quarta-feira, 17 de junho de 2015

Em um mundo como esse... ainda tem gente como essas

Essa é prazgurias e guris que estavam comigo na área PNE do show do BSB.

Oi queridos, tudo bem com vocês?
Comigo tudo bem! Amanhã é meu aniversário (e amanhã tem texto meu na AME), mas ganhei meu presente (um dos...ainda tô aberta a receber presentes viu? hahahaha) já na segunda-feira (aniversário do Jota), com o show do Backstreet Boys!
Eu e a Raquel no BSB.

Eles lindos, fofos e queridos tocando no show.

Infelizmente o presente não foi dos melhores, porque vivenciei coisas muito boas e momentos muito ruins também. Não escrevi antes porque fico meio nervosa com a situação que aconteceu e preferiria esquecer. Mas coisas como essas não podem ser caladas nem esquecidas, para que nunca mais aconteçam.
Bom, tudo começou bem. Chegamos lá (eu e a Raquel, minha fiel escudeira de shows) bem, apesar do frio, entramos tranquilamente e fomos encaminhadas a área PNE. Chegar lá foi fácil. Mas chegando, adivinhem... não tinha cadeira pra todo mundo. Os organizadores de eventos continuam achando que toda pessoa com necessidades especiais são cadeirantes e, por isso, não precisam colocar cadeiras. As grávidas, as pessoas com mobilidade reduzida, as pessoas com outras deficiências que se lasquem! Mas, tudo bem, conversamos ali e decidimos revezar as cadeiras. Tudo bem naquelas, porque as meninas que estão grávidas não puderam entrar com acompanhante. Pode isso Arnaldo? 
E tudo tudo bem até que algumas pessoas que estavam na pista, logo atrás da área PNE, se indignaram porque nós estávamos ali. Começaram a gritar: "Senta! Senta! Senta!". Nós falamos que até gostaríamos de sentar, mas não tinha cadeira pra todo mundo. E falamos que, mesmo com cadeiras, na hora do show íamos nos levantar. 
Aí começamos a ouvir "Vai embora! Vai embora! Vai embora!"...
Depois disso foi de vadia pra baixo... Fora o que começaram a atirar na gente, de bolas de papel a garrafas de água vazias (sério gente, fiquei com medo do que mais poderiam atirar). Nos chamaram de tudo que vocês podem imaginar. Xingaram os acompanhantes que estavam com a gente. Foi horrível! 
Não só pelos xingamentos, que isso a gente tá acostumado a ouvir em shows (infelizmente), porque as pessoas são ignorantes, mal educadas e não tem um pingo de empatia. Essas pobre coitadas (sim, pobres de espírito) das quais eu tenho muita pena, afinal, tem saúde mas não tem educação, não tem a capacidade de entender que quem está ali na área PNE adoraria poder estar na pista, como pessoas comuns. Mas pra gente, que tem uma deficiência, uma doença grave, sair de casa já é uma aventura que exige um milhão de planejamentos. Ficar num ambiente público é um desafio. Então, estar na área PNE não é um benefício, é uma condição. Estou cagando pra onde é a área... desde que seja uma área com acessibilidade e que dê visão pro show. Podia ser na lateral. Podia ser no mezanino (desde que tivesse elevador...coisa que eu sei que não tem). Mas essa área é condição para que pessoas como eu, como nossa amiga com baixa visão, nosso companheiro com Síndrome de Down, nossa colega de perna quebrada, nossa amiga que fazia uso de tubo de oxigênio e nossas parceirinhas grávidas pudessem se divertir. Lazer, se vocês não sabem, é um direito de todo cidadão. E para que ele possa acontecer, queridas ignorantes da Pista, existem leis que garantem a acessibilidade em atividades culturais, incluindo shows queridinhas! Informem-se: Lei de acessibilidade
Bom, fato é que a gente ouviu que deficiente tinha que ficar em casa, que grávida não devia ir em show e por aí segue a baixaria. 
Outra coisa engraçada é que umas bocós ficavam gritando "olha aí o milagre" quando eu levantava da cadeira. Eita gente desinformada. Pareciam os caras na época da Copa, que proferiam as mesmas barbaridades quando alguém com mobilidade reduzida levantava pra comemorar um gol (lembram disso? Comentei aqui nesse post: Deficiência não é sinônimo de cadeira de rodas)
A verdade é que eu comecei a sentir medo de apanhar quando acabasse o show. Sério gente, nunca tinha sentido medo por ter uma deficiência. Meu medo, tendo EM costuma ser o de ficar doente a ponto de não conseguir sair de casa. O que já aconteceu inúmeras vezes e já me deixou muito triste. Agora eu tenho que ficar com medo e triste por conseguir sair de casa?
Tinha um segurança na área PNE, que ficava repetindo que não podia fazer nada. Eu pedi que ele chamasse reforço e ele disse que não dava.
Outro fato é que esse mesmo segurança pegou minha cadeira no meio do show, sentou e cochilou. Fez cara de quem não se importava quando mais de 40 pessoas entraram na área PNE e ficou sorrindo (como vocês podem ver na foto abaixo), quando essas invasoras irresponsáveis gritavam e pulavam na área PNE. Digo irresponsáveis porque aquela área não foi feita pra tanta gente nem pra gente pulando. Acabou que, nas duas últimas músicas eu estava rezando pro show acabar porque eu tava com medo que aquela merda caísse e a gente se machucasse feio.
Olha aí a área PNE LOTADA e o segurança sorrindo pra tudo aquilo (ele é o senhor de óculos e jaqueta preta no canto esquerdo da foto). As pessoas que estavam na área PNE por direito estava no outro lado, apertadinho na frente da área PNE, se espremendo na grade. Deu medo!

