aqueles namorados que dão o pé na bunda por não aguentar o tranco. Mas nunca, disse NUNCA, coloque em risco a saúde de outra pessoa por uma coisa que é apenas uma fé sua...

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    1. PS 1: desculpem-me os indianos. acredito que existe muita ciência por trás de tudo e são milênios de estudo e resultados. Mas forçar a barra para a sua namorada fazer algo que é você que quer... me irritou muito.

      PS 2: No fim do livro, a moça se diz curada. Se vale de exemplo para alguém que quer se curar - hahahahaha

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