segunda-feira, 28 de novembro de 2016

Carta à jovem grávida

Oi queridos e queridas, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo bem. Estamos com 38 semanas de gravidez (lembrando a quem não entende de gravidez em semanas, que o total de uma gravidez é 40). Estamos ansiosos pela chegada do nosso pequeno e, ontem, recebemos um email de uma querida amiga que está nos primeiros meses de gravidez. Ao pensar numa resposta pra ela, acabei pensando em algo que eu gostaria de dizer a todas as mulheres que estão no início dessa caminhada linda, intensa e emocionante que é estar grávida. Então, peço licença ao assunto esclerose para falar de gestação.


Carta à jovem grávida
Olá amiga que está grávida. Se você não me conhece e está lendo essa carta, ainda assim te chamarei de amiga, afinal, compartilhamos de uma experiência única e inexplicável de nossas vidas: a gravidez.
Não importa a sua idade, jovem grávida, és jovem porque estás no início de um caminho que eu me encontro no final.
Eu sei que para cada uma de nós, essa experiência é diferente. Algumas, como eu, planejaram esse momento. Outras foram pegas de surpresa. Algumas tem um companheiro do lado, outras não. Algumas ficam felizes com essa vivência, com seu corpo, outras nem tanto. Por isso, não leve essas palavras como algo que você deve, obrigatoriamente viver nos próximos meses. Porque a sua gravidez e a minha são diferentes. No entanto, gostaria de te contar um pouco como foi para mim.
Eu conto porque nesses meses, às vezes eu sentia falta de alguém que vivia a mesma coisa que eu pra compartilhar. E a cada texto de amiga grávida que falava da emoção que estava vivendo, e eu me encontrava naquelas palavras, me sentia fazendo parte não só de um grupo - o de mulheres mães - mas me sentia parte de algo maior, sem explicação.
A verdade, minha amiga, é que nada... nadica de nada nessa vida nos prepara para a gravidez. Por mais que tenhamos vivido momentos intensos, emocionantes, alegres ou tristes em nossas vidas, absolutamente nada nos prepara para o momento em que nosso corpo gera um ser dentro da gente.
No início, quando ainda não sentimos ele mexer, ficamos olhando para o próprio ventre e pensando em como pode ter um serzinho ali dentro. E naquela ecografia que a gente vê que o bichinho de apenas 7cm já tem mãozinha, pezinho e rostinho, ficamos sem saber explicar como isso acontece.
Por mais que nos expliquem biologicamente como acontece, a transformação da gente em mãe é algo que não se explica.
Aí a gente fica querendo ver barrigão e sentir o bebê mexer. E começa a ler sites sobre o assunto, conversar com outras mulheres sobre isso e fica na expectativa. Eu jurava, com 4 meses, que aquilo que eu tinha era barriga de grávida. Hoje, olhando as fotos, eu rio, porque só fui ter mesmo barrigão a partir do sétimo mês. Então, não se culpe por andar meio torta no início, pra forçar uma barriga que ainda não existe. Ou, se você já tem o barrigão desde o início. Não é a barriga que faz a gente mais ou menos mãe. Nem os peitos, que, você vai ver, vão crescer, ficar estranhos e ligeiramente - ou muito - diferentes um do outro.
Mas nada, minha amiga, nos prepara para aquele momento em que você se olha nua no espelho e percebe que seu corpo são dois. Que sua alma são duas. E que você nunca se achou tão linda na vida quanto agora, carregando esse barrigão lindo. E mesmo você não conseguindo enxergar mais suas partes íntimas no banho, você ama esse barrigão mais que tudo e começa a sentir falta dele nas últimas semanas de gravidez.
No início a gente fica pensando, a cada movimento ou barulho estranho da nossa barriga, se aquilo é o bebê se mexendo (ou gases). Mas ele ainda é pequeno. Se mexe o tempo todo e a gente não sente. E quando perguntamos pra alguém como é e ouvimos aquele fatídico "você vai saber quando for", ficamos até brabas com isso. Mas, minha amiga, vou ser a mulher chata que diz: você vai saber quando for! E quando for, você vai ver que nada na vida te preparou pra esse momento. Nenhuma alegria vivida antes se compara a um filho brincando no seu ventre.
Antes disso acontecer, eu já conversava e cantava pro Francisco. Antes mesmo de saber que ele seria Francisco. Mas quando eles mexem, há uma interação entre mãe e filho que só nós sabemos. Só nós sabemos o quanto ele mexe de um lado pro outro com a conversa do papai e o quanto ele pula quando é a titia que coloca a mão na barriga. Só a gente sabe que ele mexe diferente quando encostamos na barriga algo frio ou quente. Só nós sabemos!