No fim, ninguém se machucou, mas eu curti só 50% do que podia ter curtido por conta de pessoas sem um pingo de educação e de uma organização lixo. A produtora foi muito irresponsável em todos os sentidos. Foi pior que a do Maná (lembram do Maná?), que não tinha área PNE mas se improvisou uma que não atrapalhava ninguém (mas que também não deixava algumas pessoas da área PNE enxergar o show). E o do Erasure, que não tinha PNE também. E a segurança não teve a mesma eficiência que a da Shakira, que calou a boca das pessoas que estavam atrás de nós: Show da Shakira. Aliás, a segurança desse show foi péssima. Não sei onde estavam os bombeiros também (decorando as coreografias do BSB talvez).
Coloco os links só pra vocês verem que não é de hoje que a falta de educação impera em shows Pops. De que adianta ficarem cantando In a world like this se não sabem respeitar os outros? 
Sério gente, não esperava isso de mulheres adultas (sim, porque ninguém lá tinha 15 anos...). De pessoas como vocês eu tenho vergonha e pena, sinceramente!
Aí falam mal de fã de rock porque se veste de preto e gosta do diabo (piada gente), mas nos shows do Black Sabnath os caras quase nos carregavam no colo pra chegar na área PNE e ninguém que tava atrás xingava a gente. Me senti mais segura com os cabeludos de preto do que com as moças histéricas que puxavam o cabelo umas das outras pra ver cinco caras num palco.
Sobre o show, foi lindo! Voltei à minha adolescência, ri muito com eles (eles são divertidíssimos), ri muito deles também, afinal, é muito engraçado eles trintões e quarentões fazendo as coreografias da década de 1990. A produção é impecável. O som, o palco, as luzes, tudo maravilhoso! E eles são realmente gatos! Eu diria que hoje são infinitamente mais gatos do que há 20 anos. 
Sobre o Pepsi, estamos vendo como mover uma ação coletiva pela falta de segurança. É a segunda que eu entro e a vigésima que eu conheço. Espero que nenhum outro músico que eu goste faça show nesse local porque eu não quero ir mais lá. Já tinha dito isso depois do Maná. Sobre as pessoas, só posso ter pena. Eu sei que vocês não gostam de pessoas diferentes de vocês por perto, eu sei que vocês adoram gritar um "vai embora" e ficar dizendo que gente deficiente deve ficar em casa, mas, garotas, superem isso: nós não vamos nos trancar... nós não vamos nos calar. A luta continua gurizada. E como diz a música do disco novo dos BSB 
"Em um mundo como esse, em que alguns desistem
Eu sei que vamos conseguirEm uma época com essa, em que o amor mudaEu sei que vamos agarrá-loEm um mundo como esse, em que as pessoas se afastamEm uma época como essa, em que nada vem do coraçãoEm um mundo como esse, eu tenho você"
Eu tenho vocês, meus amigos que estão botando a cara (e a cadeira de rodas, e as bengalas) nas ruas pra mudar. Porque o mundo é nosso também. E vocês, que ainda não entenderam isso, tenham mais amor no coração. Vocês não são imunes a precisar da área PNE não, sabiam? Pensem nisso!
Ah, #prontofalei!

