quarta-feira, 10 de setembro de 2014

Uma série e muitos litros de lágrimas


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Comigo tudo bem. Tô só esperando meu apartamento ficar pronto (precisou trocar toda parte elétrica) para poder me mudar. Ansiedade a mil...
Mas hoje quero escrever sobre um seriado que eu vi no mês passado, pelo youtube e que abriu feridas, trouxe memórias há muito enterradas e escondidas, tocou fundo e foi muito importante pra mim. Talvez porque tenha me tocado tanto que, só agora, eu consigo sentar e escrever algo sobre. O nome da série é 1 litro de lágrimas, foi produzido no Japão e pode ser baixado em diversos sites com legenda em português ou pode ser visto online, no youtube. Todos os 11 episódios estão disponíveis com legenda no youtube também.
Bom, mas porque essa série me tocou tanto? Os 11 episódios da série contam a vida de uma menina de 15 anos, a Aya, que tem, nessa idade, o diagnóstico de uma doença incurável e degenerativa chamada degeneração espinocerebelar. É uma doença que atrofia os neurônios motores e quem tem essa doença vai perdendo o controle dos movimentos. A expectativa de vida de quem tem essa doença não é muito longa.
Aya era uma menina inteligentíssima e bastante ativa. Jogava basquete, ajudava os pais em casa, tinha notas boas na escola, mas começou a tropeçar e cair sem motivo. Buscando uma causa, encontraram a degeneração espinocerebelar. A partir daí, o seriado conta a vida de Aya e sua família numa luta contra a doença, contra o tempo, contra o sofrimento.
Desde o início do seriado sabemos que a história da série produzida em 2005 é baseada no diária de Aya Kito, que teve o diagnóstico de degeneração espinocerebelar na década de 1980 e passou a escrever um diário que foi publicado e vendeu milhões de cópias no Japão (eu ainda estou tentando comprar a minha cópia de livro e do mangá).
Mas o que tem de extraordinário na história de Aya? Tem que a minha história se assemelha muito com a dela. Salvo diferenças das doenças, acho que a idade de diagnóstico me aproximou da personagem. As vivências de escola, a rejeição da escola e dos colegas, a dificuldade de ser adolescente e ter uma doença, a exigência de tornar-se adulta antes do tempo, a necessidade de consolar a família quando por dentro se está em mil pedaços, a auto-exigência por ser feliz, sorrir e viver mesmo quando a vida não parece ser muito simpática, as horas de choro escondida de todos para que ninguém soubesse que eu pensava em desistir, a revolta por ter uma doença tão séria com tão pouca idade, a impotência por não ter o que fazer além de olhar a doença deteriorar seu corpo que era jovem e forte e passa a ser tão frágil e sem controle, a revolta pela falta de controle, o aprendizado pela falta de controle, a mudança de vida, de hábitos, a falta de perspectiva. Tudo isso me aproximou de Aya. Além disso, o excesso de esperança e a escrita de um diário como forma de lidar com tudo isso também.
Um litro de lágrimas é o nome do livro e da série. É uma frase que Aya diz: até que eu pudesse dizer tudo isso sorrindo, foi preciso no mínimo um litro de lágrimas...
Eu digo que foi mais que isso ao longo desses anos todos. Um litro de lágrimas foi o que saiu a cada episódio que eu vi.
Nunca tinha ouvido falar dessa série. O Jota que me apresentou e começamos a ver, cada dia um ou dois episódios. Não mais que isso. Era muito pesado. Vinham muitas histórias da minha vida. Eu deixei minha vida escolar guardada numa gaveta chaveada, porque era muito dolorido. Mas ver essa série fez todas essas lembranças virem à tona. E eu chorei. Chorei demais pela adolescente que passou por isso. Chorei por mim. Por tudo e o tanto que doeu crescer assim. Por tudo que eu achava que não precisava ter passado. Por ter sido difícil "endurecer sem perder a ternura" e o gosto de viver. Por ver que no Brasil dos anos 2000 ou no Japão da década de 1980, uma adolescente com uma doença degenerativa que impede os movimentos passa pelos mesmos medos e preconceitos.
Os episódio 05, 06 e 08 foram os mais difíceis para mim. Tadinho do Jota, que teve que ficar ouvindo histórias nunca antes contadas além de eu ter encharcado sua blusa com os litros de lágrimas. Mas foi importante pra mim, mais do que dividir isso com um psicólogo, dividir com alguém que divide a vida comigo, além de compartilhar experiências semelhantes da doença. Porque sei que alguns momentos ali doeram nele também.
Essa é Aya Kito na vida real.
Vendo esse seriado eu lidei com coisas que nem com anos de terapia teria conseguido. Não quero dizer que terapia não é importante. Acho até que é. Mas as vezes, ver um seriado desses também pode ser uma belíssima terapia. Pode trazer memórias e gerar diálogos de nós com nós mesmos. A minha vontade, vendo o seriado, era ir lá pros anos 2000 falar com a pequena Bruna e dizer que seria necessário alguns litros de lágrimas, mas que tudo ficaria bem. Que apesar de tudo que o mundo dizia pra ela, ela iria acabar os estudos, ia encontrar um grande amor, ia fazer diferença no mundo. E também ia dizer pra ela não jogar fora seus diários.
Sim, eu joguei fora os diários daquela época. Eu tinha medo que alguém lesse. Hoje eu queria poder tê-los para ler.  Mas, como diz Aya "não consigo voltar ao passado. Nem meu coração, nem meu corpo".
Bom, mas eu não vou contar tudo o que aparece na série. Até porque iria estragar pra quem vai ver. E eu recomendo muito que todos vejam. Aliás, a atriz que fez a Aya é fenomenal. Ela conseguiu representar muito bem a fraqueza muscular, o peso do corpo, a espasticidade, as dificuldades na hora da fisio. É impressionante a atuação dela.
Reserve 40 minutos por dia e veja esse seriado. Quem tem e quem não tem EM deveria ver. Junte a família e vejam juntos. Ou, melhor, veja primeiro sozinho, pra digerir tudo, depois reveja com a família.
Eu pretendo rever, com a minha mãe. Tenho certeza que ela vai se reconhecer na mãe da Aya também (salvo as diferenças culturais entre brasileiros e japoneses).
Poderia escrever um post por episódio da série. Mas ficaria muito chato para quem não viu. Então, deixo a dica para verem a série e irmos conversando sobre ela aqui nos comentários.
Enquanto eu escrevia esse post, ficava cantando (em japonês perfeito) a música que aparece nesse clipe abaixo, que também resume um pouco a história pra quem não vai conseguir ver tudo hoje:



