Oi gentes, blz?
Vocês sabem o quanto os tratamentos de EM podem ser dolorosos, penosos, custosos, etc. E essa coisa de ficar se aplicando injeção todos os dias, três vezes ou uma vez por semana é complicado. Ir uma vez por mês no hospital tomar a infusão também. Durante muito tempo o que todo portador de EM queria? Uma medicação simples, via oral, que pode-se tomar em casa.
Pois bem, agora nós já temos no mercado uma medicação via oral e logo logo entrará pelo menos mais um remédio via oral, segundo apontam as pesquisas. Por enquanto, o que temos é o Gilenya (fingolimod), que apesar de ter esse nome de pomada ginecológica, é um remédio desenvolvido para Esclerose Múltipla e que já foi aprovado pela Anvisa.
Conheço algumas pessoas que já migraram para essa terapia e outras que vão começar com esse remédio como primeira opção de tratamento. E aí você pode se perguntar: mas Bruna, porque você não toma também? Porque não trocam a medicação de todos os pacientes de EM pra esse comprimidinho?
Porque as coisas não são tão simples assim.
Primeiro porque o que funciona pra uma pessoa pode não funcionar pra outra. Segundo, porque o meu interferon está fazendo efeito e é uma medicação um pouco mais "fraca" que o Gilenya. Tenho medo de ir pra uma terapia mais forte, não dar certo e aí não ter mais o que tomar sabe?
É como quando eu tenho uma febre...não tomo de cara uma dipirona em alta dose, começo com um paracetamolzinho de leve. Posso estar errada pensando assim, mas eu não quero gastar bala de canhão pra matar barata. Ainda mais agora que o Avonex tá mostrando eficácia e não tem mais tantos efeitos colaterais.
Bom, mas pensando nas minhas dúvidas e nas dúvidas de quem tá pensando em tomar o Gilenya, enviei algumas perguntas pra Novartis, que foram gentilmente respondidas pelo Dr. Otávio Soares, Gerente Médico de Neurociências - Divisão Farmacêutica da Novartis Brasil. E agora eu coloco aqui pra vocês. Espero que ajude na escolha de tratamento:
EMeEU: O que faz um
remédio ser considerado de primeira ou segunda linha para Esclerose Múltipla?
Dr. Soares: Na Esclerose
Múltipla (EM), como em outras áreas da medicina, o medicamento de primeira linha é
aquele aprovado e indicado para ser utilizado como a primeira opção de
tratamento para a doença, em pacientes que nunca receberam nenhum tipo de
tratamento, e também naqueles que já tentaram outro(s) tratamento(s). Já os
medicamentos de segunda linha, são aqueles indicados para utilização
exclusivamente em pacientes já tratados com uma ou mais terapias de primeira
linha para a EM, mas que tiveram falha terapêutica e que precisam migrar para
uma opção de segunda linha.
Gilenya™
(fingolimode), primeira terapia oral para o tratamento da esclerose múltipla,
foi aprovado e é indicado pela Anvisa como tratamento de primeira linha para a
esclerose múltipla no Brasil. Apesar desta indicação, a Comissão Nacional de
Incorporação de Tecnologias (Conitec) – órgão que assessora o Ministério da
Saúde quanto à distribuição de novos medicamentos no Sistema Único de Saúde
(SUS) – manifestou-se contrariamente à disponibilização gratuita de GilenyaTM
como primeira opção de tratamento, sob a solicitação de dados adicionais de
segurança.
Por essa
razão, e atendendo a solicitações de sociedades médicas, associações de
pacientes, e cidadãos que se manifestaram favoravelmente à distribuição de
Gilenya™ no SUS, durante a Consulta
Pública realizada pela a Conitec, a Novartis submeteu um novo
pedido para a inclusão de Gilenya™ na lista do SUS, desta vez, como opção de
segunda linha.
Vale ressaltar
que o Comitê Brasileiro de Tratamento e Pesquisa em Esclerose Múltipla e
Doenças Neuroimunológicas (BCTRIMS), associação civil que reúne os principais
especialistas em EM do país, também submeteu formalmente seu pedido pela
incorporação de fingolimode no SUS.
GilenyaTM
já está aprovado em mais de 70 países e disponível de forma gratuita através
dos sistemas de saúde em 35 deles. Entre os 12 países que já reembolsam GilenyaTM
em primeira linha estão Estados Unidos, Japão e Austrália. Já em segunda linha,
são 24 países, como Alemanha, Canadá, Espanha, França, Portugal e Itália, além
de países da América Latina como México, Argentina, Chile e Colômbia.
Desde seu
lançamento, mais de 63 mil pacientes7 já foram tratados com GilenyaTM
no mundo. No Brasil, são mais de 500 pacientes.
EMeEU:Os outros
neurologistas com quem conversei estão usando o Gilenya como segunda opção, depois do interferon
apresentar falha terapêutica. A justificativa é porque ele é "mais
forte" e não teria sentido começar pelo mais forte porque depois dele, não
haveria nenhuma opção no caso de falha terapêutica do próprio Gilenya. Isso
procede?