Me sinto mais leve. E podem ficar me xingando nas redes sociais (sim, elas continuam nos xingando no facebook), que eu não ligo. Eu vou continuar ficando de pé nos shows que eu quiser ir, enquanto eu puder, porque pra mim, ficar de pé é uma vitória enorme que eu não quero nem devo esconder. Beijinho no ombro!
Quem invade área PNE, chama quem ta lá de vadia, "milagre" ou qualquer outra coisa não pode reclamar de país corrupto, de governo isso, de política aquilo, pois vocês feriram um direito básico de milhares de cidadãos. Além de entender o que é compaixão, vocês precisam aprender que ser cidadão não tem nada a ver com o quanto se pode pagar por alguma coisa. Ser cidadão é mais do que poder consumir meus caros. Na próxima vez, vocês têm 3 alternativas:1. Tenham uma doença degenerativa comendo o cérebro de vocês como eu tenho pra ir na área PNE;2. Fiquem me chamando de vadia e de milagre... I don't care! Sou um milagre mesmo... porque se a maioria de vocês tivesse parado de se movimentar com 16 anos, como eu parei por conta da doença, já teriam desistido de viver com essa mente mesquinha e egoísta ao invés de chegar aonde eu cheguei. Mas se eu cheguei aqui não foi só por milagre, foi por passar por cima e não ligar pra pessoas como vocês que preferem que pessoas como eu fiquem em casa.3. Se humanizem, tenham compaixão e empatia e entendam que deficiência não é um benefício.



Sério...que vergonha de vocês!
Até mais!Bjs

P.S.1: Não percam o texto da Cristiely Carvalho na Zero Hora sobre o mesmo fato:
http://zh.clicrbs.com.br/rs/entretenimento/noticia/2015/06/cristiely-carvalho-o-show-que-eu-vi-dos-backstreet-boys-4782643.html
P.S.2: Quem tiver face, também não perca  o texto que a Raquel, amor da minha vida, fez sobre ser minha acompanhante lá (e da vida toda também): https://www.facebook.com/raquelnunesrs/posts/862688253786044
P.S.3: Pras bunita que tavam atrás de mim na área PNE me chamando de milagre, se chegaram até aqui, vejam também o documentário que eu indico nesse post: http://www.amigosmultiplos.org.br/post/273/incluir-e-pra-quem
E entendam que a inclusão e a acessibilidade é também pra vocês. E que deficiência não é privilégio de ninguém, e que vocês, alguém que vocês amam, seus filhos, parceiros, pais podem ter...

5 comentários:

  1. Indignada, Bruna. As pessoas não respeitam ninguém. Brigam e ofendem por nada e se esquecem que amanhã será um novo dia. Muitas vezes parece que estamos infringindo uma lei quando saímos de casa para tomar um sorvete, por exemplo, as pessoas não admitem isso de alguém doente. Doente tem que ter cara de doente, ficar em um hospital, não sorrir, ou seja, temos que viver numa UTI. Daí quem sabe vão respeitar. Ou melhor, vão fazer outro julgamento, faltou força de vontade para enfrentar...aff. Cansada da ignorância e falta de empatia das pessoas.

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  2. Lamentável, algumas pessoas se comportarem assim !!! Bando de selvagens, sem educação !!! Eu tenho vergonha de compartilhar o mundo com esses vermes !!!

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  3. Bru eu sei bem como é essa gente ignorante. Eu e o Baby na fila da Torre Eiffel numa demora de 2h, quando um cadeirante e um homem com a perna encurtada passam na frente de todos para pegar o elevador e a gente ouve: " O que esse povo tem que vir nesses lugares? Por que não ficam em casa? " é claro uma fila com todas as nacionalidades tinha que ser brasileira a infeliz....humpf
    Olhamos muito feio pra ela e disse pro Baby " ela pensa que ninguém está entendendo essa falta de educação dela.... Eu faloc português,... Só pra ignorante ouvir!!!! Ai que ódio!!! Imagino vc nesse show!!! Boa sorte com a ação!!!
    Beijão

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  4. Bruna;
    O mundo dá voltas! E com certeza terão que reencarnar muitas vezes até se tornem gente. Eu imagino o que passaste. Conviver com qualquer bosta (desculpe o termo) é melhor do que com essas coisas que se acham melhores e com mais direitos.
    Beti

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  5. Q horror! Realmente algumas pessoas se acham acima de td e de tds. Só q doença não dá em poste... O q me conforta é saber q a vida bate e feio nessas pessoas. Não q eu sinta prazer nisso, mas é inevitável. Lei da semeadura. Colhe-se o q se planta. Bjs Roseli

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