terça-feira, 6 de outubro de 2015

Audiência Pública - Avonex


Oi gentes, blz?
Hoje dou um intervalo nos vídeos do 2° Encontro de Blogueiros de EM pra falar de um assunto muito sério: a Audiência Pública que aconteceu essa tarde sobre a exclusão do Avonex do rol de medicamentos pra EM disponibilizados pelo SUS.
Escrevo esse post simultaneamente, enquanto assisto aqui de casa a audiência.
Consegui ligar e estava na fala do dr. André Palma da Cunha Matta,médico neurologista, representante do Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e Doenças Neuroimunológicas. O dr. André expôs aos presentes o que é a EM, como um quadro geral do que é a doença, sua evolução, incidência etc. Coisas que nós conhecemos muito bem, mas que a maioria das pessoas desconhece. Dr. André nos deu uma aula sobre EM e, mais, sobre o porque manter o Avonex é importante: é um medicamento comprovadamente eficaz, é seguro e tem grande aderência por parte dos pacientes.
Após ele, a advogada Sumaya Afif falou em nome da ABEM - Associação Brasileira de Esclerose Múltipla, e falou que excluir o avonex é um retrocesso social imenso.
O Sr. Marcio Machado, Diretor de Acesso ao Mercado para a América Latina do Biogen Idec Brasil falou em nome do laboratório e ressaltou o quanto o medicamento é sim eficaz no tratamento da EM.
Depois a palavra ficou com a Dra. Clarice Alegre Petramale, Diretora do Departamento de Gestão e Incorporação de Tecnologias em Saúde do Ministério da Saúde, que se viu numa saia justa, principalmente quando as perguntas se dirigiram a ela no final da audiência. Mas antes, vamos ao que ela falou e, preparem-se, notícias bombásticas: a sugestão de exclusão do Avonex dos medicamentos ofertados pelo SUS foi motivado após uma indústria farmacêutica concorrente, que tinha interesse que seu medicamento, que hoje é de segunda linha, fosse colocado como primeira e, para isso, questionaram o Avonex como primeira linha. Sinceramente, todos nós já desconfiávamos disso. Na hora das perguntas foi pedido pelo Dr. Marco Aurelio, representante da AME, que ela tornasse pública que empresa é essa. Bom, como na maioria das perguntas, ela deslizou e não respondeu. Mas não é difícil de saber quem é né, afinal, não temos muitos medicamentos que foram colocados como segunda linha no protocolo de EM, que seja de laboratório concorrente da Biogen. A não ser que seja outro e a dra. Clarice se confundiu. Bom, independente de quem seja (e temos poucos laboratórios pra pensar), é uma sujeira.
Ela ainda explicou o que é a CONITEC, como funciona, pra que serve etc. e tal. Mostrou um "estudo" que diz que o Avonex não é eficaz, indo na direção contrária de tudo o que a gente conhece e, inclusive, da ANVISA e disse que no dia 08 de outubro, ainda essa semana, haverá uma plenária para discutir os resultados da Consulta Pública e aí sim decidirem se exclui ou não exclui o Avonex do SUS.
Bom, antes de voltar as falas da Dra. Clarice ao responder as questões que fizeram a ela, agradeço imensamente o Dr. Marco Aurelio Torronteguy, que foi até lá nos representar, foi lá representando a AME. A fala dele foi importantíssima e de uma competência ímpar. Ele apresentou os dados da consulta pública que teve uma participação significativa: temos 30 mil pessoas com EM no Brasil e tivemos 5 mil participações na consulta pública, dentre pacientes, médicos, entidades de saúde etc. Pessoas que apresentaram estudos científicos e suas experiências de vida para dizer que sim, o medicamento é eficaz e necessário.
Como bem disse o Marco, o perfil do esclerosado brasileiro não é tão ruim quanto poderia ser porque nós temos um tratamento ofertado pelo SUS. Mas se o SUS começar a negar isso aos pacientes, não sabemos como será. Ainda, segundo ele, do ponto de vista do direito, é inconstitucional a exclusão de qualquer medicamento eficaz pelo SUS.
Após a fala dele, alguns deputados presentes fizeram questionamentos bastante pertinentes.
O deputado Eduardo Barbosa perguntou se essa "outra droga" pode substituir o Avonex.
Já o deputado Alexandre Serfiotis quis entender melhor a plenária que acontecerá no dia 08: Quem é esse plenário? Como isso é feito? Quem são essas pessoas? É unilateral? Com todas essas evidências, diante disso tudo, como será a posição da Conitec, se ainda há dúvida da eficácia. De onde saiu o Não, para a não eficácia se a Anvisa aprova a medicação como eficaz e o medicamento continua no protocolo que foi atualizado em maio de 2015?
Ela não respondeu quem escolhe, quem participa e como é feito. Só disse que essa não eficácia vem de estudos que ela mesma admite, serem poucos e incipientes, todos enviasados porque foram feitos por laboratórios concorrentes e não por grupos de pesquisa independentes.