Dr. Soares: Por ser uma
doença crônica, a abordagem mais recomendada para o tratamento da EM é
iniciá-lo com uma terapia mais eficaz, a fim
de melhorar as perspectivas da saúde do paciente em longo prazo. Clinicamente,
não faz sentido iniciar o tratamento com uma terapia menos eficaz, e aguardar a
piora do paciente para apenas então transferi-lo para um tratamento mais
eficaz. Especialmente no caso da EM, esse período poderia significar a
ocorrência de novos surtos, comprometendo não apenas o quadro dos pacientes no
curto prazo, mas podendo resultar em consequências definitivas, já que cada
surto traz um risco real de progressão da incapacidade6.
Inúmeros
estudos com fingolimode comprovam que o tratamento efetivo precoce pode
melhorar o prognóstico do paciente e, consequentemente, os desfechos em longo
prazo. Por isso, além dos dados de eficácia, adesão e segurança de Gilenya™ já
enviados pela equipe de Comunicação Externa da Novartis no dia 3 de abril, eu
gostaria de apresentar uma análise adicional do estudo TRANSFORMS, específica
sobre a questão do início do tratamento.
Neste estudo,
a eficácia de Gilenya™ e do interferon B-1a intramuscular foram comparadas ao
longo de um ano de tratamento, a partir da observação de dois grupos de
pacientes: um que já vinha sendo tratado com interferon e outro “virgem” de
tratamento.
·
Entre o grupo de pacientes que já estava em tratamento com interferon, a taxa anual de
surtos (ARR) daqueles que migraram para fingolimode foi 50% menor do que nos
pacientes que continuaram o tratamento com interferon (AAR de 0,52 nos
pacientes com interferon versus 0,26 pacientes migrados para fingolimode).
·
Já entre o grupo de pacientes que nunca havia sido
tratado, a taxa anual de surtos daqueles que iniciaram o tratamento com
fingolimode foi 55% menor do que naqueles que iniciaram o tratamento com
interferon (AAR de 0,31 nos pacientes com interferon versus 0,14 pacientes
migrados para fingolimode).
·
Dessa forma, o estudo concluiu que tanto pacientes que
migram do tratamento com interferon para fingolimode, quanto aqueles que
iniciaram o tratamento com fingolimode tiveram redução significativa de surtos
e melhoria no prognóstico, em comparação aos pacientes que permaneceram ou
iniciaram o tratamento com interferon.
·
Além disso, foi possível concluir que a taxa anual de
surtos de quem começou o tratamento com Gilenya™ é quase a metade do que a taxa
de quem migrou para Gilenya™ (0,14 vs. 0,26) – ainda que esta tenha caído 50%
após a migração, o que indica reais benefícios ao
iniciar o tratamento com o Gilenya™.
Vale
ressaltar que, com base nesse estudo e em outras subanálises, é possível afirmar que a essa diferença
nos desfechos manifestados em pacientes que migraram para finglimode e
naqueles que iniciaram o tratamento com fingolimode nunca será recuperada, ou
seja, o prognóstico da doença jamais será igual para esses dois grupos.
EMeEU: Qual a
diferença de mecanismo de ação do Gilenya™ para os interferons?
Dr. Soares: O mecanismo de
ação de Gilenya™ é completamente diferente dos
medicamentos injetáveis disponíveis hoje. De uma forma simples, Gilenya™ não
age apenas nas inflamações – como os tratamentos injetáveis. Gilenya™ é o primeiro de uma nova classe de
medicamentos na qual os linfócitos afetados pela EM são seletivamente
aprisionados nos gânglios linfáticos, evitando que entrem no sistema nervoso
central e causem a destruição de células responsáveis pela transmissão dos
impulsos para todo o corpo, a chamada desmielinização. Além disso, fingolimode
atua neurologicamente, já que tem capacidade de literalmente penetrar no
sistema nervoso e barrar a degeneração acelerada do cérebro.
Por conta
deste mecanismo de ação inovador, GilenyaTM
resulta na preservação da região dos neurônios conhecida como bainha de mielina
e, com isso, demonstrou de forma inédita a diminuição consistente da perda de
volume cerebral4,5 (atrofia cerebral), que foi 35% inferior nos pacientes em tratamento com GilenyaTM
ao longo de dois anos, em comparação ao placebo2.
EMeEU: Quais os
efeitos colaterais mais relatados pelos pacientes que tomam Gilenya e que
cuidados especiais (exames, dietas, etc.) são necessários para quem toma essa
medicação?
