quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Soltando as borboletas

Oi queridos, tudo bem com vocês?
Bom, eu sei que eu prometi que hoje postaria sobre as palestras do II Encontro de Blogueiros da Saúde. Mas, vou pedir licencinha pra falar de outras coisas hoje e prometo voltar com esse tema no próximo post.
Passei o final de semana no Rio de Janeiro. Sim, o Rio de Janeiro continua liiiindooo (e eu só sei disso porque os queridos da Vanilda e do Luis Osmar me levaram pra cima e pra baixo pra eu conhecer um tanto da beleza da cidade. Obrigada). Mas eu só topei ir sozinha, pra uma cidade que eu não conheço, em surto (ah, sim, esqueci de contar, que vou pra pulso semana que vem... depois conto isso), pra apresentar um trabalho e ver um livro com meu nome no sumário e na seção "sobre o autor".
Pra quem vive a realidade da vida acadêmica, ter um capítulo de livro pode parecer algo comum, corriqueiro. Para mim não. E a EM tem influência nisso.
Quando eu tive o diagnóstico e achei que ia morrer disso em 5 ou 10 anos, pensei em parar de estudar. Depois eu fui descobrindo que eu podia fazer muitas coisas. Não todas que eu queria, mas ainda assim muitas.
Os médicos, psicólogos, psiquiatras, entendidos de EM, de doença auto imune, benzedeiras e o senso comum sempre me falaram pra fazer duas coisas contraditórias: fazer o melhor que eu pudesse, sempre; e não me estressar, não achar que eu tenho que fazer tudo perfeito.
Sempre achei isso complexo. Porque eu sou uma perfeccionista de nascença. E todo perfeccionista é meio estressadinho. Mas aí eu tinha que fazer as coisas sem me preocupar, de uma forma mais relaxada pra não ficar doente, literalmente.
Assim, eu comecei a pensar que, se eu fosse mediana, já estava bom. Coloquei na minha cabeça que eu não precisava ser a melhor em nada, só o medíocre já tava bom. Assim eu não deixaria de fazer nada mas também não me incomodaria e ficaria menos doente.
Quem teve o diagnóstico de EM já deve ter passado por isso, esse impasse de como mudar de ritmo, como ser producente, como não se estressar, como lidar com essa queda de expectativas. Sim, porque o mundo espera menos de nós. E, às vezes, a gente acaba acreditando que deve esperar menos da gente também.
A verdade é que, profissionalmente, eu nunca me cobrei muito. E nunca esperei muito também.
Antes do diagnóstico de EM eu pensava em ser diplomata. Eu já tinha dois idiomas no currículo, faria uma faculdade boa e até poder me tornar diplomata, estudaria bastante pra ser boa nisso. A EM acabou com esse sonho. Sinceramente, ainda bem... acho que eu não daria bem pra isso e teria desistido no meio do caminho.
Mas, enfim, a EM me fez guardar muitas expectativas, em relação a mim mesma, bem escondidinha, dentro de uma caixinha escondida. Eu olhava para os sonhos, e eles eram bonitos, como asas de borboletas. Aí eu os guardava, bem escondido, pra não correr o risco de querer ficar vendo as borboletas batendo asas quando eu achava que elas jamais iriam voar.
Nesse ano, muita coisa mudou. Fui soltando algumas borboletas, devagarinho. Comprar minha casa, casar, pensar em ter filhos, em trabalhar...
E, profissionalmente, encontrar meu problema de tese no doutorado mudou tudo: eu comecei a achar que eu podia mais. Que eu tinha capacidade de ser boa nisso. E eu acho que sou mesmo, sabe. Que eu tô num caminho que eu não preciso achar que ser mediana é bom. E que quanto mais eu me dedicar, mais feliz eu vou ficar, e não mais doente.
Por isso, ter um artigo publicado num livro ao lado de outros pesquisadores brilhantes, alguns dos quais eu sou fã, é uma coisa muito grande pra mim.
É a prova física de que eu posso. É a prova que eu não preciso acreditar que eu sou menor ou menos que os outros que conseguem estudar e trabalhar o dia todo. É a prova de que a EM pode até ter diminuído minhas expectativas em relação a mim, mas não diminuiu o tamanho dos meus sonhos.
Talvez eu tenha ficado tão feliz porque nunca esperei isso e quando conquistei, foi lindo. Talvez, quem cria expectativas demais acaba colhendo frustração quando não dá certo. Sei lá...
Não que isso vá me subir à cabeça. Eu sei que pra maioria ali é só um livro. Só mais um livro. Pra mim tem sabor de conquista. Sabor de sonho. Sabor de planos. Sabor de vitória. Sabor de bóra continuar que tem muita coisa boa pra se viver e produzir ainda minha filha!


