terça-feira, 8 de dezembro de 2015
Fazendo as pazes com o espelho
Oi seus lindos e lindas, tudo bem com vocês?
Por aqui tudo ótimo!
Então, hoje quero contar um pouco sobre o Workshop Beleza e Deficiência, que participei semana passada.
Primeiro, quero dizer que foi uma honra mediar uma conversa tão gostosa de um tema tão importante!
Fomos pra Santa Cruz com a Fran, que trabalha na Mercur e é uma queridona. Falamos tanto que até nos perdemos no caminho né Fran? hehehehe... Bom, mas chegamos lá já com a sala do Lab cheia, equipe de tv entrevistando a Carlena, pessoal se organizando e o povo chegando.
Comecei me apresentando, mas estava mesmo era doida pra ouvir a Carlena, ver ela se maquiando e ver aquele monte de meninas serem maquiadas pelos profissionais que foram participar também (vejam tudo aqui nesse álbum do evento).
Foi muito bacana ver que ali estavam representantes de associações de pessoas com deficiência, alunas da APAE de Santa Cruz, funcionários da fábrica da Mercur e profissionais da área de estética que foram ali para aprender um pouco mais sobre quem são essas/esses clientes deles.
Uma coisa que eu ressaltei e a Carlena também reforçou é que beleza não é sinônimo de maquiagem, jóias, peruices e afins. Fomos lá pra falar sobre auto estima, sobre o quanto é difícil se olhar no espelho e ver que aquele corpo com deficiência, diferente, é o nosso mesmo.
Aí você, leitora e leitor com EM pode dizer: mas meu corpo não tá diferente visualmente... aham... atire o primeiro blush a pessoa que não se odiou ao se olhar no espelho toda inchada da pulsoterapia.
A verdade é que a gente precisa se sentir bem consigo mesmo. E isso inclui gostar do que olhamos no espelho. E pra gostar do que vemos no espelho é preciso muito mais (ou seria menos?) que dietas, maquiagens, roupas bonitas, penteados etc. É preciso começar a gostar do corpo que se tem, seja ele alto ou baixo, gordo ou magro, liso ou crespo... enfim, vocês entenderam, não é?
Eu confesso que, mesmo não sendo o padrão de beleza esperado pelo mundo, sempre me achei muito bonita. Me achava gordinha na infância, mas hoje vejo que era implicância minha. Quando tive o diagnóstico algumas coisas mudaram, e no ano que eu precisei de muitas pulsoterapias, acabei não só inchando com o corticoide, mas engordando muito. Eu pensava: não vou mais servir pra nada mesmo, então eu vou é comer. E comia tuuuudo que via pela frente. Além de engordar bastante, meu corpo ficou cheio de espinhas, principalmente nas costas e começaram a aparecer alguns pêlos no meu rosto. Fora esses efeitos do corticoide, eu me larguei. Não importava a roupa que eu vestia, se o cabelo tava penteado ou não... nada. Eu não me olhava no espelho nunca. Nem pra escovar os dentes.
Uma coisa que me ajudou foi uma amiga, a Raquel... nem sei se ela lembra disso, mas ela ia lá na minha casa ou no hospital e fazia minhas unhas. Era algo muito simples, mas que fez uma diferença imensa. Estar com as unhas arrumadas e bem pintadas de vermelho. Parece que aquilo que munia de super poderes. E assim eu fui me redescobrindo, me cuidando novamente. Ou, depois de me dar banho, minha mãe passava creme no meu corpo. Eu achava desnecessário. Mesmo assim ela fazia. Deve ser por isso que, até hoje, se eu estou com as unhas mal feitas ou quando eu esqueço de passar creme no corpo eu me sinto desleixada...ehehhehe.
E foi sobre essas pequenas coisas do dia a dia, que fazem com que a gente se valorize, que falamos naquela tarde. Para algumas mulheres a maquiagem é poderosíssima pra fazer se sentir melhor. Pra outras maquiagem é um tormento. Cada um tem seus segredos para melhorar a auto estima. E é isso que é importante.
