terça-feira, 27 de outubro de 2015

Sentir, fazer, colaborar: isso faz sentido!


Oi queridos, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo! Principalmente porque tivemos um sábado de renovação de energias e renovação de esperança na humanidade!
Vocês lembram de quando eu e o Jota fomos na Mercur, em Santa Cruz do Sul, participar de uma conversa sobre EM e eu voltei encantadíssima com tudo de lá? (Quem não lembra, olha aqui). Então, na semana passada recebemos um convite do pessoal da Mercur e do Diversidade na Rua (amo vocês!) pra participar de uma apresentação de projetos de muletas. Quando li não entendi muito bem, mas o convite era da Mercur, num dia que eu podia participar, ou seja, era irrecusável!
Bom, depois fui ler melhor o que era o Colabora, que é um convite para uma mobilização, no caso, pela tecnologia assistiva. Vocês podem conhecer todo o COlabora no site http://www.mercur.com.br/COlabora/, mas vou tentar resumir aqui (desculpem se faltar alguma coisa). Resumindo, eles lançaram um desafio de mobilização: criar, em equipe (de 3 a 5 pessoas), uma muleta considerando novas alternativas de design, novos materiais com menor impacto humanosocioambiental, custo acessível e viabilidade de fabricação. Ou seja, as equipes compostas por pessoas interessadas no projeto, deveriam pesquisar novos materiais, novo design, conforto etc para criar uma muleta que pudesse ser produzida.
Bem, eles receberam 52 projetos do Brasil inteiro, com os mais variados perfis de pessoas trabalhando e pensando em soluções para mobilidade reduzida. Desses, 10 foram selecionados lá na primeira fase do projeto (maio de 2015), para dar seguimento ao desenvolvimento da ideia, montagem de protótipos, estudos mais aprofundados pra ver a viabilidade da coisa.
E no dia 24 de outubro era a hora desses 10 grupos apresentarem seus projetos finais para serem avaliados pela equipe Mercur, por profissionais que trabalham com reabilitação, arquitetura, design e também pelos usuários. Nós fomos lá para conhecer esses projetos maravilhosos, ter a difícil missão de escolher 3 para dar uma nota porque os três melhores colocados ganhariam uma recompensa em dinheiro. Eu queria escolher todos. Todos eram lindos!
Contando melhor sobre esse dia lindo que foi sábado, primeiro, um agradecimento especial ao Zé Carlos e sua esposa, que nos proporcionaram uma confortável e agradável viagem de Porto Alegre À Santa Cruz. Viajar batendo um papo gostoso é muito mais legal né? Chegando lá, o primeiro grupo já estava apresentando seu modelo de muleta. A sala estava cheia. E a primeira coisa que eu pensei foi: gente, se esse pessoal nunca usou uma muleta ou não tem ninguém em casa que use, eles passaram o último ano inteiro prestando atenção nisso. E não só no objeto muleta em si, mas nas dificuldades de quem usa uma muleta, nos custos financeiros e sociais do uso de uma muleta. Passaram a prestar mais atenção em calçadas esburacadas, ambientes não acessíveis. Em quanto esses materiais ortopédicos que passam a ser a extensão de nossos corpos são feios pra chuchu e, pior, desconfortáveis. Enfim, a provocação da Mercur fez com que essas pessoas nunca mais fossem as mesmas depois do projeto.
Sobre as muletas, eu fiquei encantada com todas: umas pelo material utilizado, outras pelo design diferente, outras pelos benefícios que prometem. Sério gente, olhem lá nos projetos, um a um, tem muleta de bambu, de plástico verde, de PET reciclada... tem modelos lindos, arrojados, leves. Vale a pena!
Isso foi de manhã. Depois do brunch (gente, brunch em terra de alemão é quase um café colonial... olha a cara das crianças comendo ali na foto), pudemos conversar com os desenvolvedores dos projetos, fazer perguntas etc antes de votar.
Votar foi difícil de-mais! E eu não vou abrir meu voto...hehehehehe. E depois da votação, teve um momento muito especial, uma roda de conversa diferente, que encheu minha vida de mais alegria.
Como estávamos em muitas pessoas, a coisa tinha que ser organizada, e eles utilizaram uma técnica que eu gostei muito, a técnica do aquário. Dentro do círculo maior, fica um círculo menor com 5 cadeiras. Quem está no círculo maior só pode ouvir. E para falar, você precisa se dirigir ao círculo menor. Uma das cadeiras do círculo menor tem que estar sempre vazia, caso alguém do maior queira entrar na conversa e falar alguma coisa. Assim, todos que querem falar, falam e os demais ouvem, sem ruídos, sem ninguém se metendo na fala de ninguém.
A conversa começou apresentando, principalmente aos desenvolvedores dos projetos,a seguinte questão: o que representou para mim, construir um projeto que considere as reais necessidades de quem precisa dele?
Nesse momento eu pensei: hoje vou me controlar e vou ficar quietinha, só ouvindo as pessoas... até parece né?! Hahahahahahahha
No início, ninguém quer ir pro meio da roda... mas um rapaz foi lá e falou algo que me chamou atenção, que foi bom trabalhar com "um mundo que não está em nossas vidas, um mundo que a gente não conhece"... e, realmente, o mundo das pessoas com deficiências é um mundo desconhecido do resto do mundo. É um mundo "à parte". Mas, sabem, ele não precisa ser. A gente pode se mostrar por aí, falar sobre esse nosso mundo e mostrar pra quem vive nesse outro mundo que o nosso é legal também. Por isso que eu sempre digo que inclusão e acessibilidade é algo pra todos. Promover acessibilidade não é só facilitar a vida da pessoa com deficiência, é permitir que haja interação entre esses dois mundos tão diferentes e tão iguais ao mesmo tempo.
Estar naquela roda de conversa nos provava como estamos todos num mundo só, mas as vezes não abrimos os olhos, a mente e o coração para enxergar tudo que há nesse mundo.
Segurei por um tempo, mas não me aguentei sentadinha na cadeira. Fui lá parabenizar a Mercur por fazer essa provocação. Porque ali não foram criados "apenas" muletas. Foi criada uma consciência de que existe um outro no mundo que tem necessidades diferentes das minhas. E que, daqui a pouco, esse outro pode ser eu. No momento em que esses grupos passaram meses debruçados sobre histórias de pessoas que usam muletas, e sobre o objeto muleta em si, criaram-se "rampas na cabeça dessas pessoas". Como eu disse lá, ninguém vai sair do COlabora sendo o mesmo de quando entrou.
Era uma roda de conversa, mas era também uma roda de afetos, de amizade e de muita gratidão. Cada um que estava ali era grato, talvez, por motivos diferentes. Eu sou muito grata por ter tido a oportunidade de conhecer essas pessoas, esses projetos e de ver que eu não estou tão sozinha assim nessa ideia colaborativa de vida.
Impossível seria colocar em palavras toda a troca que aconteceu naquela tarde. Mas, acreditem, quem compartilha vai mais longe!
Muito obrigada a todos que fizeram esse momento possível. E, se liguem, logo logo eu divulgo o projeto do COlabora 2016!!!!
Diversidade na Rua presente no COlabora

Trouxemos na bagagem muito amor, uma energia positiva inexplicável, um convite que logo logo conto pra vocês e uma vontade de ter o andador com cadeirinha da Mercur, né Jota? heheheheheh

Até mais!
Bjs

Um comentário:

  1. Faltou uma coisa... a gente trouxe na bagagem uma caixa com doces e salgados que sobraram do brunch... ser os últimos a sair tem suas vantagens, hehe.

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