segunda-feira, 13 de julho de 2015

Gentileza em 7 atos


Oi gente, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo lindo, apesar da chuva torrencial, raios e trovões. Mas como Bruna? Num dia feio desses vocês achando tudo lindo? Então... vou contar um pouco do nosso dia pra vocês e depois vocês me digam se é ou não é um lindo dia!
Pois bom, hoje acordamos às 6h da noite (sim, porque é noite ainda essa hora), depois de ter conseguido dormir só depois das 3h (porque a chuva, raios e trovões não me deixaram apagar) porque o Jota tinha uma consulta às 8h20min da manhã. Acordamos, liguei prum tele táxi pra marcar um carro para as 7h40min. A gente prefere chegar e ficar esperando do que ter que fazer tudo correndo. Até porque, ninguém corre aqui. Estávamos já no portão do prédio esperando o táxi quando o Tele Táxi (é o Tele Táxi Cidade...pra todo mundo saber) me ligou dizendo que não tinha nenhum carro que carregasse a cadeira de rodas naquele horário. Antes de ficar puta, fiquei preocupada, porque tinha horário... e conseguir táxi num dia de chuva em Porto Alegre é ganhar na Loteria gente!
E aí eu pergunto: de que adiantou eu ligar antes e marcar? Nada! Já ligo antes porque sei que é difícil ter carro que caiba a cadeira. Eles tiveram 1h pra localizar um carro. Absurdo! Mas, segundo nosso último (e querido) taxista do dia, a maioria dos colegas dele quando vê que tem cadeira de rodas nem para. Como ele mesmo disse "não importa profissão, cor, classe social... é gente ruim mesmo". Concordo!
Mas, enfim, nós precisávamos estar lá no horário.
Aí você pode pensar: chuva torrencial, consulta no centro da cidade, hora marcada, sem táxi, vai ser um dia péssimo, certo? Errado! Foi aí que as coisas começaram a dar certo!
O tal aplicativo de celular pra chamar táxi que nunca funciona, funcionou. E não só funcionou como localizou um táxi que estava já na esquina da nossa casa. Taxista super gente boa nos deixou o mais perto que dava da porta (e olha que dirigir no centro é tenso!) (Gentileza - ato 1).
Paramos num ponto de ônibus, e o Jota desceu antes enquanto eu pagava o motorista e minha sogra descia pra pegar a cadeira de rodas. Mal ele desceu, uma moça no ponto perguntou se ele precisava de ajuda pra subir o meio fio (Gentileza - ato 2).
Bom, andar de cadeira de rodas naquelas calçadas portuguesas, num dia de chuva, cheio de poças, é uma aventura e tanto. Do nada, um rapaz que andava ao lado da sua namorada, os dois com guarda-chuvas, pediu que a namorada carregasse o guarda chuva dele pra nos ajudar com a cadeira. Sério gente! No meio do centro da cidade! No meio da chuva! (Gentileza - ato 3).
Chegando no prédio, tinha um degrauzinho baixo e uma rampa bem íngreme pra chegar no elevador. Um senhor que trabalha no prédio se ofereceu pra levar o Jota. E levou até a porta do consultório. Depois da consulta o médico levou o Jota até a sala de espera e quis conversar comigo e com a Lêda, pra dizer algumas coisas pra facilitar a vida do Jota e a nossa também. Sim, ele "perdeu" seu precioso tempo para falar pra gente o que já tinha falado pro Jota. (Gentileza - ato 4).
Na saída, o mesmo senhorzinho que nos ajudou na chegada, nos levou até a esquina, onde ficaria mais fácil pegar um táxi. Ali, o pessoal que trabalha na empresa de ônibus me indicou onde tinha um ponto fácil de pegar táxi e abriram um espaço pro Jota e pra Lêda esperarem sem se molhar enquanto eu ia achar o táxi perto do Mercado Público. (Gentileza - ato 5).
Quando consegui o táxi do Sandro (esse eu peguei até cartão) e perguntei se ele levava cadeira de rodas ele respondeu, meio que espantado: claro moça, como é que vai deixar o cadeirante sem a cadeira? E deu uma risada engraçada. Entrei no táxi e fomos até a outra esquina buscar o Jota e a Lêda. (Gentileza - ato 6). Quando chegamos lá, ele deu um jeitinho de encostar bem pertinho e, uma moça que estava por ali, foi com o guarda chuva aberto levar o Jota até dentro do carro. O taxista até achou que ela estava com a gente. (Gentileza - ato 7). O Sandro desceu pra abrir o porta malas e colocar a cadeira dentro. Se molhou todo, coitado, mas nos ajudou demais.
E aí viemos no táxi, conversando sobre esses atos de gentileza. Sobre como um dia cinza, chuvoso e feio pode se tornar um dia de gratas surpresas. Um dia que dá esperança no ser humano.
Aquela coisa de dar bom dia quando chega num lugar. Essa simpatia pelo outro.
E também aquela coisa de parar um segundo e olhar pro lado, pra ver se quem tá por perto precisa de você. Essa empatia com o outro.
É verdade que tem dias que a gente tá meio triste, ou mais irritado, ou mais a fim de ficar só. Mas um bom dia nunca fez mal a ninguém. Já diria o poeta que Gentileza gera gentileza. E eu completaria que animosidade, gera grosseria, tristezas e gente ranzinza.
Não é o lugar onde estamos, nem o trabalho que temos, nem o quanto de dinheiro que temos no bolso que faz diferença pro outro que está do nosso lado. É a nossa presença. É a forma como estamos presente na vida dos outros que faz diferença.
Essas pessoas fizeram uma diferença enorme no nosso dia. Esses 7 atos de gentileza mostram que podemos sim ser gentis sempre. Mesmo quando a gente tá com vontade de mandar a p....q....p..... Porque chateações todo mundo tem, e elas passam. E o que fica é a forma como você age e reage no dia a dia.
Talvez essa história de hoje não tenha nada a ver com EM. Ou tenha, afinal, um mundo mais gentil é um mundo mais alegre, menos estressado, menos rancoroso, mais suave... tudo o que precisamos pra não piorar, não é?
Um mundo mais gentil é também um mundo mais acessível. Porque, apesar do centro da cidade não ser nada convidativo a quem usa uma cadeira de rodas, as pessoas que estavam ali, na manhã de hoje, fizeram com que a nossa experiência fosse boa. As pessoas criaram acessibilidade, não os prédios.
Há alguns dias eu vi no face esse meme:

E acho que é isso que a gente tem que fazer. Começar pela gente. E é por isso que, mesmo que a minha vizinha de porta só abra a boca pra xingar todo mundo do prédio, eu continuo dando bom dia. Porque a dona Sônia me ensinou que, não é porque o outro é mal educado que você também vai ser. E assim eu sigo, dando bom dia. Vai que um dia ela resolva quebrar a carranca.
Eu não sei se é utopia, mas eu acho que todo mundo tem esse espírito de gentileza dentro de si. O que acontece é que, às vezes, elas esquecem ele no bolso ou, de tanto rancor guardado, sufocam as gentilezas de dentro de si. Mas o potencial está ali, pronto pra ser "usado". É só falta de prática...
Tem gente que diz "eu sou legal com quem é legal comigo" ou "o meu comportamento depende do teu"... eu acho que isso nos leva prum buraco fundo, difícil de sair. O meu comportamento depende de mim. E se cada um tomar pra si a responsabilidade de ser um pouquinho mais gentil, quem sabe a gente descobre que é mais fácil viver olhando para o outro enquanto ele também olha pra gente.
A gentileza é uma das maiores forças que a gente pode ter. Ela muda o nosso dia, o dos outros, o ambiente que a gente vive (e, infelizmente, a falta dela também).
Que os nossos dias tenham mais atos de gentileza!

Até mais!
Bjs

4 comentários:

  1. Bruna, impressiona-me a capacidade que vc tem de transformar fatos desagradáveis em situações gratificantes. Extrair de td, algo bom. Isso é muito bacana e, sinceramente, acho uma qualidade rara. Vc têm nos ensinando tanto... Parabéns à sua Mãe que, além de ser uma super parceira de vcs, ainda conseguiu lhes passar valores incríveis, mesmo diante das adversidades. Exemplo! Emociona a gente essa Super-mãe com super-filhas. Parabéns por td que vc tem feito por tds nós, pacientes da EM. Que Deus a abençoe sempre. Que vc encontre, sempre, pessoas tão gentis, como vc tem sido conosco. Beijaço, Roseli

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    1. Obrigada Roseli! Me emocionei com as tuas palavras!!!!
      Sabe, li esse teu comentário há alguns dias, num dia que eu estava meio brocochô... e elas me animaram muito! Obrigada!!!
      Bjaum

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  2. Bruna,

    Fiquei emocionada com o teu relato, ainda existe gentileza neste mundo. E realmente pequenos gestos, como um dia, podem modificar o dia de uma pessoa. Acredito também que vocês estão colhem as gentilezas que fazem ajudando todas as pessoas com os seus relatos. São as flores que vocês estão colhendo pelas sementes que semearam. Acredito também que os anjinhos de vocês estavam guiando vocês nestes momentos. Fiquei com o coração mais leve de ler este post.

    Beijos,
    Aline

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    1. Obrigada Aline! Também acho que quando a gente planta gentileza, deve colher ela também. Mas, nem sempre é assim no dia a dia. Gratificante saber que esse post aliviou teu coração!
      Bjs

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