segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Minha história de carinho...

Olá queridos, tudo bem?
Estou um pouco incomodada com uma campanha publicitária de uma rede de farmácias aqui do Rio Grande do Sul. Vi pela primeira vez a História do Lilinho há algumas semanas, quando fiquei sabendo que tinha promoção na farmácia. E sabe né, eu consumo mais coisa na Panvel que nas lojas Renner. Então, entrei no site pra saber como era.
Vi o vídeo (que é lindo, muito bem produzido: http://www.ahistoriadolilinho.com.br/), mas fiquei encucada com algumas questões.
A história é a seguinte: um pai, escreve uma carta para a filha pequena. Lá ele diz que certo dia viram que o peixinho dela, o Lilinho, estava morto no aquário, mas, como ela ia ficar muito chateada com essa perda e tudo mais, eles resolveram "driblar" o destino. Compraram um peixinho novo, muito parecido com o Lilinho e colocaram no lugar dele, torcendo para que ela não percebesse a troca. No texto diz: "foi aí que tivemos que decidir entre contar a verdade e driblar o destino". E aí eles trocaram o peixinho. Segundo o comercial "seus pais conseguiram adiar minimamente esse sentimento que a perda dá ... Fatalidades não são algo que crianças devem saber. Crianças não deveriam saber de nada ruim."
E pra finalizar: "Uma dica pra você: Sempre que possível, interfere. Nada precisa ser como é."
AAAAAAAAHHHHHHH!!!! Como assim? Mentir é melhor que ensinar?
Bom, talvez mentir dê bem menos trabalho no momento. É mais fácil trocar o peixinho e deu. Não precisar lidar com o sentimento de perda. Não precisar ensinar que isso faz parte da vida. Mas e no futuro, quando o vovô morrer, vão substituir pelo que? Ah pois é...
É triste existir fatalidades. É triste existirem doenças. É triste doer, qualquer dor que seja. Mas é realidade. E, eu posso estar errada, já que não tenho ainda filhos, mas até onde eu sei, educar um filho deve ser ensinar a se virar no mundo que existe, correto?
É triste, por exemplo, saber que crianças, como você, passam fome e não tem um brinquedo pra brincar. Mas, ao invés de esconder isso, você pode aproveitar isso pra ensinar seu filho. Mostrar que, se ele tem mais que os outros, pode dividir. Foi me mostrando que existiam crianças com fome que minha mãe me ensinou que eu podia fazer comida pra eles. Foi me mostrando que existiam pessoas sem roupas, que minha mãe me ensinou que eu não precisava de tantas no meu guarda roupa. Foi me mostrando que existiam crianças sem brinquedo, que me ensinaram a dar os meus para os outros. Foi me mostrando que nosso corpo é frágil e que doenças existem em todas as idades, que no final da infância eu encarei a EM e não me senti desesperada.
Perdas todos temos. E acredito que não podemos ensinar as crianças que elas podem tudo sempre e não perdem jamais.
Não, não quero criar crianças amargas. Mas acho mais fácil ensinar a elas que as coisas existem e que nós escolhemos como vamos passar por elas. Acho mais fácil ensinar sobre a morte com a morte de um peixinho do que mais a frente, ser obrigado a ensinar com a perda de uma pessoa querida e insubstituível.
Vai doer? Vai. Ela vai chorar? Vai. Mas ela vai aprender também. E aprender e crescer às vezes dói um pouco.
Aquele que não aprende o que é uma perda quando criança, vira uma adulto que não sabe fazer escolhas. Afinal, quando temos que escolher uma coisa, deixamos outras para trás.
Adultos chatos, birrentos, teimosos e donos da verdade, normalmente foram crianças super protegidas.
Acredito na verdade. Na verdade sempre. Mentiras, por menores que sejam, não trazem coisas boas, jamais.
Mas a dica final, se mudado o contexto, acho correto. "Sempre que possível, interfere", não para mudar o "destino", mas para ensinar a como lidar com ele. As coisas não precisam ser como são. Perdas não precisam ser só sofrimento. E quando aprendemos que existem sofrimentos no mundo, tentamos mudar ele. Sem saber que eles existem, nada muda.
Não canso de dizer que mais do que um mundo melhor para nossos filhos, temos que deixar filhos melhores para o mundo. E não acho que mudar os fatos da vida, esconder verdades e adiar sentimentos façam das crianças pessoas melhores.
Mas, mostrar os fatos e as verdades e dizer que elas podem mudar, depende de nós, aí sim faz diferença. Dizer que sentimentos de tristeza e sofrimento existem mesmo e são legítimos mas que não devem dominar nossas vidas, também ajudam no crescimento. Passar pelo sofrimento junto também é uma bela forma de mostrar que todo mundo chora suas perdas, mas que quando há amor, ninguém fica sozinho.
Bela produção da Panvel, mas a mensagem, achei péssima. Sinceramente, em tempos de crianças mimadas que não sabem ouvir um não, não é essa a mensagem que precisamos.
No concurso, pra ganhar um ano de cuidados da Panvel, as pessoas deveriam contar sua "história de carinho". Pois eu acho que carinho não é mentir nem esconder. Carinho é ser verdadeiro, mostrar a realidade e ensinar a lidar com ela.
Acabei não enviando a minha história de carinho. Mas, se fosse contar uma, da minha infância, seria a do exemplo da minha mãe. Que sempre criou as duas filhas mostrando todas as diferenças que nos cercavam e nos ensinando que, independente de cor, condição financeira ou deficiências, todos somos seres humanos com direitos e sentimentos iguais, merecedores de respeito e amor sempre.
Então, continuando as mensagens de fim de ano: quem em 2012 possamos educar mais do que nos acomodar. Ensinar dá mais trabalho no início, mas a longo prazo dá mais tranquilidade e paz. Educação e amor, por uma infância mais feliz sempre!
Até mais!
Bjs

