quarta-feira, 22 de junho de 2011

Tirando os rótulos

Oi gentes, tudo bem?
Tem um negócio meio que me incomodando ultimamente: o enquadramento.
Calma, eu explico.
É essa mania que as pessoas tem de colocar todo mundo num quadradinho específico e esperar delas exatamente o que é referente a esse quadrado.
Tipo, você tem que agir conforme o seu rótulo. Sempre detestei isso. Desde pequena. Nunca aceitei aquela história de brincadeira de menina e de menino.
Tudo bem que eu sou meio do contra, mas tem coisas que me incomodam.
Por exemplo, me colocarem no quadrado do doentinho. Não sei se vocês já passaram por isso, mas tenho quase certeza que sim. Você diz: tenho Esclerose Múltipla. Aí a pessoa faz aquela cara de quem encontrou um cachorrinho abandonado e, como, no meu caso, a EM não aparece, a criatura ainda diz: mas não parece, e tu tem uma vida normal?
Isso me incomoda um pouco.
Não, falar sobre a EM não. E que fique claro, nem todo mundo reage assim. Aliás, as pessoas mais jovens costumam reagir melhor a isso. Bom, mas o que me incomoda é o rótulo: toda pessoa com alguma doença (principalmente se a doença tiver um nome com esclerose no meio) tem que ser meio coitadinha.
Pior, além de ser meio coitadinha, seria bom se mancasse um pouco. Já até ouvi comentários do tipo: mas tu nem manca nem nada né?
Não sei se respondo ou mando tomar no c...
Até parece que toda pimenta tem que ser ardida.
Desculpa a sinceridade. Mas é isso mesmo. Não gosto de rótulos de nada. Não sou produto pra alguém ler e esperar alguma coisa de mim. Afinal, é pra isso que serve rótulo: para dizer do que o produto é feito, quais suas características, e mais ou menos, o que você pode esperar dele.
A grande maioria das pessoas espera que a pessoa com alguma doença ou com deficiência seja dócil, coitadinha e contida. Sinto que acabo decepcionando um pouco essas criaturas. Ainda bem né...
Aí você pode perguntar: tá Bruna, mas o que tu espera das pessoas?
Não sei exatamente. Porque é lógico que ninguém vai ficar feliz e te dar os parabéns por ter EM. Ter uma reação do tipo: que coisa não?!, é normal. Mas a maioria das pessoas permanece por anos te tratando como coitadinho. Porque? Porque colocou esse rótulo em você.
E isso acontece com tudo, não só com quem tem algum perrengue físico.
Se você é mulher, tem que agir assim; se é publicitário, tem que ser assado; se faz mestrado, tem que fazer as coisas de tal forma; se tem cabelo curto, é de tal jeito... e a lista segue. Te rotulam até pelo bicho de estimação que você tem: porque dono de cachorro é de um jeito e de gato é de outro... ou vocês nunca viram disso?
Sabe do que mais... acho que as pessoas perdem muito ao rotularem, ao enquadrarem. Não só porque deixam de conhecer pessoas legais, a quem rotulam. Mas porque às vezes, rotulamos a nós mesmos.
Cuidem-se! As pessoas sempre vão tentar te enquadrar em alguma coisa. É assim que fazemos um "desenho" de quem é a pessoa. Isso é normal e natural. Às vezes a moldura serve. Mas quando ela não serve e, mesmo assim você age daquela forma, porque é o que esperam de você, aí a coisa fica feia.
Agir assim pode parecer mais fácil. Ficar numa zona de conforto em que tudo parece estar certo. Mas deve ser difícil viver dentro dum quadradinho, que o mundo te mostrou e você ficou ali dentro, porque era fácil agir do jeito que o mundo esperava, e, de repente, você colocar o nariz pra fora e ver que você é muito maior do que isso que você se convenceu que é. Pode causar um choque (positivo ou negativo).
Sair do quadrado nem sempre é fácil. Pode causar algum desconforto no início (eque fique bem claro: não estou defendendo aqui comportamentos destrutivos ou anti-sociais).
Efetivamente, somos vários, dentro de um só: sou esclerosada, mulher, publicitária, mestranda, de cabelo curto (deixando crescer novamente) e dona de gato. Mas isso não quer dizer nada sobre como eu sou ou como eu levo a minha vida.
Conhecer essas várias facetas de nossa personalidade torna as escolhas mais fáceis e seguras. E vocês sabem, a vida é feita de escolhas. Conhecer seus vários "rótulos" ajuda a manter um equilíbrio, para que não façamos apenas o que esperam de nós, esquecendo nossos gostos, preferências, jeitos, vontades, sonhos...
Isso pode decepcionar os outros, e pode até ferir alguém. Mas, se for alguém realmente importante, vai entender, cedo ou tarde o que suas ações significam pra você. E, se o que você estiver fazendo for realmente o mais importante pra você, dificilmente terá arrependimentos e mágoas.
Eu não sou grande coisa pra dar conselho pra ninguém, mas, se eu puder deixar um conselho, não será: seja você mesmo (porque nem sempre sabemos exatamente quem somos, ou de quem, de dentro de nós, estamos falando); mas: tente fazer aquilo que você acha certo, que vai te deixar mais feliz, e não somente aquilo que esperam de você. Saia da zona de conforto!
Nem sempre o que esperam de nós é o que vai nos colocar um sorriso no rosto (tanto a curto quanto a longo prazo).