Pois é, amiga... entramos para o time das mães, esse time que tem coisas que só quem é mãe que sabe. E aí entendemos aqueles discursos de "quando você for mãe você vai entender". Porque é verdade. Só sendo mãe pra saber.
Os pais que me perdoem, mas é bom demais ficar grávida. Claro que existem coisas que só os pais sabem. E claro que não é preciso passar por uma gestação física para se tornar mãe e pai. Mas sim, é uma emoção diferente de tudo que alguém pode viver.
Eu cuido quando eu digo que tenho um dózinho de quem não engravida. Porque não é uma pena das mulheres que não podem engravidar, nem um julgamento sobre as que não querem. É um dózinho mesmo porque é algo tão gostoso, tão maravilhoso, tão tão tão... tão sem palavras, que eu gostaria que todas as pessoas no universo, homens e mulheres, pudessem vivenciar. Ainda que não queiram ser mães ou pais. Não sei se me fiz entender sem ofender ninguém... mas, enfim, eu queria poder compartilhar essa felicidade enorme que toma todo meu corpo com todas as pessoas...
Também, no início da gravidez, a gente fica com um pouco de medo, afinal, o bebê está ali dentro e deve estar crescendo saudável. Mas como saber? Como ter certeza? Como saber se o coraçãozinho está batendo se não podemos escutar diariamente, nem tocá-lo? Mais uma vez, minha amiga: você vai saber quando algo não estiver certo. E não hesite em ir no médico, mesmo que todo mundo diga que é bobagem, que é exagero de primeira gravidez ou que você tá fazendo fiasco. Porque, lembre-se, mãe sabe das coisas. E é incrível mesmo o quanto a gente sabe. Eu não achava que saberia, até que aconteceu: depois de um estresse emocional, comecei a sentir algo diferente no meu corpo. Fui na médica e descobri que meu colo do útero estava muito fino pra 30 semanas. E foi aí que fui pro repouso. Então, minha amiga, não se preocupe, você vai saber! Ou melhor, se preocupe, porque uma das coisas que acontece quando vamos nos tornando mãe é isso: ficamos mais preocupadas e atentas a tudo.
Aliás, sabe aquelas convicções que você tinha e defendia, como o feminismo, a igualdade racial, de gênero, o fim da fome no mundo? Então, isso tudo vai aflorar e você vai defender ainda mais. Afinal, o mundo não tem que ser melhor mais pra você e pra quem já está aqui, mas pro seu filho que está chegando. E você não quer que ele cresça ouvindo discursos de ódio, nem que ele naturalize o racismo, nem que ele cresça achando que pode tudo porque é homem ou que não pode nada porque é mulher. Quando engravidamos, damos uma carta de esperança ao universo e temos que fazer com que essa esperança continue com a gente e que perpetue com nossos filhos e nossas filhas.
E a barriga vai crescendo e você vai se transformando. Quando descobre que nada no mundo, nem as mexidas constantes do seu bebê na barriga, te prepararam para o momento em que começa a sair um líquido do seu peito e você se vê capaz de alimentar a sua cria. Nada no mundo te prepara pra isso. Assim como, eu sei, que isso não me preparou para o momento em que eu terei meu filho mamando no meu peito.
Outra coisa também é certa: você vai chorar! Vai chorar bastante. E isso não é ruim. É apenas a emoção que não cabe em você saindo pelos olhos. Você vai chorar quando ver aquele borrão na primeira ecografia e ouvir, pela primeira vez o seu segundo coração bater. Você vai chorar quando ler aquelas mensagens de maternidade que os amigos vão postar na sua timeline nas redes sociais. Você vai chorar quando cantar pro seu bebê e ele mexer suavemente ao som da sua voz. Você vai chorar quando tentar falar publicamente sobre a emoção de estar grávida. Você vai chorar quando for tentar ser o porto seguro do pai do seu filho, que está passando por transformações diferentes das suas, mas ainda assim, transformações. Você vai chorar quando ganhar um mimo cheio de carinho pro quartinho do seu bebê. E vai chorar quando pegar as roupinhas dele na gaveta da cômoda e ver o quanto ele vai ser pequenino ao nascer. E vai chorar quando ver crianças brincando no parquinho. E vai chorar quando parecer que você está vivendo tudo isso sozinha, porque só você na casa está grávida e parece que ninguém entende o que está acontecendo com você. E também vai chorar quando receber um email de uma amiga dizendo o quanto está torcendo por você e que já ama seu filho também. E vai chorar escrevendo um texto como esse... sem dúvida, você vai chorar!
