sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Quando as Cordas de Espinho me levaram para longe...

Oi queridos, tudo bem com vocês?
Comigo tudo bem. Tive consulta com a minha neuro hoje, mas outra hora conto sobre as novidades de exames e remédios...
Hoje quero contar sobre algo que aconteceu ontem. Bom, ontem eu fui a um show de música, o Rock de Galpão, que é um projeto muito legal de uma baita banda de rock aqui do Sul, a Estado das Coisas, onde eles e alguns artistas tradicionalistas tocam músicas gaudérias em ritmo de rock.
Fui na primeira edição, há alguns anos, e tinha gostado muito. Ontem, após alguns anos e muita produção colocada em cima, foi mais legal ainda. Os guris conseguiram fazer um belíssimo espetáculo.
Mas também não é sobre o som dos guris que eu quero falar. Quero contar de um momento especial, e mágico, que aconteceu comigo no meio do show.
Tudo começou quando eles começaram a tocar a versão deles para a música Cordas de Espinho. Uma música que já era bonita antes, mas ficou mais ainda com o derbake e o "violino hiperbólico" de Hique Gomez. Antes de tudo, quero dizer que me emocionei ao ver o Hique entrar no palco sem o Nico. Para mim, que só via os dois juntos, dá um misto de tristeza e saudade vê-lo no palco sem o Nico por perto.
Bom, emoção de Hique passada, comecei a viajar no ritmo do derbake. Pra quem não conhece, o derbake é um tambor utilizado nos ritmos árabes. Pra quem me conhece há pouco, eu já fui bailarina de dança do ventre...carreira interrompida brusca e brutalmente pela EM.
Eu comecei a dança do ventre com 12 anos, porque eu me achava gordinha demais pro ballet. E em pouco tempo eu fazia parte da Cia. de Dança do Ventre, participei e ganhei festival de dança, tinha várias roupas, cds, fiz cursos, dancei com bailarinas famosas, me sentia à vontade em cima do palco.
Ao contrário do que a maioria das pessoas pensa, não tinha nada a ver com sensualidade ou sexualidade, tinha a ver com arte, com sentir a música dentro de mim. E eu dançava bem pacas! Só que, com 16 para 17 anos, a EM me paralisou. E a dança não teve mais que esperar, como nos anos anteriores que eu tive surtos mas depois voltava. Dessa vez ela teve que cessar.
E eu parei. Na época eu fiquei tão deprimida com tanta coisa que acontecia que nem liguei muito pra falta da dança, da música. Mas no final do ano, quando fui ver minhas colegas dançar, fiquei com um misto de revolta e decepção. Ver qualquer pessoa dançando num palco era muito difícil pra mim. Chorava litros...
Depois o tempo foi passando, fui mudando e fui percebendo que, se não fosse a EM, seriam outras coisas que me afastariam da dança. A profissão, o trabalho, sei lá... Talvez eu tivesse continuado como lazer, mas não da forma que eu dançava, ensaiava e tal. Eu estava num caminho de profissionalização quando parei.
E aí voltei a ver as pessoas dançarem. A achar de novo bonito a dança. E ouvir os ritmos árabes voltou a ser divertido, gostoso. Dançar na frente do espelho, sozinha, passou a ser libertador.
Até tentei fazer algumas aulas, pra me divertir, mas meu corpo não aguenta uma aula inteira. E minha cabeça e maturidade não aguentam aquele clima de concorrência, disputa e invejas que ronda as academias de dança (sorry gente, mas é difícil achar uma academia de dança em que as pessoas querem só se divertir e não ficar sendo melhor que os outros, sabe?).
Além disso, eu sei o quão bem eu dançava, e sei que não será mais da mesma forma. Como diz o refrão de outra belíssima música interpretada ontem (Desgarrados), "nunca mais será mais o que foi".
Mas, voltando ao momento mágico de ontem, enquanto eles tocavam a música, eu fui longe, para além do que estava acontecendo ali. A música entrou em mim e eu comecei a ver véus coloridos no palco...eles flutuavam como se voassem com o vento. De repente eu não sentia mais meu corpo sentado num lugar do teatro, mas no palco, vestindo uma saia de véus e um top, dançando em meio aos véus, me divertindo com o som do derbake e do violino. Ninguém, lugar nenhum, só eu, a música e o palco.
No fim da música, a mágica acabou. Os véus desapareceram, caindo como pó. E eu voltei a estar sentada no meu lugar da platéia.
Por alguns instantes eu tive a sensação de ter meu lugar de volta, o palco. Por alguns instantes meu corpo se movia como antes. Por alguns instantes eu lembrei como era fazer aqueles movimentos, ainda que hoje eu não consiga mais fazer.
E foi lindo. E foi mágico. E não foi triste...melancólico, talvez. Mas foi bom. Apesar de ter sido uma espécie de sonho, eu me senti viva.
Acho que a música tem essa capacidade, assim como a dança. De criar mundos sem sair do lugar. De nos mostrar o quanto estamos vivos. O derbake batia ao ritmo do meu coração, e eu estava viva.
Me desculpem se parece tudo uma grande bobagem. Mas queria compartilhar com vocês esse momento. Essa emoção.
Porque não é todo dia que eu sinto meu corpo como antes. E confesso que nem lembrava como era. Foi como ver a Bruna que poderia ter sido. Foi como ver a Bruna que tem dentro dessa Bruna que se mexe pouco. Foi bom ver que eu gosto mais de ser a Bruna sentada na plateia do que a do palco. Mas também foi bom sentir o palco novamente, ainda que na imaginação.
Quem sabe, um dia, eu tire os véus da caixa escondida no guarda roupa...
Até mais!
Bjs

