sexta-feira, 8 de julho de 2011

O que aprendi com a esclerose

Oi queridos, tudo bem?
Amanhã vai ter encontro da Agapem (Av. Independência, 359, Salão de Festas - 15h30min). Infelizmente não vou poder ir. Mesmo assim, essa reunião (que nem aconteceu e que eu não vou), me ajudou a pensar sobre o tema proposto para discussão: O que aprendi com minha Esclerose?
Pensei, pensei...e pensei mais um pouco. Porque assim, há quem pense que, só porque uma situação/experiência te trouxe um aprendizado, ela é uma coisa boa. Eu penso que não.
Me explico:
Acredito que aprendi muita coisa com minha Esclerose. Mas muita coisa mesmo. Coisas que fazem de mim a pessoa que sou hoje. Mas, só porque aprendi com ela, não acho que seja bom ter EM. 
Queimar a mão no fogo não e bom, mas às vezes é necessário para aprendermos que o fogo queima. Cair de bicicleta não é bom, mas é necessário pra gente aprender a pedalar. 
Também acredito que toda experiência tem um porque na nossa vida. Se a gente não descobre na hora, vai descobrir mais adiante a razão das coisas. E sim, acredito que tudo, mas tudo mesmo, pode virar um aprendizado. Isso vai depender do ponto de vista de cada um. 
Se, quando eu tive aquele surto desgraçado que me deixou muito dependente, eu tivesse ficado reclamando, é possível que não tivesse descoberto o quão importante é ter força de vontade. Nem teria aprendido meus limites. 
Há tanta coisa que esses anos de EM me ensinaram. Pode ser que eu tivesse aprendido tudo isso, sem a EM também. Mas tem alguns aprendizados que eu acho que a EM acelerou. Quero dizer... existem algumas coisas que é provável que com o tempo eu aprendesse, mas tive que aprender muito rápido duma vez só.
Exemplos?
Aprendi que a dor pode enlouquecer uma pessoa. Pode até tirar a vontade de viver. Mas também aprendi que ter pessoas que te amam em volta, faz qualquer dor ser menor do que a vontade de ser feliz com essas pessoas. 
Aprendi que querer nem sempre é poder. Mas que, quando a gente quer muito uma coisa, e essa coisa vai ser boa pra nós, e nos esforçarmos muito pra fazer isso virar realidade, pode acontecer (quase letra de Lua de Cristal...hehehe). Da mesma forma, aprendi que nada acontece se a gente não tirar a bunda do sofá e fizer acontecer. E ainda, nesse sentido, aprendi que quando aquilo que queremos não se realiza, pode não ser por incompetência minha, mas porque não é pra acontecer mesmo. Nem sempre o que a gente quer, é o que é melhor. Desculpa psicológica pra incompetência? Talvez...mas eu tenho um sorriso no rosto.
Com isso, também aprendi que não podemos colocar todas nossas expectativas numa coisa só. Porque se você tem vários sonhos e apenas um deles não se realiza... bueno, paciência né! É melhor não colocar todos os ovos numa cesta só...
E, como nem tudo que a gente quer, a gente consegue, aprendi a ter resiliência, aquela "capacidade  de enfrentar, vencer e ser fortalecido ou transformado por experiências de adversidade" (mais sobre: http://esclerosemultiplaeeu.blogspot.com/2010/12/resiliencia-amigosresiliencia.html).
Mas será que isso eu aprendi por conta da EM ou por conta da vida mesmo? Não sei... é provável que nunca saiba. O importante é que aprendi.
Outra coisa importante que aprendi, é que toda tristeza pode se transformar em aprendizado. Mais uma vez, não estou dizendo que a tristeza se torna felicidade, nem que uma doença ruim passa a ser boa. Apenas que, se mudarmos o ponto de vista, as coisas ficam diferentes. 
Talvez a EM tenha me "ensinado" a ser menos intolerante e ter mais paciência. Mas nem tanto... acho que ainda falta.
Mas uma coisa, que acho que a EM me ensinou é que eu não posso perder tempo. Explico: a maioria das pessoas se programa para fazer as coisas amanhã, mais tarde, etc... Eu me programo sempre adiantando algumas atividades. Porque? Porque eu sei que posso acordar amanhã em surto de EM. E aí, sei que vou precisar parar com tudo por uns dias. Como sou perfeccionista, exigente e pontual, prefiro estar sempre adiantada.
E por mais que pareça que isso deixa a pessoa ansiosa, isso na verdade faz de mim uma pessoa mais relax. Simplesmente porque acho que além das obrigações do cotidiano, tenho obrigações com "meu espírito". Não deixo de me divertir, caminhar sem rumo, tomar sorvete no meio da tarde, etc... Aprendi a me importar menos com o que os outros vão dizer, com as convenções tradicionais. Porque o que me importa é deitar a cabeça no travesseiro e saber que eu fiz o que devia e o que queria. O que me importa é me sentir feliz. 
Se isso aprendi por conta da EM? Não sei... só sei que facilita a minha vida. E acho que facilitaria a de todo mundo. (Que fique claro, isso não quer dizer porraloquice...é equilíbrio mesmo).
Ah, mas uma coisa que eu tenho certeza que aprendi com a EM é que a gente nunca sabe de tudo que é capaz, até que a vida nos cobra. E aprendi que somos capazes de superar tudo. O ser humano definitivamente não tem limites. Nosso corpo frágil pode ter, mas nossa mente não. 
Ter amigos, família e muito amor é fundamental. Porque é isso que faz com que acreditemos em nós mesmos. Tento valorizar o que tenho enquanto eu tenho, porque depois que se perde, não adianta muito ficar chorando. Me refiro a tudo, desde o ato de conseguir caminhar sozinha ao fato de ter pessoas maravilhosas ao meu lado. 
Nossa...esse texto já tá muito grande...e metade dos leitores já deve ter desistido de ler. Aprender a falar 
demais não aprendi com a EM não...foi com a família mesmo...
Resumindo tudo, talvez a EM tenha me ensinado que nem tudo é o que parece ser, que sempre há uma forma diferente de ver as coisas, e que, quando a gente se abre para essas outras visões, a gente pode se surpreender muito de forma positiva. 
Boa reunião aos que forem...
Até mais!
Bjs 