Dizem que, quando você engravida, nasce também uma plantação de palpiteiros, e que essa plantação floresce ainda mais depois que ele nasce. E é verdade. Todo mundo tem um palpite sobre a sua gravidez. Mas, sabe, minha amiga, não leve isso como imposição dos outros. São poucas as pessoas que falam porque acham que você não vai saber o quê ou como fazer. A maioria delas fala como forma de carinho, porque se preocupam com você e com seu filho. E, quer saber, quando você menos perceber, vai estar fazendo o mesmo com outras mães. Porque é isso que a gente faz: a gente pega a própria experiência e tenta passar adiante. Eu passei esses nove meses ouvindo mil palpites. Ouvi todos com carinho e guardei comigo aqueles que me parecem servir. Claro que, dependendo do dia, a gente tem vontade de dizer chega! Mas aí a gente lembra o quanto é bom ter pessoas junto com a gente, mesmo que seja pra dar palpite furado, ou dizer "no meu tempo..."
Não sei você amiga, mas eu me sentia feliz e lisonjeada com cada pessoa que queria tocar na barriga e fazer um carinho. É um carinho na mãe e no filho. Claro que eu não tive a invasão de alguém desconhecido querer fazer isso. Mas é muito bom ter esse carinho!
E o carinho mais gostoso, para mim, foi o do pai do meu filho. Que me olhou nesses meses todos como se eu fosse a mulher mais desejável da terra. Que cuidou de mim e do meu corpo muito mais do que antes. Que soube me tocar, me acariciar e me admirar nessa transformação louca. Que soube secar todas as minhas lágrimas, ouvir todos os meus lamentos, medos, anseios e minhas palavras desconexas para explicar o que eu estava vivendo internamente. Que entendeu, nesse tempo todo, que além de mãe, eu continuava sendo sua mulher, sua namorada e que eu precisava de colo, muito colo o tempo todo. Nada vai te preparar para acordar no meio da madrugada e ver que seu parceiro está fazendo carinho na sua barriga, mesmo estando dormindo num sono pesado. Nada vai te preparar para ver seu marido, companheiro, namorado, se tornar o pai do seu filho.
Bom, e se você tem bichinho de estimação, como gato ou cachorro - no meu caso eu tenho dois gatos - nada vai te preparar para aquele momento em que você percebe que seu bichinho sabe que tem um filhote dentro de você. Nada vai te preparar para o felino ronronando do lado de fora da barriga e o bebê "respondendo" do lado de dentro. Nada vai te preparar para aquela madrugada em que você acorda com uma contração e, quando olha para o chão, ao lado da cama, estão os dois gatos olhando pra você, como se tivessem previsto que você precisava de alguém.
Então você começa a ter contrações no final da gravidez. E lê sobre as tais contrações de treinamento e vai batendo aquela ansiedade pra saber quando vai ser o parto, como vai ser o trabalho de parto, que dor você vai sentir, e se aquilo ali é de treinamento ou se já é de verdade. E, mais uma vez, as pessoas te dizem: calma, na hora você vai saber.
Acho que elas devem ter razão. E, por isso, eu senti mais ansiedade há duas semanas, quando eu tive as primeiras contrações fortes de treinamento do que agora, mais perto do parto. Afinal, eu já entendi que, quando eu engravidei, instalaram uma espécie de chip na minha cabeça - ou seria no meu coração? - que me faz saber de coisas que eu nem imaginava que saberia.
Minha amiga, eu te contei um pouco - bem pouco mesmo - sobre a minha gravidez. Não que eu ache que isso vai te preparar pra alguma coisa. Não se engane, nada vai te preparar pra viver esses momentos. E você vai vivê-los como tiver, puder e souber viver. E isso vai te transformar em outra pessoa. E você nem vai reclamar disso.
Eu não acho que tudo que já li, ouvi e vi sobre o parto tenha me preparado para o momento que estou prestes a viver. Por mais que as pessoas me digam que ver o bebê, tocar, cheirar ele pela primeira vez é algo mágico, só quando eu passar eu vou saber. E é por isso que eu não tenho medo de pegar no colo, dar de mamar, dar banho etc... eu vou saber! E vou saber porque vou aprender com quem já sabe, mas, principalmente, com esse menino com quem me relaciono desde antes de saber que estava grávida, que me ensinou a ser mãe dele antes mesmo de nascer. Porque, minha amiga, esse relacionamento que construímos com nossos rebentos, nem a gente sabe explicar.
Pode ser que a sua gravidez seja completamente diferente da minha. Pode ser que esse relacionamento só comece quando você ver seu bebê. Pode ser que você deteste seu barrigão e não consiga se relacionar com esse novo corpo. Pode ser que o relacionamento com seu parceiro piore e não melhore, como foi o meu. Pode ser que você se sinta triste e não radiante.  E isso não vai te fazer mais ou menos mãe. Ou uma mãe melhor ou pior. E, tudo bem... porque cada mãe tem um modo diferente de viver a maternidade.
Fica tranquila, você não vai estar
preparada, mas vai saber!
Beijos