Para finalizar, uma das lindas frases escritas por Aya Kito em seu diário:
"O fato de eu estar viva é uma coisa tão encantadora e maravilhosa que me faz querer viver mais e mais".
Até mais!
Bjs

12 comentários:

  1. Lindona, meu marido fala sempre essa frase comigo, tem horas que eu entro em desespero aí falo besteira até. Mas choro um monte e melhoro depois de pensar muito na vida e perceber o quanto a vida é importante apesar do nosso problema. Bjo bjo♡

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  2. Não precisei assistir nem o primeiro episódio pra chorar litros... Vc sabe tocar a gente com suas palavras. Obrigada pela dica Bruninha. Bjos!

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  3. Tocante, Bruna. Valeu a dica. Abracos, Ana Furst.

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  4. Mais uma vez emocionando, hein Bru?!
    Nunca tinha ouvido sobre essa serie tambem e vou procurar saber. Obrigada pela dica. Antes de comecar vou comprar umas caixinhas de lenco!
    Beijao

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  5. Sem spoiler, Bruna!
    ;-)
    Tiago

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  6. Bruna, post lindo e inspirador, como tudo que você escreve! Deus te abençoe! Bjs, Camila:)

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  7. Muito lindo e tocante, Bruna. Realmente uma garotinha cm 15 anos precisa de mil litros de lágrimas. Beijos

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  8. Muito bom seus post Bruna adoro ler td q Vc pública muito tocante não tem como não se emocionar!!! Estou passando pelo meu primeiro pós injeção duido no início mas depois sei q tudo melhora bjosss

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  9. Bruna Obrigada pela dica: ibuprofeno foi um santo remedinho, proxima injeção tomo o remédio antes de aplicar a injeção aí os efeitos vão diminuir bastante. Bjo Mary

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  10. Já vou colocar na lista para assistir em algum fds que sobrar tempo.Deve ser muito tocante.
    Eu sei que o pessoal incentiva contar sobre a EM para conscientizar as pessoas, mas se eu tivesse desenvolvido a doença na época da escola não teria contado não, as pessoas na escola são maldosas por qualquer coisa que foge do tradicional. Para falar a verdade eu nem conto, eu acho que para cada 10 pessoas, uma se conscientiza e o resto vai ter um monte de atitudes, menos a que a gente espera.

    Bjs,
    Mah

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  11. Oi Bruna, acompanho seu blog há algum tempo, mas nunca havia comentado aqui. Queria dizer que gosto muito de ler o que vc escreve, e que, de certa forma, me sinto representada pelas suas palavras, principalmente porque vc consegue dizer coisas que eu ainda não tinha conseguido elaborar dentro de mim (obrigada!). Essa série é realmente maravilhosa, eu assisti ha algum tempo, antes de ser diagnosticada, e a Aya me ajudou muito (e ainda ajuda) a aceitar a doença e a ter forças pra seguir dia após dia. Eu sempre penso que gostaria de ter um pouco do carisma e da sensibilidade que ela tinha, era uma pessoa realmente especial. Um beijo!

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  12. Em dois episódios a Aya usa camisa do Brasil

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