5 comentários:

  1. Apoiado, Bruna!
    Leio todos os seus posts pelo feeder e confesso que a preguiça me impede de vir aqui na página do blog para deixar comentários, mas nesse post queria deixar meu apoio.
    Gosto muito da frase que diz que devemos deixar filhos melhores para o mundo...
    Abraços e feliz 2012!

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  2. Você é uma mulher incrível! Leio faz um ano os seus posts e considero as suas colocações pertinentes, reflexivas e combustíveis para a chama da esperança. Você é um grande exemplo e não tenho dúvidas de que a sua mãe seja uma mulher espetacular. Desejo a você e a sua família e um novo ano de muita esperança e realizações. Continue nos brindando com seus posts de grande qualidade!!!! Ass.: Luciana Marques, Ouro Preto-MG, email:luciana.cecane@yahoo.com.br. Obs.: Inseri como anônimo pq não sei usar os perfis!!!

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  3. Oi Bruna,
    Concordo com você. Realmente se tivermos esse tipo de atitude construímos pessoas que no futuro não saberão lidar com as frustrações e limitações que surgem na vida. Contar a verdade é sempre uma boa solução e sofrimentos fazem mesmo parte da vida, temos que aprender a lidar com eles.
    Abraços,

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  4. Apoiado, Bruna! Essa é a inversão de valores que impera e "todo mundo" (o senso comum ou "homem médio") acha bonitinho, sem refletir no real significado daquele ato para o futuro da criança. Feliz Ano Novo pra ti e tua família! Tiago Rodrigo

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  5. Oi Bruna!!!
    Levei um susto quando assisti ao filme da Panvel.
    Até entendo que os pais queiram protejer seus filhos do sofrimento, mas agindo assim não estarão ajudando e sim os tornando fracos, incapazes de enfrentar as dificuldades que a vida apresenta.
    Beijos Bruninha,
    até...

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