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sábado, 15 de março de 2014

Coisas que "todo mundo fala", mas não deveria...


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Hoje eu tirei um tempo pra responder os emails do blog e pra responder todos os comentários do post anterior, que, aliás, me emocionaram muito, todos!
Ainda vou responder tudo isso, mas não será hoje. Porque hoje eu vi e li duas coisas que me deixaram chateada e que eu quero compartilhar com vocês.
Primeiro, depois de acordar e tomar café, sentei pra ler o jornal. Mas especificamente o Zero Hora, que é o jornal que assinamos aqui em casa. E eu sou dessas pessoas que lê o jornal inteiro (quer dizer, quase inteiro porque não leio classificados de carros). Por isso acabei lendo o texto escrito por Marcos Piangers, no caderno Vida, que fala sobre saúde e, a coluna dele, mais especificamente, sobre os filhos, ou melhor, sobre ser pai.
Eu não sou muito fã desse comunicador, mas li, porque leio o jornal. E ele estava indo muito bem falando de sua filha de dois aninhos, de como é fofa a forma que as crianças inventam palavras etc e tal. Até o momento em que ele diz:
"Se ela tivesse 10 e falasse desse jeito ia ser meio preocupante, mas como ela parece uma anã falante de pijama pela casa, qualquer grunhido emociona".
Li e fiquei pasma! O que ele quis dizer com anã falante? Anões por acaso não falam? Não são seres humanos como eu e ele? Não crescem, se desenvolvem e vivem em sociedade como qualquer pessoa? Como assim anã falante?
Claro, ele deve pensar ainda como se pensava lá no século XIV, nos freak shows, que anões são seres inferiores que só servem para fazer graça. Os bufões da "corte". Aquele de quem se ri e aponta o dedo. Triste saber que um cara com filhas pequenas pensa assim. E que provavelmente vai ensiná-las a rir de outras pessoas. Rir de anões, rir de pessoas com deficiência, rir de qualquer um que seja diferente dele.
Bom, isso foi o começo do dia.
Aí, antes de almoçar, sentamos na frente da TV pra ver o segundo episódio do Coisas que Porto Alegre fala, na RBS TV. Aqui em casa a gente já gostava desses guris quando era na internet, e depois, com nosso amigo Marcus entrando pro grupo e sendo estrela do seriado, gostamos ainda mais.
Mas hoje eles cagaram fora do pinico. E cagaram feio. E o pior, devem ter se matado de rir da piadinha sem graça.
Bom, quem quiser ver, o link ta aí:

http://redeglobo.globo.com/rs/rbstvrs/curtasgauchos/videos/t/edicoes/v/reveja-o-segundo-episodio-da-serie-coisas-que-porto-alegre-fala-do-curtas-gauchos/3213874/?fb_action_ids=10201702951551701&fb_action_types=og.likes&fb_source=other_multiline&action_object_map=%5B1479112932311395%5D&action_type_map=%5B%22og.likes%22%5D&action_ref_map=%5B%5D

Quem não conseguiu ver, o episódio começa com três guris dentro de um carro, esperando três gurias pra um encontro. Aí os três ficam com medo, porque estão no meio do nada e vendo as gurias chegar perto do carro, veem que uma menina manca. E aí o meu amigo Marcus (que decepção meu querido) diz: meu, tem uma que tá mancando! e ainda repete: olha a manca, olha ali meu...
Nossa, perdeu toda a graça no início do episódio. Toda!
Alguém pode me dizer o que há de errado e/ou engraçado em uma mulher com mobilidade reduzida e passo claudicante (esse é o nome certo pra manca)? Eu manco as vezes, manco tanto que preciso de uma bengala de apoio. E duvideodó que algum desses guris tenha "pegado" algum dia uma mulher como eu.
Não vejo graça alguma fazer piada preconceituosa. Ainda mais com uma situação de diferença como essa.
E me surpreendeu e decepcionou mais ainda por ter saído da boca de um amigo. E de um amigo que é negro e fala que sempre sofreu preconceito por causa da cor da sua pele. Me entristece saber que alguém que sente na pele o preconceito reproduz um discurso preconceituoso com a diferença do outro.
E vocês podem até dizer que não é preconceituoso, que era só uma piadinha. Mas piadinha que ofende, que fere, que humilha, não tem a mínima graça. E a minha pergunta, essa direta pro Marcus, você vai fazer piada menosprezando, ofendendo negros e perpetuando um discurso racista também nesse seriado? Francamente!
E pra todos, vocês acham que as meninas e mulheres que tem mobilidade reduzida já não sofrem preconceito o suficiente no dia a dia e precisam ligar a tv e ver uma gurizada fazendo piada com essa condição? Já é bem difícil pra gente tomar coragem pra sair de casa. Sempre. Piadinhas assim só nos dizem que: sim, fiquem em casa que é o lugar de vocês, porque na rua, nós vamos apontar, rir e considerá-las aberrações.
A única aberração que eu vejo nessa história são as pessoas que acham isso engraçado.
NÃO TEM GRAÇA!
Eu me senti, pessoalmente, individualmente ofendida. E tenho certeza que não fui a única.
Nesse sentido, me uno à campanha #falapramimrafinhabastos. Não sei se vocês já viram sobre esse caso, mas o senhor Rafinha Bastos (me nego a chamá-lo de comediante, porque comédia é engraçada e o que ele faz não tem graça), fez e continua fazendo piadas preconceituosas, principalmente com pessoas com deficiência e com pessoas com doenças mentais. Após ter vencido um processo judicial movido pelas APAEs, a campanha começou a rolar na internet, porque agora, depois de vencer o processo, ele acha que pode falar o que quiser mesmo.

E, vou dizer uma coisa: não pode não!!!!
Ninguém pode sair por aí desrespeitando o outro. E tem sim como fazer piada, fazer humor de altíssima qualidade sem ofender.
Eu sei que muita gente diz que isso é azedume meu. Que eu não acho graça de nada. Mas é mentira, porque eu acho graça sim de muita coisa. Só não acho graça e bato palma pra desrespeito, ofensa e humilhação.
O preconceito não está só nos grandes discursos de ódio. Mas nas sutilezas do dia a dia.
O pessoal que produz o seriado em questão deve se achar super descolado e nem um pouco preconceituoso. Mas nessa piadinha, nesses poucos segundo de fala, mostraram todo seu preconceito. Uma baita decepção!
Sugiro a todos que acham que piadas são inocentes o documentário abaixo:

Nenhuma palavra é inocente. Nenhum discurso é isento de intencionalidades.
Espero que isso mude. Espero poder abrir um jornal ou ligar um TV sem ter essas tristes surpresas novamente.
Até mais!
Bjinho no ombo (pro recalque passar longe)!