Aí, pra mim, ela disse uma coisa um tanto quanto sem sentido. Segundo ela, o ser humano que tá doente, não é ele que tem que ter esse espírito crítico, ele tem que aderir. Lamento dra. Clarice, mas discordo absolutamente dessa colocação. O ser humano que está doente continua sendo um ser humano, dotado de capacidade de escolher, julgar, se informar e ser crítico em relação ao seu tratamento. Afinal, estamos falando do corpo e da vida de quem?
Foi justamente o fato de sermos críticos e de não aderirmos qualquer coisa como carneirinhos que essa consulta pública teve essa participação toda. É por sermos pacientes ativos e críticos que temos direitos conquistados. E é por isso também que estamos fazendo essa discussão hoje. Foi-se o tempo que o paciente aceitava o diagnóstico, o prognóstico e o tratamento sem questionar nada. Ainda bem!!!
Em resposta ao dep. Eduardo Barbosa, a dra. Clarice disse que não haverá, de forma alguma exclusão total do Avonex do SUS. Segundo a Dra. Clarice, o que será levado ao plenário no dia 08 de outubro é uma exclusão da linha, apenas da linha de tratamento.
A dra. Clarice reforçou o tempo todo que precisamos questionar sempre. E disso eu também não discordo. Mas aí o Dr. André lembrou que é importante também questionarmos esses estudos que eles usaram pra dizer que o remédio é ineficaz. Temos que questionar a todo momento tudo o que fazemos e não nos conformarmos. Como bem disse o dr.: "Não tem problema questionar, mas também não tem problema assumir que a droga é útil e que as evidências científicas e de experiência comprovam".
Nesse ponto ele citou a própria pergunta que a dra. Clarice fez na explanação dela: "Pacientes que tem o diagnóstico de EM vão ter benefício com o uso do avonex, no sentido de que ficarão sem ter um novo surto?" e foi enfático ao responder que SIM. A resposta científica comprovada diz que SIM! Ele cita o estudo CHAMPS que estudou por dois anos pessoas tomando o Avonex e que comprovadamente tiveram menos surtos. E depois ainda citou o estudo CHAMPIONS, extensão do CHAMPS, que mostra que após 10 anos, esses mesmos pacientes continuavam tendo menos surtos. E a vida real comprova isso. Não faz sentido o Avonex sair nem do rol de medicamentos muito menos da primeira linha. Perderemos uma ótima opção de tratamento eficaz, segura e confortável para pessoas que já tem a carga que a doença as impõe. Dar a medicação uma vez por semana é mais confortável, ainda mais considerando que o sujeito vai usar a droga durante 15, 20 anos de sua vida.
A melhor frase do dr. André foi, parafraseando um mestre de sua formação que dizia "Eu não trato de doenças, eu trato de doentes", avaliar o sujeito e não a doença: Eu não trato de doentes, mas de pessoas que querem ter uma vida boa mesmo tendo EM.
Tivemos também uma participação do Deputado Adelmo Carneiro Leão, que contou um pouco de sua própria trajetória com a hepatite crônica, que foi curada com o tratamento ofertado pelo SUS.
A frase que resume o sentimento dele e acho que de todos nós é:
"O que me assusta é correr o risco de sair a medicação por pedido de uma indústria farmacêutica concorrente." Como bem salientou o deputado, as evidências são relevantes e é muito grave ouvir dizer que vão tirar um medicamento que trata 3 mil pacientes, que é eficaz, que as pesquisas comprovam que é eficaz. Quando a CONITEC propõe excluir essa medicação ela não está tirando apenas um remédio, mas a tranquilidade, a segurança de 3 mil pacientes, a esperança e isso é complicado. E o que mais o preocupa e me preocupa também é que essa sugestão de exclusão não surgiu de uma evolução de medicamentos ou mudanças de tecnologias, foi claramente uma sugestão de um concorrente que tem interesse em comer essa fatia do mercado (não se iludam, pra indústria nós somos consumidores). Usando as palavras do deputado, é muito suspeito!
No encerramento das falas, o Dr. André ressaltou que ao discutirmos a exclusão do medicamento não estamos falando de 3 mil usuários de Avonex, mas de 30 mil pessoas que querem ter o direito de escolher seu tratamento com seu médico. O direito que o médico tem de prescrever o melhor remédio para seus pacientes e que cada paciente receba a medicação adequada para ele próprio.
E como nos lembrou Dr. Marco, é aflitivo pensar que algumas doenças tem mais direitos que as outras, porque tem uma representatividade que possibilita essas discussões. Porque a verdade é que, se não fôssemos 5 mil participações na consulta pública, o interesse privado estaria acima do interesse público. Consulta pública, aliás, que é obrigatória por lei e não uma concessão de bondade da Conitec. Se não fôssemos unidos, o Avonex seria excluído do SUS. Como diz uma importante máxima feminista, "o pessoal é político!".A questão nunca é individual, ela envolve a todos. E #JuntosSomosMaisFortes
Resumindo: A eficácia do Avonex já está mais que comprovada, o benefício no dia a dia de quem precisa da medicação também. Além disso, foram apresentados dados muito contundentes para resumir uma coisa pra CONITEC: É ABSURDO TIRAR O AVONEX DO SUS!!!!!
Mais uma vez, obrigada Marco, por nos representar tão bem.