10 comentários:

  1. Bruna

    Que poost lindo!! Até roubei uma frase tua, aliás comentávamos aqui em casa que ninguém se espante quando tu lançar um livro, pensa nessa idéia se é q tu já não pensou!!! Realmente, a EM nos ensina tantas coisas, além de ter paciencia, acho q estou mais humana, a gente acaba se sensibilizando mais com o que acontece, dando maior atenção... Isso p mim se faz mto presente a cada dia e como vc disse não é ruim, afinal de alguma forma o q demoraríamos anos p aprender ou talvez até nem aprendessemos, agora com a EM se acelera, acho q de alguma forma precisava mesmo, nem q fosse pela dor, aprender essas coisas.

    Bjos, Ketty

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  2. Olá Bruna, realmente é uma experiência única....e como diz o meu médico, não compare o que você tem/teve, com nenhum paciente em EM...pois as histórias são únicas, são do indivíduo.
    E como eu já escrevi aqui algumas vezes...não consigo ter a dimensão da EM em minha vida, realmente eu não sou só EM. Eu tenho tantas habilidades e tanto trabalho diariamente, que só lembro que tenho EM quando vou tomar a medicação. Fora isto, sou tão normal, quanto qualquer pessoa perto de mim. E não sinto diferença nenhuma entre e eu e qualquer ser humano dito, "normal".
    Bjss e felicidades!!!
    Cristina - MG

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  3. Bruna teus textos incrivelmente me falam á alma, minha EM já me fez refletir em tudo isso, levei uns tombos feios por causa dela, mas também me ergui das cinzas devido a ela, um misto de sentimentos extremos que fizeram de mim o que sou, é louco mas real, não acho legal ter EM, mas é o que tenho, não sei avaliar o saldo de tudo isso, mas procuro viver meu máximo, e sendo assim não sei ser mais ou menos em nada, tiro de cada minuto toda a intensidade que posso, e deixo o sofrimento para quando ele vier.
    bjs e obrigada pela dica do Vitor, adorei!!!

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  4. Olá Bruna,
    Acredito que aprendi com a EM a ter: esperança, um pouco de paciência, mas apenas em algumas circunstâncias uma vez que, na maioria das vezes, a paciência me angustia e me faz sentir presa, amordaçada!!!
    Também só lembro da EM quando tenho que tomar a medicação e é muito bom assim, pois nós não podemos viver apenas a EM, afinal temos um mundo para conquistar...
    Abraços,
    Débora Miranda

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  5. OI Bruninha!!!
    Adorei o post...