5 comentários:

  1. Lindo texto amiga, cheio da emoção que estás vivendo. E sim, nada disso te prepara para o momento em que te tornares mãe efetivamente. Não me leve a mal, é óbvio que tu já és mãe, desde antes de saber que seria, mas a maternidade vai se tornando real aos poucos, como tu mesma disseste: o corpo se transformando, a barriga crescendo, o bebê mexendo até finalmente tê-lo nos braços, amamentar, cheirar.
    Eu cuidei pra não palpitar demais, porque além de saber que é chato, sei que toda a experiência que ganhei com meus cinco filhos é minha experiência e não me credencia a saber mais que tu. Além disso, são outros tempos, os 7 anos que separam meu último parto do teu somado aos anos que separam minha idade da tua, fazem muita diferença na forma de fazer e encarar as coisas. Mas é quase impossível, porque quanto mais bem a gente quer a alguém, mais a gente se mete.
    De mais a mais, gostaria de ter estado por perto, pra ajudar, te ouvir, compartilhar desse momento tão lindo. Mas fiz isso daqui de longe, através dos teus vídeos e das nossas conversas aqui e ali. Também sei que estás muito bem assistida pela tua mãe e sogra e também pelo teu amor. Jota pode ser inexperiente nesse lance de ser pai, mas ele tá se saindo muito bem até agora e vai se sair bem depois.
    Vou continuar longe, infelizmente, mas tô ao alcance da mão pra qualquer coisa, é só gritar.
    Te desejo um parto tranquilo e que Francisco chegue logo (no tempo dele, claro!) pois estamos todos ansiosos!
    Te amo de montão e te desejo tudo de bom hoje e sempre.
    Beijos

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  2. E você vai chorar também sozinha no trabalho com seus filhos ja crescidos (alguns nem tanto)lendo uma carta escrita para uma jovem mamae gravida e lembrando de tudo, tudinho, como se tivesse sido ontem. Você vai agradecer por ter vivido essa experiência absurdamente e lindamente magica algumas vezes. Você sabe que muito provavelmente a sentira de novo na sua filha e nas suas noras um dia, daqui a muitos ou alguns anos. E você agradece silenciosamente. Pensa nos filhos. Imagina o barrigao da Bruna la no outro lado do mundo e agradece a ela tambem por ter iluminado seu dia com um texto tao sensivel e tao humanamente verdadeiro.

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  3. Que lindooooooooo!!!
    Não vejo a hora de conhecer o Francisco, embora sinta como se já o conhecesse, de tanto amor que sinto.
    Bruna, tenha um parto tranquílo!
    Beijos com muito amor pra ti, Jota e Francisquinho <3

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  4. Lindo de viver!!!
    Estou vibrando por vc, Francisco e o Jota.
    Que vcs tenham um parto tranquilo!!
    Deus os abençoe ����

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  5. Bruna, que lindo! Que Deus os proteja.
    Beijos, Beti

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