11 comentários:

  1. Que momento mágico tu vivestes Bruna!
    Bobagem? Não! Isso é parte da tua vida, é um sonho do qual fostes obrigada a desistir.
    Sabe... passei por algo parecido. Eu queria ser atriz!
    Fiz vários cursos de teatro, participei de três montagens amadoras e de duas performances.
    Eu estava buscando minha profissionalização.
    Quando eu estava atuando, no palco, ou frente a uma câmera eu me sentia inteira, feliz e segura de que eu amava, podia e sabia fazer aquilo.
    Mas meu paizinho amado ficou muito doente e eu precisei aumentar muito minha carga horária de trabalho, para ajudar em casa.
    O teatro exige muito da gente e o retorno financeiro é incerto.
    Eu precisei de muita coragem para desistir desse sonho!!!
    Mas não me arrependo, porque minha família é tudo pra mim!
    Na verdade me orgulho da coragem que tive!
    Mas até hoje é difícil pra mim entrar num Teatro e até mesmo uma linda interpretação na TV ou no Cinema me emocionam e me levam às lagrimas.
    Mas olha como são as coisas... mais tarde esse sonho acabaria sendo roubado de mim pela EM.
    Bruna amei esse post, não apenas porque me identifiquei muito, mas principalmente porque eu posso imaginar a emoção, a felicidade, a suavidade, que esse momento mágico te proporcionou!
    As vezes pego um texto ou um poema, me fecho no quarto e começo a interpretá-lo para mim mesma. É um jeito de matar a saudade.
    Coloque teus véus e dance, como der, mas dance!
    Dance pro Jota e pra ti... e por ti!
    Beijinhos no teu coração,
    Neyra.

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    1. Quanto mais te conheço e sei da tua história, mais te adoro e admiro Neyrinha!
      Você me entende...
      Bjs

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  2. É esse o poder da arte, o de não apenas narras historias, mas de fazer-nos viver a experiência.
    Nada neste mundo nos disse que a vida seria previsível (algo que mantive em mente todas as vezes em que algo inesperado me aconteceu, vide EM), mas o que fazemos disso, depende só da gente mesmo. E se você esta feliz e satisfeita com o caminho em que está agora, foi por sua causa mesmo ;-)

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    1. Nada é previsível e nós não temos o controle de nada, não é mesmo? Agora, o que faremos com o imprevisível, aí é com a gente.
      Obrigada pelas palavras!
      Bjs

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  3. Bruna, adoro esse seu jeito maravilhoso e otimista de viver a vida. Esse seu jeito de não deixar a EM fazê-la infeliz e saber tirar dos todos momentos a felicidade que você bem merece. É isso aí Guria(não é assim que vocês falam?). Eu adoro você cada dia mais. e tenho certeza que meu primo Jota também Bjs Terezinha

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    1. Obrigada Terezinha! Sem dúvida, não é qualquer coisinha que vai me trazer infelicidade. Também te adoramos! Bjs

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  4. Bruna mas vc não volta para dança pq? Fadiga ou mobilidade? Pq já li no facebook q fazias natação o q é bem mais cansativo...E sabes quais novidades sobre medicações a chegarem no Brasil? Já li sobre várias terapias com células tronco q estão sendo testadas, fora a tal vacina, e um novo medicamento da Biogen Idec chamado Anti Lingo 1...Qd será q chegará o Tecfidera? Bjs e continue com este trabalho informativo maravilhoso!!

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    1. Falta mobilidade, coordenação, força, equilíbrio e sobre fadiga. Ao contrário do que você disse, natação pode ser bem menos cansativo do que dança. A dança exige capacidades diferentes da natação. Capacidades essas que ainda hoje não recuperei. Quem sabe um dia...
      Sobre as células tronco, ainda não vi nada que tenha funcionado direito. Tô de olho no Tecfidera e no Lemtrada, os dois são promissores, mas nada definitivo ainda. Quem sabe né?
      Obrigada pela companhia aqui no blog!
      Bjs

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  5. Ah e sobre o estudo tbm com uma possível medicação oral a RPC1063...

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  6. Olá Bruna, tudo bem, não te conheço pessoalmente, mas vc de certa forma me conhece, meu nome é Guilherme Gul, era eu quem tocando o Derbake nessa noite, sou o baterista do RDG. Seu texto caiu por acaso em minhas mãos, ou não....Comentei com o pessoal da banda que naquele dia durante essa música, havia acontecido um Tarab, isso chama-se quando acontece uma conexão total entre o artista e o público, um estado de êxtase, onde conseguimos atingir os mais profundos sentimentos através da música. Quando li seu texto isso só venho a confirmar o que havia sentido, ficamos muito felizes que a nossa música de alguma forma, agiu no sentido de despertar os sentimentos mais puros que possam existir. O Derbake, para mim vai muito além de um instrumento musical, ele faz parte de minha família, é de sangue mesmo, esta conectado de forma plena com o que tento expressar através da música, lendo seu texto acho que estamos no caminho certo!! Obrigado por compartilhar seu momento e por sua presença no show, seja sempre muito bem vinda!!!

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    1. Olá Guilherme! Seja bem vindo no meu espaço!
      Fiquei muito emocionada com teu comentário. Que bom que meu texto chegou a ti. E que a tua música, tua emoção chegue a todos os corações. Como tu mesmo disseste, o som do Derbake toca dentro da gente... que continue tocando e emocionando muitas pessoas pelo mundo afora!
      Vida longa ao RDG. Parabéns pelo teu trabalho!
      Bjs

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