    Aprendi muitas coisas com a EM, principalmente a AGRADECER TODOS OS DIAS A DEUS POR ESTAR VIVA.

    "A pergunta não é por que aconteceu isso comigo, mas sim para que esta acontecendo isso comigo? Daqui a um tempo acho que encontrarei a resposta."

    Uma semana abençoada e beijos com carinho,
    da Neyra.


    PS.: Eu também não pude ir à reunião da AGAPEM.
    Quem sabe na próxima.

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  6. oi Bruna, estou acompanhando seu blog desde que descobri que estou com EM...a 1 mês +/-... estou gostando muito! Como ainda é recente e só vou começar a medicação terça, ainda não sei bem o que eu já aprendi. A primeira coisa é nunca mais dizer aos meu filhos que vou "surtar" se eles não pararem de bagunçar ou brigar(tenho 2 meninos um de quase 3 anos e um de 5 anos e meio),rsrsrs, mas na verdade sei já a lista do que tenho que aprender:
    a não ter medo
    a não ser anciosa
    a poder depender das pessoas
    ser mais otimista
    ter mais fé

    essas coisas por incrivel que pareça, eu achava que já havia aprendido, mas descobri com a EM que não.
    não sei se é assim com todos, mas me sinto estranha, as vezes quero esquecer, as vezes quero chorar, as vezes penso que é "pegadinha do malandro", e outas "ah! não é nada de mais, hoje a medicina está tão avançada"
    uma mistura de sentimentos...
    obrigada pelo seu blog, nunca pare, por favor!!
    Carla

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  7. Que bom né gente, que todos aprendemos alguma coisinha com essa EM...heheheeh
    E Carla, tudo que tu estás sentindo é absolutamente normal. Sentir medo não é errado não, sinto até hoje. Acho que é humano mesmo.
    Ainda hoje tem dias que acho que é pegadinha do malandro...hehehe, ou seja, não te sintas sozinha nesse barco.
    Bjs

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  8. A EM me fez amadurecer, mas ainda preciso crescer mais... Tem vezes que aplico a injeção pensando que não tenho nada, só tenho que tomar remédio. Mas, quando fico muito cansada, lembro da EM. A única coisa que posso dizer que aprendi com a EM é tentar fazer o que posso hoje, amanhã pode ser que eu não possa.

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  9. Oi Bruna,

    Seus textos como sempre tocando a gente no pontinho mais sensível. Pode ter certeza q quem lê seu blog realmente se interessa pelo q vc escreve e leu tudinho até o fim com maior prazer, pelo menos cmg foi assim. Já disse isso por aqui e sou fua fã por vc sempre escrever algo q a gente intimamente ta precisando ler.
    Sobre o tema do post, estava falando com a terapeuta essa semana exatamente sobre isso, o q é q a EM tinha trazido de aprendizado na minha vida, e uma das coisas que eu consigo enxergar como muita clareza, embora tenha EM a pouco tempo é exatamente a questão da gente só saber da força q a gente tem quando se ve numa situação q nos mostra a nossa força interior, e nisso a EM com certeza me fez acreditar, na força que existe dentro de mim e em como o amor das pessoas ao nosso redor alimenta essa força.

    Fica com deus!

    bjao

    Ivna - Recife PE

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  10. Olá a todos,
    Uma amiga contou-me que tem EM. Na verdade bateu-me muito forte já que não contava que alguém com tanta vida para dar e dar, com tanta garra ao acordar pudesse ter tal doença.
    Verdade é que algo a fazia ter tal sorriso pela manhã. Verdade é que até eu estou a aprender convosco. Tudo o que escreveram eu já pensava dessa forma: as lentes, os olhares diferentes, perspectivas diferentes, acontecimentos negativos têm sempre algo positivo para retirar, etc etc...
    Verdade é que só soube o que era a doença após ler sobre o assunto...
    O que digo é que a vida é que nos ensina essas coisas todas de formas diferentes. Felizmente para mim tenho aprendido com a infelicidade dos outros mas respeito e não ignoro os problemas que os outros vão tendo e tento retirar sempre o melhor de tudo.
    Penso que me vão perceber, mas temos de ser oportunistas e aproveitar o melhor que a vida nos proporciona apesar de todos os males que ela possa distribuir por nós.

    Um grande abraço a todos e gostei imenso de ler os textos e comentarios.

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