Até mais!
Bjs

Pra quem tá chegando "atrasado" na discussão, sugiro esses posts que fizemos na AME:

http://www.amigosmultiplos.org.br/post/336/consulta-publica-avonex

http://www.amigosmultiplos.org.br/noticia/351/posicionamento-sobre-consulta-publica-n-19-2015-da-conitec-sctie-ms

http://www.amigosmultiplos.org.br/noticia/371/posicionamento-oficial-sobre-consulta-publica-para-exclusao-medicamento-sus


9 comentários:

  1. Pois bem, li a matéria e fico indignada ao saber que posso estar tomando o medicamento da concorrência e que a concorrência vem agindo de forma desleal. Tentei conseguir meu remédio primeiro pelo SUS e esta CONITEC veio dizer que meu remédio apresentava riscos e que eu deveria tentar todas outras medicações disponíveis antes de querer tomar este comprimido. Sempre fui muito aflita com injeções e passei mais do que 2 anos me aplicando injeções, primeiro Avonex, depois Betaferon. Não estava a fim de tomar Rebif e até o mortal Natalizumab só para dizer que estes não funcionavam e depois insistir que queria apenas um comprimido.

    Não acho justo tirarem o Avonex de circulação, sabendo que ele funciona para muitas pessoas. Não é porque ele não funcionou para mim que não serve para ninguém. Eu tinha muitos efeitos colaterais, por isso parei de tomar tanto o Avonex quando o Betaferon. Hoje em dia nem sinto direito que estou doente, pois o comprimido foi melhor para mim. Mas não quer dizer realmente que seja melhor para todos.

    O único porém que não consigo entender é porque meu remédio é de segunda linha, pois todo e qualquer remédio, até uma Aspirina, pode trazer complicações ao fígado e a outras partes do corpo. Acho muito pior tomar Avonex e ter surto e ter que fazer pulsoterapia, pois a pulso lesiona o coração e deixa a pessoa debilitada (com o tempo). Mas, mais uma vez, não acho justo tirar de circulação um remédio que funciona.

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    1. Oi Lorena, tudo bem? Acho que não podemos afirmar que é o laboratório da medicação que tu usas. A dra. Clarice não citou nomes. Só indicou isso.
      Sobre o porque ser de primeira e segunda linha, os vídeos das palestras do Dr. Denis e da Dra. Ana Piccolo no Encontro de Blogueiros de EM explica melhor sobre isso.
      O que nós, da AME defendemos é a livre prescrição médica. Que o médico possa prescrever aquilo que ele achar melhor pro paciente.
      Enquanto não abrirem quem é o laboratório concorrente, não podemos afirmar nada. Mas só podem ser: merck serono, genzyme, bayer ou novartis. Não temos mais opções.