Até mais!
Bjs

9 comentários:

  1. O pior é quando nós mesmos nos colocamos esses rótulos e/ou nos enfiamos nesses quadrados. Pegue leve consigo mesmo e com a vida!

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  2. Oi Bruna,
    Realmente essa história de rótulos é muito chata... E pior ainda quando "nos pegamos" comportando-nos exatamente como aquele rótulo as pessoas nos colocaram. É difícil mas temos que procurar descobrir a nossa verdadeira identidade para podermos enfim, "ser nós mesmos".
    Outra coisa de matar é a tal "zona de conforto" e tem muita gente que aceita esses rótulos por medo de se expor, de se afirmar. Mas acredito que na vida devemos procurar ser o mais simples possível e defender o que acreditamos, pois só assim seremos felizes. Acredito que quem está na "zona de conforto" somente tem a ilusão de ser feliz, mas são castelos de areia que se desmororam com qualquer ventania.
    .... "nossa...acho que empolguei com esse assunto."
    Bjs

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  3. Olá Bruna,
    realmente é ruim essa história de rótulos que nos colocam. Já me senti assim rotulada como coitadinha... e principalmente porque também não tenho sequela nenhuma "visível" é claro.
    Mas temos que levar a vida da melhor maneira que conseguimos e acima de tudo sermos felizes.
    Bjus.

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  4. Existe rótulo pior do que "esclerosada"?

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  5. Esclerosada na verdade é um diagnóstico, não um rótulo, assim como diabético, celiáco, etc...

    E mesmo que vejas como um rótulo, existe sim muito piores: canalha, corrupto, desonesto...

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  6. Qual o CID para o diagnóstico "Esclerosada" ?

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  7. Oi Bruninha, tudo bem???!!!

    Concordo totalmente contigo.
    Detesto esta mania de rotular as pessoas. Assim como rotulam, julgam e até sentenciam.
    Dentro de cada ser humano existe um universo, impossível de ser rotulado.

    Beijos minha querida e bom fim de semana prá ti.
    Neyra.

    E VIVA SÃO JOÃO!!!

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  8. Isso aí Neyra...viva São João!
    Sobre o CID, é G 35... não, não diz esclerosada lá... mas diz portador...você não precisa gostar de como eu chamo, assim como eu não gosto de anônimos, mas leia o link de onde eu explico porque de usar esclerosada: http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com/2009/11/que-palavra-usar.html
    Bjs e bom findi aos amigos declarados e anônimos tb! Até segunda!

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  9. Esclerosada não é diagnóstico e não tem CID, concordo contigo...

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