Há alguns dias eu recebi um pedido de uma leitora do blog, pedindo que, seu eu não achasse muito fútil, falasse sobre esse tema. Nada que nos faz bem é fútil!
Acho muito engraçado que as pessoas acham que, depois de ter um diagnóstico ou uma deficiência, você só precisa se preocupar com ela, viver pra ela. Sair de casa só se for pra ir no médico ou reabilitação, nunca pra tomar um chopp gelado na esquina. Gastar dinheiro com cabeleireiro? Não pode, só com remédio. E por aí vai... Quando não nos tornamos escravos da vaidade, ela é importante sim! Quem me conhece sabe que eu passo o dia com meus vestidinhos velhos, larguinhos e fresquinhos, sem nada de maquiagem e com os cabelos do jeito que estiverem. Porque eu gosto de andar arrumadinha, mas gosto também de poder ficar do jeito que eu quiser.
Ainda sobre a nossa conversa, achei bem interessante termos profissionais da estética presentes. O querido do Julio, que maquiou a Carlena no evento (muito diva o Julio gente!), por exemplo, percebeu naquela conversa que o salão dele não está preparado pra receber pessoas cadeirantes. E isso foi legal. Somos um público consumidor que é esquecido. Isso ficou muito claro quando a Carlena disse: me pediram pra falar sobre o mercado da beleza pra pessoas com deficiências, mas, desculpa gente, ele não existe.
E é verdade. Ele não existe mesmo. Empresas de beleza e designers de embalagens, se liguem!!!
Bom, depois de muita conversa, foi a hora de ver como a Carlena se maquia. E essa hora foi muito legal, porque vendo os dispositivos que foram feitos pra ela, pudemos também testar os que a Mercur está desenvolvendo e que logo logo estará à venda. Foi muito bacana ver que um adaptador mais "universal" e, portanto, mais barato (os feitos sob medida acabam sendo inacessíveis pra muitas pessoas) funciona muito bem. Foi lindo ver a Ângela, que eu tinha conhecido naquela tarde, segurando sozinha a escova de dentes e passando um batom. Quem nunca perdeu o movimento de mão não sabe o quanto é importante conseguir comer sozinha e escovar os dentes com autonomia.
Bom, e quando as maquiadoras entraram em ação, aí não tinha mais como controlar a mulherada...hehehehe. Todas saímos lindas de lá... não pelo batom, rímel e blush, mas porque o sorriso estampado no rosto continua sendo a coisa mais linda que há.
Obrigada a todos que estiverem presente, fazendo desse um dia inesquecível!
E você? O que te faz sentir-se de bem com seu corpo?
Eu aprendi algumas coisas que vou testar aqui em casa e mostro num vídeo pra vocês, se eu tiver coragem...hehehehehe.
Até mais!
Bjs
Marcadores:
Beleza,
Deficiência,
Diversidade na Rua,
EM&Eu,
EMeEu,
Esclerose Múltipla,
esclerosemultipla,
Laboratório de Inovação Social,
Mercur,
multiple sclerosis,
vaidade
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Bruna, que evento maravilhoso! Queria muito ter participado. Também não sou daquelas que já acorda de lápis (ao menos que tenha esquecido de tirar a maquiagem - kkk). Gosto de me sentir bem! Tem dia que quero ficar largada, passar o dia todo de cabelo amarrado e de pijama, outros já quero um dia de spa(kkk). Mas essa relação com o corpo, com os inchaços, com a alimentação e com as limitações da coordenação motora e fadiga já renderam muitas sessões na terapia. Esse incomodo vai e vem, especialmente por conta da fadiga, que me priva de usar um salto ou de me delongar quando vou me arrumar. Até mesmo porque tenho que arrumar minhas duas filhas (4 e 1 ano) antes e as bolsas delas... quando chega minha vez já cansei (kkk).
ResponderExcluir