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  2. Olá,
    Era completamente desconhecedor do assunto, mas após acompanhar a audiência do início ao fim, in loco, me interessei pelo assunto e tenho estudado bastante o assunto desde então.
    Fiquei bastante curioso com qual seria o laboratório concorrente que teria demandado a revisão à CONITEC (que se deu por meio da SCTIE/MS, e não nominalmente como pudemos constatar pela fala da Clarice e pelo relatório do CONITEC).
    Não tenho certeza se foi o EMD Serono/Pfizer, produtores do Rebif. No site oficial, consta uma pesquisa EVIDENCE comparativa com o Avonex (realizada por eles obviamente, o que sugere possibilidade de viés). No entanto, o Rebif é βinterferon concorrente do Avonex, mas também é de primeira linha, então não posso garantir nada..
    Daí encontrei uma incoerência: o fingolimode. Existe grande discussão a respeito se o Gilenya (cujo site também apresenta estudo comparativo com o Avonex) é uma medicação de 1ª ou 2ª linha. A agencia reguladora da Europa o considerou 2ª linha. Nos Estados Unidos o F.D.A. o avaliou como 1ª linha. No Brasil existe muita discussão ainda. O Gilenya é da Novartis.

    Enfim, tomei conhecimento da causa e me sensibilizo totalmente com a situação dos esclerosados. Força a todos. Um abraço.

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    1. Ah, apenas uma opinião mais: Entendi que a Sra. Clarice (SCTIE/MS) acabou ficando numa saia-justa durante a audiência. No entanto, acredito que ela tenha sido bastante profissional, transparente (até mais do que deveria) e ética.
      Muito provavelmente ela não poderia sequer ter dito que a demanda veio de outro laboratório, talvez ela tenha deixado escapar quando se viu pressionada pelos questionamentos. Mas ainda assim, recuperou a postura ética (que compete ao cargo público que ocupa) de não revelar quem tenha sido. É bem verdade que o CONITEC (aliás um órgão que se revela bastante transparente, comparada a outros de saúde, como a própria ANVISA) é aberto à demandas externas, mas é crucial a manutenção do sigilo, caso contrario corre-se o risco de emergir situações sensíveis à concorrência. A concorrência existe, é fato. Mas que ela ocorra ENTRE as farmacêuticas e sem comprometer a qualidade dos produtos e serviços oferecidos aos clientes/pacientes. É fato também que a guerra concorrencial ocorre nos meios institucionais e isso é normal.
      Enfim, lendo o que escrevi parece até que to fazendo o advogado do diabo (definitivamente não). Talvez tenha sido só uma análise política, visto que é com isso que trabalho, mas que talvez não seja conveniente aqui. Peço até desculpas.

      Abraços

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    2. Obrigada Ricardo pela tua participação. Eu fiquei na mesma dúvida quanto quem é o laboratório concorrente. Me fiz as mesmas perguntas e também não consegui chegar a uma conclusão exata. Acho que nessa vamos ficar na curiosidade. Quem sabe os laboratórios se pronunciem depois disso também.
      Também acho que ela se saiu bem na saia justa, mas acabou nos deixando sem respostas.
      Agora esperemos o resultado da plenária de hoje para planejar os próximos passos.
      Mais uma vez, obrigada pela participação pertinente e inteligent

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    3. No que diz respeito a como funciona a Conitec, quem o compõe etc., ela até fez questão de explicar. Nesse sentido, a Conitec é um órgão bem transparente. Inclusive os relatórios de análise são bem acessíveis, sem muito jargão médico/farmacêutico etc.

      Ela não disse qual haveria de ser a decisão por aquela questão ética que falei. Ou mais que isso: a Clarisse é da Secretaria Executiva, que não compõe a Plenária. Não é um órgão autocrático, visto que é um Comitê multisetorial, composto por:
      7 representantes do MS
      Conselho Federal de Medicina
      Conselho Nacional de Saúde
      Conselho Nacional das Secretarias Estaduais de Saúde
      Conselho Nacional das Secretarias Municipais de Saúde
      ANS
      ANVISA

      Essa galera que decide o relatório...

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    4. Obrigada por nos esclarecer algo que faltou. Foi questionado quem compoe essa plenária, mas ela não respondeu. Obrigada por nos contar.
      Abs.

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    5. Se bem me lembro, o Dep. Alexandre Serfiotis perguntou e outro deputado disse a ele que ela havia explicado durante a apresentação, no powerpoint, aí ela acabou não precisando responder. Aí o Serfiotis ficou meio sem graça pq não tava olhando a apresentação kkkkk
      :)

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    6. É o Fingolimode que tomo e este é de 2ª linha...

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