São tantos textos dentro de mim, que mal sei por onde
começar.
A verdade é que tenho feito muitas coisas daquela lista “que
precisam ser feitas” e não tanto aquelas que eu quero/gosto de fazer. Isso tem
me deixado cansada. Extremamente cansada. Uma delas é escrever.
Eu já disse zilhões de vezes isso, e até escrevi uma tese
sobre isso, sobre o quanto escrever é terapêutico. É na escrita que eu organizo
meus pensamentos e sentimentos. É na escrita que eu me analiso, me julgo e me
perdoo. É a escrita que me liberta.
Mas o tempo livre tem sido escasso. Quer dizer, tempo é
questão de preferência, sim... mas eu tenho tido que dar preferência às
urgências. E, tudo bem, porque alguém precisa fazê-las. Mas, nesse processo,
tenho me afogado em ideias, anseios e palavras.
Então resolvi tentar voltar a escrever. Em que hora? Bem, vocês
nunca ouviram aquela pergunta: mas o que você faz entre a meia noite e as 5 da
manhã? Quase isso. Vou tentar reservar esse tempo depois que eu coloco o Chico
dormir, tomo meu banho e como alguma coisa para escrever.
Já consegui, com muito custo, voltar a ter meu tempo de
leitura. É raro e curto, mas já consegui ler alguns livros nos últimos dias.
Eu tenho uma pouco a impressão que, depois de me tornar mãe,
além de uma grande gestora da casa, me tornei uma melhor gestora do tempo.
Quando eu paro e penso na minha vida pré-maternidade, fico
tentando lembrar o que eu fazia nesse tempo que hoje eu uso, diariamente, para
cuidar do Chico, cozinhar, lavar fralda, trocar fralda, brincar, passear na
pracinha, fazer mamadeira, contar historinha, colocar pra dormir. É muito tempo
diário. Então, ou eu não fazia nada ou eu não sabia gerenciar meu tempo. Porque
hoje eu faço tudo isso e ainda o que eu fazia antes: trabalhar, ler... menos
escrever, que está mais complicado, por enquanto.
Cheguei a conclusão que eu devia ser péssima nesse negócio
de gerenciar o tempo. Não é possível! Eu tinha, ao que tudo indica hoje, muito,
muito tempo livre. E não me parece que eu era mais dedicada no trabalho ou
coisas do gênero. Sei lá... acho que via filmes demais, talvez.
Fato é que a maternidade traz mais responsabilidades, mais
tarefas, mais cabelos brancos, mais sorrisos diários, mais alegria pros meus
dias e mais dúvidas sobre o que fazer da vida, agora que uma vida inteirinha
depende de mim.
Agora, falando sério, se você quiser contratar alguém
responsável e que sabe gerenciar tempo para a sua empresa, contrate uma mãe.
Porque mães dão um jeito, quase mágico, de deixar tudo pronto no tempo certo.
Eu acho mágico, porque não acho que eu tinha essa capacidade antes da maternidade.
É verdade que tem dias que é desesperador. Que tem dias que
a gente mal come, mal dorme, mal se olha no espelho. Que tem dias que a gente
pede colo pra mãe e pergunta: será que vai dar? Será que eu consigo? Como tu
conseguiu fazer tudo mãe? E a gente chora junto e segue em frente. E tem dias
que a gente olha pro marido e sente um tipo de inveja, na falta de nome melhor,
do privilégio dele não ter essa responsabilidade toda. E chora por se sentir
culpada por sentir isso, principalmente porque no meu caso não é uma escolha
dele.
Sim, tem dias que eu fico tão exausta que eu nem sei direito
se eu choro ou brigo com alguém. Normalmente quem me ouve nesses dias são minha
mãe, o Jota, ou o bichinho de pelúcia do quarto do Francisco.
Dia desses eu me senti sozinha numa conversa dessas com o
Jota. Porque ao falar que eu me sentia sozinha nesse processo ele disse que eu
estava sendo ingrata. Mas, sabe, se sentir cansada e sozinha não é exatamente
não reconhecer que outras pessoas estão se esforçando pra me ajudar. É
simplesmente se sentir assim. E ponto final. Sem julgamentos sobre o que os
outros poderiam fazer. Sem achar que o mundo é injusto. Sem pensar que a
maternidade é um fardo.
Tudo bem, no final ele entendeu meu ponto de vista. Mas pra
mim, que já estava exausta, ter que justificar meus sentimentos foi um processo
doloroso.
E aí, vem mais um clichê da maternidade: talvez, só outra
mãe consiga entender verdadeiramente isso que eu sinto as vezes. Isso não é
desmerecer quem não é, seja porque não quer, seja porque ainda não teve filhos.
É simplesmente porque é diferente. Como ter esclerose múltipla. Mesmo sabendo
que as pessoas se esforçam pra entender o que é ter essa doença, eu jamais
espero que, alguém que não tenha, entenda o que eu passo.
Espero poder, dessa vez, manter essa promessa que estou
fazendo pra mim mesma, de colocar pra fora, em textos, o que está transbordando
em mim. Espero ter vocês como companhia.
Até mais
Bjs