Dr. Soares: O efeito
colateral mais comentado de Gilenya™, que
atinge apenas 0,5% dos pacientes, é a diminuição dos batimentos cardíacos no
momento da primeira dose1, que, por
essa razão, ocorre de forma monitorada em uma
clínica. O monitoramento é iniciado com a realização de um eletrocardiograma,
cuja finalidade é avaliar a existência de uma doença cardíaca prévia. Na
clínica, o paciente é observado de hora em hora por um período de 6 horas, para
que a frequência cardíaca e a pressão arterial possam ser verificadas. É
importante reforçar, no entanto, que a área cardíaca apenas é sensível à ação
de fingolimode no primeiro contato, ou seja, após a primeira dose do
medicamento sua ação fica neutralizada no coração – ao contrário do que ocorre
na área imunológica, que continua respondendo positivamente ao tratamento com
fingolimode. Por isso, a necessidade de
acompanhamento é indicada pelas autoridades reguladoras, como FDA, EMA e
Anvisa, apenas na primeira tomada.
Além disso,
como eu expliquei acima, o mecanismo de ação do fingolimode consiste no
aprisionamento seletivo dos linfócitos afetados pela EM. Com esse
aprisionamento dos linfócitos “doentes”, a quantidade geral deles circulando na
corrente sanguínea cai, o que pode deixar o corpo mais susceptível a infecções.
Até hoje, não há relatos de casos graves, entretanto, a recomendação da
Novartis é que os médicos e seus pacientes fiquem atentos ao surgimento ou ao
agravamento de infecções já existentes durante o tratamento com fingolimode.
Os exames e
cuidados médicos necessários antes do início de tratamento com Gilenya™ são:
·
Eletrocardiograma (ECG): para verificar a saúde do
coração do paciente e detectar uma doença
cardíaca pré-existente,
às vezes desconhecida.
·
Caso o paciente não tenha histórico, anticorpos ou não tenha sido vacinado contra catapora, o médico deverá vacinar o paciente.
·
Assim como ocorre com os
intérferons:
o Deve-se
observar problemas prévios no fígado e realizar um hemograma nos pacientes
antes de iniciar o tratamento com Gilenya™.
o Gilenya™
também não é indicado para pacientes que planejam engravidar.
o O
acompanhamento dos pacientes em tratamento com as diferentes medicações é o
mesmo: realização de exames de sangue e ressonância magnética, de acordo com a
rotina e periodicidade estipulada por cada centro de referência.
·
Durante e até dois meses após o tratamento com
Gilenya™ os pacientes não devem tomar certos tipos de vacina (vivas atenuadas).
·
Pacientes com distúrbios visuais, inchaço na área da
visão central, inflamação ou infecção do olho e diabetes devem ser submetidos a
um exame óptico antes de iniciar o tratamento com Gilenya™, e repeti-lo em
intervalos regulares após o início do tratamento.
·
Ao contrário do que ocorre com os
intérferons:
o
Gilenya™ não é contraindicado para pacientes com
depressão.
o Por ser oral,
Gilenya™ não apresenta efeitos colaterais comuns às terapias injetáveis, como
lipodistrofia, dor e endurecimento no local da aplicação.
o Gilenya™ não
causa febres e nenhum sintoma gripal.
Muito obrigada Dr. Otávio Soares por responder minhas dúvidas e ao pessoal da área de comunicação da Novartis, sempre super queridos aqui com a gente!
Pra quem gosta de ler sobre tratamentos, achei duas publicações esclarecedoras:
1. http://neurologiahu.ufsc.br/files/2012/08/Manual-de-recomenda%C3%A7%C3%B5es-da-ABN-em-Esclerose-M%C3%BAltipla-2012.pdf
2. http://portal.saude.gov.br/portal/arquivos/pdf/pcdt_esclerose_multipla_livro_2010.pdf
Espero que todos esses tratamentos funcionem!
Ah, e se você está tomando Gilenya, por favor, compartilhe aí nos comentários como está sendo o tratamento.
Até mais!
Bjs
Referências
1.
Cohen et al. Oral Fingolimod vs. Intramuscular Interferon in
Relapsing Multiple Sclerosis. N Engl J Med. Vol.362 No.5, Feb 4, 2010 (printed
version).
2.
Kappos L. et al; for FREEDOMS Study Group. A
placebo‐controlled trial of oral fingolimod in relapsing multiple sclerosis. N
Engl J Med. 2010;362(5):387‐401.
3.
Cohen JA, Barkhof F, Comi G, et al; for TRANSFORMS
Study Group. Oral fingolimod or intramuscular interferon for relapsing multiple
sclerosis. N Engl J Med. 2010;362(5):402‐415
4.
Neetu Agashivala, MS1; Karina Raimundo, MS1; Edward
Kim, MD1; David W. Brandes, MS, MD2 - Health Economics & Outcomes Research,
Novartis Pharmaceuticals Corporation, East Hanover, NJ, USA; 2Hope MS Center,
Knoxville, TN, USA
5.
Khatri B et al. Oral presented at ENS 2012.
6.
7. Lublin FD, Baier M, Cutter G. Effect of relapses on
development of residual deficit in multiple sclerosis. Neurology.2003;61(11):1528‐1532.