Só queria compartilhar com vocês essa minha alegria. A de conseguir algo que jamais imaginei ter. Que achei que não podia ousar querer ter. E que agora sonho com mais.
Só queria poder dizer pra vocês não esperarem menos de vocês só porque a EM chegou. Ela pode até nos deixar mais lentos, mais doídos, mais doidos, mais tensos... mas que ela também nos deixe mais fortes, mais sensíveis, mais solidários, mais pacientes, mais sonhadores e, quem sabe, mais felizes.
Escolha suas lutas e siga em frente, que a força vem do amor que dedicamos ao que fazemos!
Solte as suas borboletas também, antes que elas sufoquem dentro da caixinha. Deixemos nossos sonhos tomar o rumo que eles quiserem/precisarem tomar.
Até mais!
Bjs

21 comentários:

  1. "Crie galinhas, mas não crie expectativas. Se as galinhas não te derem ovos, ainda poderá comê-las."
    É isso. Sem expectativas as conquistas sempre são grandes e tem um sabor especial. Você as merece porque é dedicada e porque gosta do que faz. Tenho aprendido muito contigo!
    Parabéns pela conquista. E que venham muitas outras!
    Beijos

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    1. Tô ligada desse negócio de criar galinhas...mas não adianta, eu continuo criando expectativas mesmo...hehehehehehe
      Bjs

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  2. É isso ai Bruna, não esperava menos de vc.É assim que quem tem EM deve pensar. Parabéns, e que muitas borboletas coloridas peçam passagem...
    Márcia Zambotti

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  3. Eu só queria ressaltar que eu não acho que tu sejas boa. Eu tenho CERTEZA disso. Pra alguns apenas um livro, pra ti uma conquista, pra mim orgulho! Parabéns!

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    1. Vai enchendo minha bola...depois me aguentem...hehehehehe
      Obrigada flor!
      Bjs

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  4. Parabéns pela sua conquista, você merece o melhor. Como assim em surto? Tô preocupada, de notícias . Bjs !!!!

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  5. PARABÉNS QUERIDA!!!
    Um Livro, ter filhos... Bruna tu já plantastes uma árvore?
    Por que será que eu tenho certeza que sim, talvez uma floresta?!! Ehehehe...
    O sucesso não tem limites pra ti, principalmente porque tu acreditas em ti!
    E eu também, muitoooooooooo!!!
    Ótimos sonhos!
    Beijos com carinho <3

    Surto? Affff... A EM tá com inveja do teu sucesso!
    Vais tirar de letra! Eu sei e a EM também sabe.

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    1. Ah, sim, já plantei árvores na vida. Mas acho que ainda falta muita coisa. Além dos filhos...ehehheeh.
      Obrigada!
      Bjs

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  6. Que coisa linda, Bruna! Parabéns, parabéns! Muitas conquistas te esperam, tenho certeza. E, como já te disse uma vez, suas vitórias são um pouquinho minhas também. Você sabe bem porquê. Estou muitíssimo feliz por você. E, mais uma vez, um texto lindo.

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  7. Parabéns, Bruna!
    Quando eu tive o diagnóstico de EM, há um ano e meio, já era professora universitária e já tinha publicado alguns capítulos de livro e até um livro, que foi minha tese. Mas a EM já estava me acompanhando há 12 anos, fazendo estrago na minha cognição sem eu saber. Nesse um ano e meio de diagnóstico e de tratamento com interferon, vi minha carreira acabando. Passei a ter dificuldade para dar aula, não conseguia mais participar de eventos, deixei de escrever e pensava em me aposentar. Há um mês atrás, com a ajuda do meu terapeuta, achei que era hora de dizer: quem decide as coisas aqui sou eu! Estou recuperando o prazer no meu trabalho. Por isso sua postagem me deixou feliz. A gente faz as coisas em outro ritmo, mas isso não significa que temos que abandonar o que é importante para nós!
    Beijo, querida!

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    1. Que bom Eliane! Vamos lá tomar as rédeas da vida de volta! Com outro ritmo, outros objetivos talvez, mas sem deixar de fazer o que se gosta e é importante!
      Vai dando notícias do teu retorno!
      Bjs

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  8. parabéns!!!!!
    Dá uma olhada nisso:
    http://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2014/11/1551160-neo-doenca-de-ator-motiva-sit-down-tragedy.shtml
    pat

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    1. Lindo né Pat? Eu quero trazer ele pra Porto Alegre. Estamos negociando.
      Bjs

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  9. Oi Bruna, parabéns! Não digo isso apenas pelas suas conquistas recentes, mas também porque a sua fala nos faz repensar as nossas possibilidades, a nossa utilidade diante da vida. Que Deus te abençoe no seu caminho de luz interior. Saiba que está sendo um exemplo de superação para muitas pessoas. Bjos!

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  10. Realmente dedicação/perfeccionismo e estresse são coisas totalmente contraditórias. Mas com um pouquinho de jogo de cintura e cuidado para não surtar, nós conseguimos alcançar tudo... Deixar nossas borboletas saírem da caixinha!
    PARABÉNS!!! E obrigada pelo exemplo e inspiração de sempre.
    Beijão da Afilhada Blogueira! ;)

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    1. E como a gente rebola com esse jogo de cintura né Cyntha?
      Obrigada pela amizade minha flor!
      Bjs

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  11. Eu tb tenho esses dias Paulo. Mas eles passam.... tudo passa...
    Bjs

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